Meio Sangue- Missão de resgate

Fim do primeiro ato.

"Não espere por líderes; faça você mesmo, pessoa por pessoa.''                                                                                         

                                                                                             – Madre Teresa de Calcutá.

[Valentina]

Não consegui dormir muito, apenas o suficiente para ''descansar os olhos'' e não enlouquecer qualquer hora. Pedi para que Nico colocasse o seu despertador para tocar assim que desse quatro da manhã, não ficaria brava se ele negasse, afinal, quem concordaria em ser acordado às quatro da manhã? Imaginei que fosse me xingar, ou pelo menos rir da minha cara mas ele fez exatamente o que eu pedi e ainda foi ele mesmo me acordar quando eu não consegui. Ok que ele parecia um zumbi, eram quatro da manhã. Agradeci internamente por ter um colega de quarto tão bom, ele me sacudiu calmamente e depois que acordei se rastejou de volta para debaixo das cobertas. Se fosse no onze só teriam me acordado a base de água gelada minutos antes do café da manhã.

Eu fiz questão de acordar naquele horário pois era o horário combinado para Lize e sua equipe partirem em missão. Os esperei pacientemente na varanda do meu chalé até os avistarem saindo, de mochila e tudo, com todos os seus irmãos e irmãs à sua volta. Alguns choravam, outros não queriam deixar eles ir, estranhei aquela cena ser entre os campistas mais velhos e não entre as crianças como seria o normal, mas não comentei. Esperei que se despedissem de cada um sem uma única reclamação, até mesmo Vanessa abraçou Liza com toda a força, quase se recusando a soltar.

Senti meu coração acelerar, tinha muita gente, todos irmãos e irmãs, família. Quem era eu ali? Não fazia mais parte daquilo então o que eu poderia ir fazer ali no meio deles? Ganhar um abraço da Liza? Era por minha causa que ela estava indo embora, eu poderia ser tão cara de pau assim? Se eu não tomasse cuidado era capaz até deles me jogarem pedras. 

A observei de longe se despedir com sorrisos e abraços. Ela estava muito bem, poderia me contentar com aquilo.

Ia voltando para dentro até escutar a sua voz:

- Valen! - Liza correu até estar frente a frente comigo, seus amigos a esperavam um tanto distantes do treze.

- Ah, Liza! E aí. - Cocei a nuca, eu nem tinha planejado o que dizer.

- Não ia me ver?

- Eu... sou péssima com despedidas. Completamente. Nunca precisei me despedir de verdade antes, então...

E lá estava eu começando mais um monólogo, eu definitivamente tinha que tomar vergonha e controlar aquilo. Ninguém gosta de uma tagarela.

Interrompendo aquele meu falatório sem sentido Liza me abraça, me apertando forte contra si.

- É assim que se faz. - Apertou mais. 

Os cabelos de Liza eram bem cacheados, costumavam ficar soltos a maior parte do tempo já que ela poderia voltar para arrumá-lo a qualquer hora em seu chalé, mas em missão mundo afora não era tão fácil assim, não teria tempo de cuidar do cabelo e tudo o que precisava seria apenas peso extra. Era o que ela tinha me explicado um dos meus dias quando eu ainda estava no onze, enquanto cuidava dos próprios cachos e me ajudava com aquela minha bagunça rebelde na cabeça. Lembrei disso ali pois pela primeira a vi com os cachos relativamente presos. Tinham sido envolvidos uns dos outros até formarem dezenas e mais dezenas de tranças finas e muito bem arrumadas. Fora isso ela ainda usava a camiseta uniforme do acampamento com um casaco rosa e uma calça jeans escura, a espada esta presa ao seu quadril e sua mochila parecia bem cheia.