Capítulo 17

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Não conseguia dormia, então fui para a sacada ler meu livro. A voz da minha mãe contando sobre o retorno de Duke não saía da minha cabeça, e tudo o que consigo pensar é como será quando o reencontrar. Talvez ele não me reconheça, já que cresci alguns centímetros desde que ele foi para a Itália, e pode ser que eu também não o reconheça.

A luz do quarto de Dylan se acende. Em poucos minutos ele aparece na sua sacada, mas não vem para a minha. Fica sentado na cadeira de palha, desenhando no seu bloco. Ele sempre conta que quando está estressado ou entediado, gosta de passar horas desenhando, e eu sempre quis ver seus desenhos. Sempre peço para vê-los, mas acho que Dylan não tem tanta confiança assim nas coisas que faz.

— Não consegue dormir? — Grita ele.

Balanço a cabeça e levanto o meu livro, para mostrar que estou lendo.

Dylan continua com seus rabiscos por mais algum tempo, depois fecha o bloco. Ele entra e volta em poucos minutos, pulando da sua sacada e vindo para a minha, depois de eu achar que não viria.

— O que está lendo? — Pergunta ele.

— Um romance.

— Você e seus romances.

— Vai dizer que é coisa de velha?

Ele ri.

— Não é coisa de velha, mas é cringe. Precisa ler coisas mais... atrativas.

— Tipo o quê?

— Percy Jackson e Os Olimpianos.

— Fantasioso demais.

— E os romances que você lê não são fantasiosos?

— Não tanto quanto um garoto que possui uma gama de poderes e diz ser filho de Poseidon.

Ele se senta ao meu lado, colocando o braço atrás de mim. Sinto seu cheiro, e posso jurar que ele havia acabado de tomar banho. Está vestindo outra camisa, e outra bermuda.

— Leia um trecho para mim. — Pede ele.

— Em voz alta?

— O que você acha?

— Dylan, não vou ler em voz alta para você.

— Por quê?

— Porque você sabe ler! Leia comigo, é melhor.

Ele bufa.

— O que custa ler em voz alta para mim? É só um trecho, um bem pequeno.

— "A vida era passar o tempo juntos, era ter tempo para caminhar juntos de mãos dadas, conversando calmamente enquanto viam o sol se pôr". Pronto. — Digo.

— Interessante. Qual é o livro?

— O Milagre, de Nicholas Spark.

— É um bom trecho.

— Escolhi com cuidado, para você não dizer que é cringe.

— Escolheu a dedo porque representa nós dois, Saddie.

Sinto meu rosto pegar fogo.

Como ele pode se reconhecer em um simples trecho do livro?

— Não é nada disso.

— Se não é, por que escolheu algo que nos serve perfeitamente como exemplo?

— Acha que estamos sem tempo para ver o pôr-do-sol? Ainda estou aqui, Dylan.

— Mas logo voltará para casa e... reencontrará seu primeiro amor, não é?

Eu o encaro.

— Está mesmo pensando nisso?

— Você não está?

— Estou tentando não pensar.

— Por isso não consegue dormir?

— Por que está sendo tão irritante?

— Porque estou com ciúmes, não percebe?

Eu me calo. Não consigo continuar a conversa, porque Dylan tinha todos os argumentos para me manter calada. O que eu poderia dizer depois disso?

Ele encosta sua cabeça em meu ombro, e meu coração fica bate de uma maneira que não reconheço. Por que está batendo assim, tão rapidamente? É por Dylan?

— Sei que não nos conhecemos por muito tempo, Saddie. É o que você sempre faz questão de dizer toda vez que demonstro algum interesse. Ratifico que quero te conhecer melhor, se você.

— Mesmo com a minha vida tão bagunçada?

— Mesmo com a sua vida tão bagunçada, porque a minha também não tá lá essas coisas. Além disso, sua mãe gosta de mim. Ela sabe que sou bonito, inteligente, o melhor partido para a filha dela.

Reviro os olhos.

— Você é tão convencido!

— Só falei a verdade, você que não quer aceitar os fatos.

— Dá para conversar sério?

— Já estou falando sério.

— Você vai para casa também. Nós só nos encontraremos aqui, provavelmente, certo? Não acha que deveria reconsiderar?

Dylan se vira para mim e olha para dentro dos meus olhos. Sinto meu coração bater tão rapidamente que meu ar se perde nos meus pulmões.

— Eu já disse que vou até você. Não adianta me testar, Saddie.

— Não estou te testando.

— Só me dê uma chance...

— Você é muito teimoso.

— Você pode me rejeitar. Até agora não fez isso, então tenho alguma chance. Estou errado?

— Pare com isso... Proponho conversarmos sério. Por que se interessa por mim? O que viu em mim?

— Nunca falei tão sério na minha vida como agora. Você é que não está me levando a sério. — Suspira fundo e se levanta. — Vou para casa. Preciso buscar meu irmão cedo no aeroporto.

— Pensei que ele viria em poucos dias.

— Eu também. Nós nos falamos depois que jantei aqui, e disse que já estava a caminho.

— Está bem. Depois nos falamos.

— Boa noite, Deedee.

— Deedee? Como assim? Inventou um apelido para mim, Dylan?

— Não posso?

— Você é impossível!

— Até mais, Deedee!

Ele se vira e se aproxima da grade da sacada. Dá um último sorriso de provocação e pula. Inclino-me para conferir se ele está bem, se não se machucou, mas ele é mais rápido, corre para a sua casa e sobe na sua sacada.

— Você daria um belo Homem-Aranha, Dylan.

Ele sorri e acena, entrando no quarto e fechando a porta em seguida.

Uma das coisas que gosto em Dylan é a sua capacidade inabalável de fazer tudo parecer uma piada ou em algo engraçado. Ele tem o poder de me deixar relaxada quando estou tensa, e de me fazer acreditar que tudo ficará bem. Não nego que posso estar sentindo algo por ele, nem sou tão ingênua, a ponto de negar meus sentimentos, embora ainda sejam tão confusos. Concordo com ele, o fato de ser bonito e inteligente, não dá para negar algo assim. Dylan é realmente lindo, mas também é gentil e tem boa energia. Acho que isso tudo está me ajudando a atravessar esse momento tão tempestuoso da minha vida.

E para variar, minha mãe realmente gostou muito dele. Ficou um longo tempo ressaltando as qualidades de Dylan depois que ele saiu após o jantar.

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