Capítulo 28

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  Estava para fechar os olhos para dormir quando ouvi as notificações do meu celular. Eu o apanho e abri a tela. Várias notificações do meu perfil do Instagram. Acho que é a primeira vez que há mais de cinco num mesmo dia, e são no total de pelo menos trinta.

Abro o meu perfil e vejo dezenas de marcações. São todos da festa do Moa, e muitas fotos minhas ao lado de Duke, que também foi marcado. Também ganhei muitos seguidores, inclusive o próprio Duke.

Meu Deus!

Isso deve ser obra das influencers, concluí.

Em seguida, chega uma mensagem de Dylan.

"Vi que você está se divertindo bastante, Saddie!".

Por que me sinto culpada ao ler sua mensagem? Nem somos namorados, nunca definimos a nossa relação.

Quero respondê-lo, mas não sei o que dizer. Olho para tela com a mensagem aberta, com um aperto no coração. A verdade é que sinto a falta dele, muito mais do que sentia de Duke. Mas nunca soube o que pensar da nossa relação, e a presença de Duke não tem ajudado muito. Tenho ficado cada vez mais confusa.

Chega outra mensagem de Dylan.

"Eu iria para Pocomoke em breve, mas parece que você já está bem ocupada. Irei para Connecticut neste final de semana. Ed já voltou para a Marinha.

A gente se esbarra por aí, Saddie".

O que eu respondo? Eu deveria responder? Sinto meu coração disparar e o ar me faltar nos pulmões. Não quero me afastar dele, mas também não sei o que fazer.

Depois de revirar tanto na cama e não conseguir dormir, acabo descendo e vou para a cozinha. Preparo um chá de camomila, que minha mãe sempre diz que acalma. Sento-me na mesa e fico a divagar, distraindo-me com meus pensamentos. Nunca pensei que me depararia com um momento como esse. A minha vida era mais fácil quando existia apenas Duke.

— Não consegue dormir? — Pergunta meu pai, surgindo na minha frente.

— Pensei que estivesse dormindo.

— Vim tomar uma água. Não me lembrava de como sua roncava...

Eu ri.

— Vocês reataram mesmo...

— É, acho que não tinha jeito.

Ele coloca água no copo e se senta ao meu lado.

— O que se passa nessa sua cabecinha?

— Muitas coisas, pai.

— Tem a ver com os dois rapazes?

— Por que insiste em querer falar sobre isso? Não vê que é estranho?

— Que seja estranho! Eu não me importo, não mesmo, de te aconselhar, mesmo que seja sobre garotos.

— Pai, o normal é você ter ciúmes deles.

— Quem disse que não tenho? Se pudesse, eu teria para sempre ao meu lado, mas aprendi com meus pais que criamos os filhos para o mundo, não pra gente.

— Talvez seja até melhor que você aja como qualquer outro pai agiria, tendo ciúme excessivo da filha e não a deixar se aproximar dos garotos. Ao menos, eu não estaria nessa confusão amorosa em que me encontro.

— Você contou um pouco sobre o que está passando. Sempre foi apaixonada por Duke, que foi embora. Então conheceu o rapaz da praia...

— Dylan.

— O Dylan. Então Duke voltou.

— É.

— Como se sente em relação a eles?

— Como me sinto?

— É. Como se sente com cada um deles?

— Bom, com Dylan as coisas parecem ser mais fáceis, não preciso... impressionar, nem anda. Parece que... tudo acontece naturalmente. Com o Duke, ainda tenho reservas, mas... ele confessou que também gostava de mim... O que faço, pai?

— O seu coração é que vai dizer o que você precisa fazer, filha. Pode levar anos para ter certeza, mas as escolhas são unicamente suas.

— Você já se sentiu assim?

Ele assente com a cabeça e toma um gole de água.

— Quando me separei da sua mãe, reencontrei a Madison. Tivemos um caso bem rápido... quando eu ainda era casado. Achei que tivesse sido o destino, sabe. Confesso que, enquanto estava com ela, pensava na sua mãe. Eu, internamente, as comparava, e me sentia péssimo por isso. Estava na cara que a Madison e eu nunca daríamos certo, mas preferi fechar os olhos, fingir que era aquilo que eu queria. Não me fez bem, e me senti infeliz na maior parte do tempo.

— Nossa, isso é...

— Pois é. Às vezes, nós nos acomodamos com certas coisas, porque temos medo de encarar o novo. O novo, às vezes assusta, filha, mas ele nos leva a novos caminhos.

— Isso não está me ajudando, pai.

— Só respondi o que você me perguntou.

— Teoricamente, o Dylan seria o novo. Ou o Duke é o novo do novo? Droga, estou tão confusa!

— Você saberá a resposta quando estiver calma. Esse nervosismo só vai te atrapalhar.

— Valeu, pai. Isso foi muito esclarecedor.

— Estou sempre às ordens.

Meu pai volta para o quarto e eu continuo com meu chá de camomila tentando acalmar meus nervos.

Sei que gosto do Dylan. Gosto tanto que já considerei voltar para a casa de praia para vê-lo novamente. Ainda sinto seus beijos, seu cheiro. Abraço a minha camiseta, a que usei quando nos beijamos pela primeira e última vez. Eu me perguntei várias vezes se o veria novamente.

Desde que Duke voltou que meus sentimentos estão em conflitos. Não sei exatamente o que sinto por ele, após anos acreditando que era amor verdadeiro. E ele, praticamente, se declarou para mim, quando eu achava que meus sentimentos nunca eram correspondidos. Isso me deixou ainda mais confusa. Muito mais.

Talvez eu precise de tempo. Tempo para me reorganizar e descobrir o que quero. Para descobrir o que realmente sinto pelos dois, e o que realmente quero para minha vida.

Antes, usei a doença do meu pai para fugir do novo, que era o Dylan. Alguém que estava sempre presente e me deixava à vontade. Com quem podia ser eu mesma, sem reservas. Fugir tanto que reprimir novos sentimentos, que eu pensava nunca existir. E ele conseguiu de mim algo mais sólido, porque não era um sonho. Não era apenas eu desejando e sonhando com algo. Estávamos em constante sintonia.

Duke teve de mim os primeiros sentimentos de amor. Ainda me lembro do primeiro olhar, enquanto descia da rua com a minha bicicleta sem rodinha, quando meu medo desapareceu e mergulhei nos olhos dele. Ainda me lembro de todas às vezes em que ele me via tocar e logo saía correndo. Me lembro de tantos detalhes, que jamais esquecerei, por mais que passe mil anos, porque ele foi meu primeiro amor. O primeiro, a gente nunca esquece. 

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