17 de Junho de 1990 (Domingo)

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Regressei ao centro desportivo de Trigoria à uma da tarde. Fui direta ao meu quarto para tomar um duche, mudar de roupa, arrumar a minha bagagem e almoçar. Esperava que a cozinha não tivesse fechado, entretanto, pois iria pedir que me servissem uma refeição. Não queria atrapalhar ninguém. Comia no quarto e depois descansava. Talvez dormir um pouco para estar fresca à noite. Conferi que o jogo da tarde não me interessava, e só me estava a apetecer rever Diego e os outros no jantar.

Consegui fazer tudo o que queria e senti-me muito melhor quando, por volta das cinco da tarde, saí. Estava um calor infernal, a climatização só existia nos quartos, os corredores eram autênticas fornalhas. Vestia roupa leve e prática, mas mesmo assim fiquei imediatamente acalorada. Teria de tomar um segundo duche antes de me deitar.

Encontrei Diego junto aos campos de treinos. Conversava no meio de um grupo, gesticulava e ria-se, congregava as atenções. Calçava chinelos e apercebi-me da ligadura volumosa que lhe atava o tornozelo esquerdo. A lesão, pelos vistos, não dava tréguas. Apercebeu-se da minha presença. Fez um gesto aos outros e aproximou-se de mim. Inclinei-me e deixei-lhe um beijo estalado na bochecha. A sua reação foi agarrar-me e prender-me num abraço que me roubou o fôlego, que alimentou desmesuradamente a minha felicidade.

– Senti a tua falta, niña – confessou-me ao ouvido.

– Que exagero! Só estive fora um dia.

– Queria abraçar-te mais vezes, mas não posso... não. Se te toco, acabarei por cometer uma loucura e não seria justo para ninguém.

– O quê?

Soltou-me, de repente. Atarantada, deixei-me manobrar por ele, que me segurou nos dedos e fez-me girar numa pirueta, como num passe de dança. De seguida, impôs uma distância segura entre nós. Penteei a franja com a mão.

– Fizeste boa viagem até Verona?

– Sim. Correu tudo bem – respondi. – Aqui está mais calor do que em Verona. A diferença de temperatura foi quase um choque. Acho que me desabituei rapidamente. É uma estupidez, não achas?

– Viste a tal varanda do Romeu e da Julieta?

– Não, não vi. Não tive tempo de passear pela cidade. Só estive com os meus amigos belgas. Muito obrigada, Diego – voltei a agradecer, sorrindo-lhe. – O senhor Courtois tinha arranjado tudo e aproveitei muito bem todos os minutos. Só perdi tempo com a viagem.

– Quem é esse senhor Cur... Cur-qualquer-coisa?

– É o homem das relações públicas da Bélgica. – Franzi ligeiramente a testa, compreendendo que não tinha sido ele que tratara diretamente daquele assunto. Naquela fase, não importava.

– Ah... está bem. Não foste almoçar...

Estremeci.

– Almocei, sim, mas no quarto. Cheguei e estava a morrer por um banho. Também quis descansar e depois de comer fiz uma pequena sesta. Ficaste aborrecido?

– Não... Estás de volta e está tudo bem.

– Achavas que eu não iria regressar? – admirei-me.

– Por momentos tive dúvidas... mandei perguntar se tinhas passado pela portaria e como me confirmaram que sim, que estavas em Trigoria, fiquei mais descansado.

– Diego, achavas que eu não iria regressar? – voltei a perguntar, exagerando a minha admiração.

– Sim, achava! – admitiu, contrariado, mastigando as palavras.

– Oh... e onde podia eu ficar, se não fosse aqui?

– Não estiveste com os teus amigos belgas?

– Estive. Como te disse, o nosso reencontro foi todo cronometrado ao milímetro pelo senhor Courtois. Mesmo que eu fizesse a sugestão de poder passar a noite com eles, no seu centro de estágio, não seria possível. O senhor Courtois não me iria deixar. Não havia qualquer perigo de eu me perder.

O Outro Lado do VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora