"Quem não sabe se controlar é tão sem defesa quanto uma cidade sem muralhas."
[Vanessa]
O dia já estava estranho antes daquele monstro nos atacar, e acho que eu sou a pessoa menos indicada para explicar, mas a Emma e os outros disseram que eu tinha que tomar a frente em algum momento desta história, então aqui estou eu. Eu não concordei com isso, que fique bem claro.
Já acordei naquela manhã com o Luccas arrumando a cozinha. Não seria nada demais se a mesa não estivesse no chão reduzida a pedaços, o que parecia ser leite com chocolate no chão e uma xícara verde quebrada. Alguma coisa tinha rolado.
- Eu vou querer saber? - me encostei na porta.
- Fomos atacados essa madrugada. - ele carregou um pedaço da mesa e o colocou amontoado em um canto junto com vários outros. - Acredita que a Amanda que cuidou disso sozinha?
Eu não duvidava, já tinha a visto lutar, ela era muito boa.
- E como ela está?
- Ela está bem, mas foi descansar.
- Monstros atacando em plena madrugada... - chutei outra parte da mesa para ele, que a jogou de junto dos outros. - É melhor falarmos sobre isso.
- Nem me fale. - Ele se espreguiçou, deveria estar ali à um tempo já. - Vamos acordar os outros?
Mesmo muito a contra gosto comecei a ajudar ele, era trabalho demais mesmo para um semideus em treinamento.
- Não vamos acordar os outros só para isso, ninguém quer problemas de manhã cedo.
- É, você tem um ponto.
- Eu sempre tenho.
Ele jogou um pequeno pedaço da xícara quebrada em mim, divertido.
- Convencida.
Joguei outra nele.
- Realista.
Dês que roubamos o barco eu estava constantemente cansada. Aquele barco era movido manualmente da cabine de controle, mas para poupar este esforço estava fazendo com que as ondas o levassem por mim. O tempo todo, todo dia, era cansativo e repugnante. Mas se isso nos daria mais conforto e velocidade valeria a pena, era uma vantagem que não poderíamos desperdiçar. Mesmo que eu odiasse isso, com todas as minhas forças.
Limpando aquele lugar percebi uma coisa, na mesa destruída, em seus vários pedaços espalhados haviam linhas estranhas e desconexas. Não sabia do que eram feitas, parecia que alguém tinha desenhado aleatoriamente com chocolate e leite e de alguma forma o líquido se transformou em algo a mais, como lápis de cor ou qualquer coisa do tipo. Não me lembro daquelas coisas, estavam ali antes?
Eu não tinha um pressentimento bom sobre aquilo. O Luccas não pareceu ter notado, deixei por isso mesmo. Era a melhor opção?
Droga, eu não sabia. Talvez devesse perguntar à Emma, mas ela ainda estava se recuperando, faria mal a ela? Xinguei mentalmente a situação, era um saco quando a líder não estava bem e não tinha nenhum substituto.
Luccas fazia o café da manhã com muita alegria e músicas de acampamento, quanto a mim, me encarreguei de chamar os outros. Scoot foi sem dúvidas o mais difícil de acordar, parecia que a alma daquele garoto se transportava para outro planeta depois que dormia. Bom, deve ser porque é filho do deus do sono. Fora esse trabalho, só teve uma coisa estranha: o quarto de Amanda. Estava com a porta completamente aberta e suas coisas reviradas, suas roupas espalhadas pela cama como uma garota bagunceira - o quê, definitivamente, ela não era -, o que mais me intrigava era seu vestido novo, o qual ela amou tanto e não tirou no dia anterior por nada, agora estava ali, jogado no chão sem mais e nem menos, como um pano de chão velho e sem importância. Era no mínimo estranho, não parecia ser do feitio dela. O cômodo estava vazio, e o banheiro, ocupado. O som do chuveiro era audível se colocasse a orelha na porta.
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Meio Sangue- Missão de resgate
AventuraDês que me lembro sempre quis que a minha vida fosse diferente. Longe das ruas, longe do perigo, longe da fome e principalmente longe da tristeza. Mas não foi isso que aconteceu. No lugar de uma vida perfeita (ou minimamente estável) o que eu conseg...