Capítulo 22

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  Como eu desconfiava, Ed é legal e se preocupa com Dylan. Mas, nunca imaginei as coisas pelas quais ele o irmão passaram. Imaginar que Dylan não quis mais viver, tentando dar um fim em tudo, me faz querer abraçá-lo e dizer que vai ficar tudo bem. No entanto, por algum motivo, ele não queria que eu soubesse, ou teria me contado.

Observo Dylan interagindo com os amigos, e percebo que ele não tira os olhos de mim, como se tivesse medo de me perder de vista.

Enquanto interagimos um com os outros, um sussurro começa a dançar nos cantos do ar. O vento parece se tornar mais insistente, carregando consigo um aroma fresco e terroso, que flutuava pelo ar. Olho para o céu e vejo as nuvens começando a se agrupar, formando delicados padrões de cinza-escuro, que gradualmente escondiam a lua e as estrelas.

Primeiro, os sons são discretos. Um leve farfalhar nas folhas das árvores, como se elas estivessem compartilhando segredos com a brisa do mar. O som de algumas gotas isoladas começa a se tornar protagonista da nossa atenção, deixando alguns eufóricos ou preocupados.

Conforme o tempo passa, os sons se intensificam. O ruído suave da chuva atingindo o mar agora se misturavam com o tamborilar na madeira da fogueira, que se apagava lentamente, criando uma sinfonia de sons que variava entre um leve toque e um som mais pronunciado, como se a chuva estivesse marcando um ritmo próprio.

Os trovões distantes começam a ecoar, trazendo consigo uma sensação de energia e antecipação. Cada estrondo parece anunciar a chegada iminente de uma tempestade mais forte, enquanto relâmpagos piscam timidamente no horizonte, como flashes de uma câmera escondida. Os sons da chuva se transformam em um coro poderoso, intercalado pelo ocasional rugido de trovão, que reverbera através do ar e da minha própria alma.

Agora, em pé, tentando me proteger debaixo de algumas árvores, sinto-me envolvida por essa sinfonia da natureza. Cada som parece contar uma história, desde o suave início até a crescente intensidade da chuva que se desenrola. Enquanto o céu se enche de nuvens escuras e assustadoras, e o mundo lá fora se transforma em tons de cinza, eu me sinto conectada a esse espetáculo sensorial, uma testemunha privilegiada da dança da chuva que, com sua melodia líquida, traz vida à terra sedenta.

Noto que Dylan me olha, e que quase todo mundo já tinha ido embora. Restando apenas ele e Ed, além de mim.

— Assustador, mas ao menos, muito bonito. — Comenta Ed, que ainda não largou sua lata de cerveja.

— Parece uma pintura viva. — Comentei sorrindo.

— Sei lá, só acho assustador mesmo. — Complementa Dylan, dando de ombros.

— Está tudo muito bonito, mas vou deixar os pombinhos admirando a chuva. — Ed se vira para mim— Saddie, foi um prazer conhecer você. Cuide do meu irmãozinho! — Dá uma piscadela.

Ed se afasta, indo para a sua casa que fica a alguns metros de onde estamos, deixando Dylan e eu sozinhos, debaixo de uma árvore majestosa e bastante folhada, que nos protege dos pingos grossos da chuva.

— Somos você e eu, Deedee.

— Pare de me chamar assim!

— Não gosta mesmo?

— É estranho, eu já disse.

Ele ri, como não se estivesse adorando me irritar.

— Venha!

Ele me puxa pela mão, me levando para a chuva.

— O que está fazendo? — Perguntei, irritada por estar me molhando.

— Precisa aproveitar as pequenas e simples coisas da vida, Deedee.

— Vou para casa. — Protesto.

— Ah, não vai, não!

Dylan me pega no colo, me colocando em seu ombro, enquanto corre pela areia tomando chuva. Luto para ele me soltar, mas seus braços fortes me seguram mais ainda, me fazendo desistir depois de perceber que estou literalmente encharcada pela chuva.

Ele me coloca no chão quando chegamos perto do píer, nos abrigando embaixo, embora não faça mais tanta diferença, já que estávamos bastante encharcados.

Enquanto tiro água do meu cabelo, torcendo algumas mexas grossas, Dylan me observa. Seu rosto está molhado, com pingos d'água escorrendo por toda a face. Seu olhar me estremece, como nunca havia acontecido antes.

— Por que está... me olhando assim? — Perguntei.

— Você está linda.

Como ele consegue dizer essas coisas sem deixar vacilar sequer um músculo, enquanto cada fibra do meu corpo se derrete?

Ele se aproxima, sem tirar os olhos dos meus, fazendo com meu coração bata rápido e minhas pernas falharem. É como se eu não tivesse mais controle sobre meu corpo. Não tivesse mais controle de nada mais.

Seu corpo está tão perto do meu que sinto seu hálito quente. Ele ofega, e me ofega junto.

— Dylan...

Ele me encara, analisando cada detalhe do meu rosto, e olha para a minha boca.

— Eu... queria, mas não vou te beijar. A menos que você peça. — Ele diz, sem tirar os olhos dos meus lábios.

— É melhor voltarmos... — Peço, antes que eu perca todo o meu juízo.

Dylan desvia os olhos e assente com a cabeça.

— Então precisamos correr. — Diz.

Ele pega minha mão e me arrasta para longe do píer, no meio da chuva que agora estava fina. Sua mão na minha faz com que cada célula do meu corpo o deseje, por mais que eu tente mudar meus pensamentos. É certo que Dylan mexe comigo de uma maneira que consigo lutar mais contra.

Chegamos na minha casa, e a chuva já parou, caindo apenas alguns pingos d'águas isolados. Subo na minha sacada com a ajuda de Dylan.

— Agora suba. — Ordeno.

Dou uma toalha seca para ele, que se seca, olhando para a vista da sacada. Continua caindo alguns relâmpagos no mar, que continua seu espetáculo depois da chuva.

— Acho que nunca presenciei nada assim antes. — Comenta ele.

— São coisas que as pessoas não costumam prestar atenção. Quando percebem, descobrem que é um show lindo da natureza.

Ele se vira para mim e me analisa, como se quisesse me decifrar.

— Por que está me olhando assim?

— Você é diferente de todas as garotas que eu conheço.

— Imagino que sejam muitas.

— E são. — Ele chega bem perto de mim — mas só uma consegue me deixar assim.

— Assim... como?

— Preciso mesmo dizer? — Sorri, de um jeito doce.

— Dylan, eu...

— Eu não vou te beijar, não se preocupe. A menos que você queira.

— Cale a boca e me beija.

Dylan arrega os olhos e se aproxima mais, segurando meu queixo com sua mão e levando sua boca para a mim. Sinto tudo, menos meus pés no chão. Meu coração bate rapidamente, e me entrego aos seus beijos, me convencendo de que não valia mais a pena resistir. 

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