Capítulo 22

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O segundo paciente dessa manhã acaba de chegar com sua mãe.

– Olá senhorita Stefany, olá Billy. Fiquem à vontade – Cumprimento o paciente e a mãe dele, que entram em minha sala. Fecho a porta atrás deles.
– Olá senhorita – Stefany senta na cadeira à minha frente e Billy faz o mesmo. Peço que a mãe me dê informações sobre o caso de seu filho, que não mostra ser uma criança agitada. É a primeira vez que estou consultando ele.

– Talvez Billy possa estar com alguma alergia e isso esteja fazendo ele ficar diariamente meio "enjoadinho". – A mulher me escuta atentamente. – E sobre o fato da agitação dele, é normal isso com crianças nessa faixa etária. Então ele vai acabar se machucando bastante, como você mesma disse né, que ele tem até algumas marcas e arranhões.

Calma. Eu já escutei esse discurso antes…

A mulher fala de uma forma apressada, grossa e nervosa. Parecia não ter paciência com nada e estava sempre reclamando da maneira que seu filho age.

– Billy, por favor, pode se sentar naquela cama ali? – Aponto a cama. Ele desce da cadeira e eu o ajudo a sentar. Pego meu estetoscópio e antes mesmo de colocar em seu peito, olho de relance para o lado e percebo que a mãe estava olhando para nós. Merda, terei que ser discreta.
– Respire fundo, solte – Pedi isso três vezes enquanto mudava as posições do estetoscópio. Coloco agora o objeto em suas costas, me virando na frente da mulher e atrapalhando sua visão.
– Respire fundo – Peço e lentamente levando a blusa do garoto.

Meu coração congela, há marcas de chicotadas, algumas roxas e outras cicatrizadas. Céus… mas que mulher filha da

– A respiração dele está acelerada demais, você pode esperar um pouco aqui Billy? Irei falar com a cardiologista – Não consigo olhar para essa mulher. O olhar do pequeno é solitário. Parece querer dizer algo. Meu coração está acelerado, mesmo que eu já tenha visto isso mais vezes, já tenha passado por isso antes, ainda é como se fosse a primeira vez.

Saio da sala fingindo tranquilidade e ando em passos rápidos atrás de Tee. Passo pelo balcão e chamo Camilly, a recepcionista Brasileira.

– Camilly, por favor, ligue para a polícia, mais um caso e também para algum número de emergência que essa mulher tenha deixado na fixa, para vim buscar a criança – Não precisei especificar porque a mulher entendeu na mesma hora, já pegando o telefone e digitando o número da polícia. – O nome dela é Stefany e o filho Billy. – Dou a última informação e volto à procura de Tee, que além de pediatra também é cardiologista, por isso inventei aquilo. Avisto minha amiga conversando com o médico e me aproximo.

– Licença, eu posso falar com você? – Olho desesperada para Tee – Temos mais uma denúncia – Rapidamente ela entende.
– Ah merda… Okay vamos lá – Pegou em meu braço – Nos vemos depois – Disse ao médico que entendeu também o motivo pelo qual estou a chamando. Todos os médicos daqui sabem.

Voltamos às pressas para a sala e agora minha amiga estava fazendo perguntas para termos mais tempo até a polícia chegar. Os minutos se passaram e enquanto eu estava sentada em minha mesa meus pés batiam sem parar, me sinto ansiosa, ao ponto de explodir. Olho para Billy que está olhando para o chão, pensando. Percebo agora uma marca de queimadura abaixo de seu braço, não muito grande porém consegui ver.

Ouço três batidas na porta e me levanto sobre o olhar de Stefany. Abro a porta vagarosamente e vejo dois policiais já conhecidos por mim.

Percebo que há olhares de outros pacientes por fora e engulo seco.

Vagarosamente abro a porta e a mulher se levanta assustada. Como todos os outros já fizeram.

– Recebemos uma denúncia de violência infantil contra a senhorita, nos acompanhe – A mulher tenta sair por cima, dizendo que nada fez, porém não convenceu os policiais. Antes mesmo que Billy perceba o que está acontecendo o tiro imediatamente da sala alegando que tinha um presente para comprar pra ele.

Dois Amores - MonsamOnde histórias criam vida. Descubra agora