Capítulo 10

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   Dylan está encostado no carro, com os braços cruzados e distraído com alguma coisa acontecendo ao redor. Ele não me nota de imediato, o que me dá tempo para observá-lo. Sinto meu coração bater diferente, de um jeito confuso, mas surpreendentemente animado. Estou animada por vê-lo? Por que sinto que estou traindo Duke, quando sequer tive algo com ele?

Os cabelos de Dylan dançam com o vento, enquanto seu rosto está tranquilo. Diferente da noite de outrora, que inspirava aflição e dor. Muita dor. Ele diz que não, mas algo me diz que ele não quero apenas ficar debaixo d'água. Para um nadador experiente como ele se apresentou, é sabido que é perigoso mergulhar no mar à noite, com as ondas instáveis e irregulares. Uma parte de mim não quer ir embora e deixá-lo sozinho, com medo de que ele volte para aquela solidão.

— O que faz aí na escada? Venha logo! — Ele diz, interrompendo minhas divagações.

Eu sorrio.

Vou até ele, que abre a porta para mim.

— Não sabia que você tinha carro. — Comento.

— É do meu pai, mas ele quase não o usa. Ed era quem mais dirigia esse, agora sobrou para mim.

— Não entendo nada de carro, mas é bonito.

Ele pega algo do porta luva.

— Vou precisar cobrir seus olhos. — Informa.

— Por que?

— Porque é surpresa, Saddie.

— Não querendo me levar para um asilo, não, né?

Ele ri.

— Deixe de ser medrosa. Vire-se.

Eu me viro de costas para ele, que cobre meus olhos com um lenço.

— Prometa que não vai tentar tirar isso.

— Prometo. Mas, para onde está me levando, Dylan?

— Se eu disser, qual a graça de vedar seus olhos?

Ele tem razão.

Ouço o som do carro sendo ligado, e sinto o movimento dele saindo do lugar. Sinto tudo. Sinto o cheiro de Dylan, uma colônia refrescante. Sinto o som dos grunhidos dele, e dos seus resmungos.

— Por que perguntou se eu estava te levando para um asilo?

— Porque vive dizendo que dou conselhos de velhos.

Ouço sua risada.

— Saddie, você é realmente única. Acho que nunca conheci alguém como você.

— Você também é... único. Tem um jeito próprio de se expressar, mas ao mesmo tempo, não sei quem é você.

— Eu já contei muito sobre mim, Saddie.

— É, eu sei. Mas quem é seu verdadeiro eu. É difícil saber qual das vozes na sua cabeça o representa.

— Não importa. Gosto de quem sou quando estou com você.

Meu coração bate acelerado, fora do ritmo. Por que estou me sentindo assim?

— Algum dia, você vai me contar o que ainda não me contou?

— Tipo o quê? O que você quer saber, Saddie?

— Não consigo pensar em nada agora... Quando eu souber, te pergunto.

— Certo.

Levamos aproximadamente quarenta minutos para chegar. Ele abre a porta do carro para mim e segura meu braço.

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