Uma coruja me pressiona para impedir a guerra entre um corvo e uma águia.

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"As palavras de amizade e conforto podem ser curtas, sucintas, mas o eco é infindável."

- Madre Teresa de Calcutá












[Emma)

Eu não consegui dormir, e juro que tentei. Me revirei naquela cama mais vezes do que consegui contar, mas nada. Era meio decepcionante, queria estar naquele palácio negro comum jardim lindo de novo. Ou aquele museu que antes era onde a família real ficava, cheio de coisas antigas e familiares. Queria conversar com aqueles dois de novo, querendo ou não eles que salvaram minhas noites de sono. Era relaxante.

Mas ao invés disso ali estava eu, olhando para aquele teto azul-marinho até meus olhos estranharam a cor. Não conseguia tirar aquela noite da cabeça. Aqueles homens nos cercando, aquela sensação, o corpo daquele cara no chão. Não que eu me sentisse culpada, não era isso, lembrava muito bem o que eles pretendiam fazer. O que me pesava era o que tinha vindo depois, não sabia porquê tinha exagerado tanto. O pior foi os olhares dos meus amigos sobre mim, aquele medo deles, como se não me reconhecessem. Tinha doído um pouco. Mas naquele momento... eu não sei o que é que me deu. Quando aquele casa se aproximou, quando vi aquela mão grande chegando cada vez mais perto todo o meu corpo reagiu instivamente, todas as células do meu corpo entraram em pânico, eu só sabia que tinha que o manter longe, a todo custo.

Tinha sido rápido demais, uma imagem borrada aparecera em minha cabeça, como um filme antigo em um DVD defeituoso. Era um homem sem rosto se aproximando de mim, estendendo aquela mão enorme. Eu só conseguia ver seu sorriso cruel e malicioso e seus olhos. Deus, aqueles olhos. Tinham um brilho tão cruel e assustado, cada pelo do meu corpo se desesperava com eles sobre mim. Era a imagem mais fiel de como eu imaginava um demônio. Eu era tão pequena, ele me olhava de cima como se eu fosse um gatinho assustado. Lembrava muito bem da sensação vivída de pânico e desespero, eu tinha que fugir.

Não era a primeira vez que algo do tipo acontecia, qualquer lembrança de antes dos meus oito anos era completamente borrada e escura, eu nunca entendi muito bem o motivo. Carmem uma vez me disse que isso acontecia porque meu cérebro estava tentando me proteger. Bloqueando as memórias traumáticas. Isso de certa forma me assustava, afinal, o que de tão ruim poderia ter acontecido para meu próprio cérebro preferir se enganar desse jeito à continuar com toda a minha infância vivida e clara? Não era uma coisa que eu gostava de pensar, então só ignorava, mas quando coisas daquele tipo acontecia ficava difícil. Penso em minhas memórias como uma mansão, com várias salas e placas de referência, e na que deveria ter os meus primeiros oito anos estava trancada e com várias molduras velhas e empoeiradas, algumas com alguma foto amarelo da e estragada onde não dava para tirar nenhuma informação clara e outras completamente vazias. Às vezes eu queria ter a chave, outras preferia deixar como está. Não sabia mais.

Olhei para o anel em meu dedo, o chique. Ele era lindo, uma base prateada e cheia de desenhos estranhos, em cima uma pequena pedra preciosa, tão negra quando o meu chalé. Não tive como não me lembrar de Nico e Hazel. Vez ou outra queria ter um meio de contatar eles, contar das coisas que fizemos, como voar em um carro voador de ouro, que fomos ao museu do ar e ele era incrível (esquece o que aconteceu depois), que consegui bater em Ares, o deus da guerra (essa eu ria, mesmo que tenha levado um belo soco depois), que estava conseguindo usar meus odores vez ou outra e consegui salvar meus amigos duas vezes com eles, queria falar sobre minhas amigas peludas, sobre meus amigos, sobre o estranho gosto de Yanne para comida, sobre como cortei fora a calda do Mantícora e ainda montei nele (durou um minuto no máximo, mas mesmo assim.) Como será que eles reagiriam? Queria que se sentissem orgulhosos, os considerava meus amigos afinal, amigos mais velhos.

Falando desse jeito pareço ainda mais horrível do que já sou.

Me revirei naquela cama como nunca, estava cansada mas também estava hiperativa, odiava esses momentos. Normalmente sou mais na minha, mas claro que ela tem que me lembrar que existe, e normalmente isso acontece quando eu quero dormir mas tenho uma vontade louca de subir pela parede e gritar que sou uma aranha. Essa era uma das vezes.

Meio Sangue- Missão de resgateOnde histórias criam vida. Descubra agora