A filha de Ares se revela

8 1 35
                                    


"Todos podem ver as táticas de minhas conquistas, mas ninguém consegui discernir a estratégia que gerou as vitórias."

                          - Sun Tzu








[Emma]

Aquilo era algum tipo de piada?

Estávamos voando a horas, estava mortalmente exausta mas não consegui pregar os olhos, não com aqueles dois ali.

Estava me remoendo por dentro, queria saber como os outros estavam, se estavam bem. Pareciam tão acabados quanto eu na última vez que os vi. Em um desejo egoísta eu queria que viessem atrás de mim, mas acima disso implorava mentalmente que tivessem se cuidado em primeiro lugar. Eu estava com raiva de Amanda pelas coisas que ela tinha dito para Yanne naquela briga falsa que em algum momento acabou virando uma de verdade. Yanne também não foi nada gentil, mas acho que pelo contexto de nosso histórico juntas Amanda era a pior dali. Teria ido tirar satisfação com elas se o plano tivesse dado certo, mas ali estava eu, confortável naquele banco macio da carruagem de Luccas sendo sequestrada por dois monstros psicopatas.

Olhei para baixo. Não, sem chance, não dava para pular, morreria na certa. Eu até aceitaria quebrar um braço ou uma perna se isso me fizesse livre deles, mas só se fosse de forma permanente, mas estou falando de dezenas (se não centenas) de quilômetros, um ou dois ossos quebrados seriam o de menos, seria uma passagem só de ida para a morte.

- Nem pense nisso, querida. - Disse a mulher, guiando os pégasos. - Você não vai escapar.

- Você nem ao menos me amarrou. Acho que não é assim que um sequestro funciona, se você quer manter o seu prisioneiro. 

Um risada seca e melodiosa saiu por sua boca, naquela situação, depois de tudo parecia mais o chamado de uma morte horrível.

- Você não vai escapar. - Repetiu. - Você não é páreo para nós, presa ou solta. Já testamos isso.

Meu pescoço começou a doer, como um lembrete de que o que ela dizia era a verdade nua e crua. Dês que me soltou aquela região tinha ficado dolorida, não tinha nenhuma superfície reflexiva ali mas eu sabia que tinha ficado uma marca bem feia. Eu realmente não queria um espelho ali agora. 

Manti minha expressão dura, não demonstraria estar pior do que eu queria que soubessem. Continuaria firme aja o que houver. Sempre fiz isso onde quer que eu fosse. Nas escolas que era transferida, nos orfanatos e lares adotivos que era mandada, nas ruas, jamais demonstraria fraqueza se não seria esmagada, aquela era a primeira regra que aprendi estando sozinha, antes mesmo de conhecer o Vinni. Até mesmo no acampamento, naquele caça bandeira desastroso e todo o tempo depois que fui reclamada, me recusei à abaixar a cabeça para todos aqueles olhares estranhos e incomodados que nasciam na minha presença, onde quer que eu fosse tirando meu chalé. Nada de relaxar até estar segura. Nada de sorisos ou cara de dor, não importa o quão animada eu esteja ou quanta dor esteja sentindo. Nunca. jamais.

Em algum momento comecei a me beliscar, a morder os lábios e travar a unha na pele. A dor me ajudaria a me manter acordada. Não dormiria ali, não podia. Tinha noção que aqueles dois precisavam de mim com vida, e de preferência inteira mas mesmo assim não conseguia nem ao menos me acomodar naqueles bancos.

Na primeira oportunidade eu daria no pé, era uma promessa que tinha feito à mim mesma. 

Durante aquelas horas eu tateei meu corpo várias vezes, o mais discreta possível. Eles não tinham me revistado, consegui esconder minha adaga nas minhas costas por de baixo das roupas quando aquela escrota falava em grego com o meu grupo, super vitoriosa. Eles não pareceram perceber e nem buscaram por truques. Então eu ainda estava armada, aquilo era bom, não estava totalmente indefesa. O problema é que um grupo de sete não conseguiu dar conta deles, como eu, sozinha, machucada e exausta conseguiria? 

Meio Sangue- Missão de resgateOnde histórias criam vida. Descubra agora