Galáxias Azuis

Capítulo 34 - História cheia de reticências

Lexa

— Oi, Lex — A Maria disse sorrindo fraco e arrumou o óculos no rosto sem necessidade. — Honestamente, eu nem sei mais onde as coisas começaram a dar errado com a gente, mas eu estou gravando esse vídeo porque eu acredito que talvez eu não tenha mais a chance de tentar consertar nossa relação pessoalmente. — Assim como em todas às vezes que eu assisti esse vídeo nos últimos quatro anos, meus olhos se encheram de lágrimas com suas primeiras palavras. — Primeiro de tudo, eu gostaria de começar dizendo que eu te amo, mesmo que você não acredite nisso e eu não te culpo por isso levando em conta o tanto de coisa que nós fizemos uma com a outra.

E não foram poucas.

— Olha Lex, eu sei que você sempre guardou rancor contra mim pelo fato dos nossos pais terem escolhido te deixar pra trás com nossos avós, quando nós mudamos pra cá todos aqueles anos atrás e honestamente você já está bem grandinha pra ter noção de que isso não foi minha culpa. — Ela balançou a cabeça e respirou fundo. — Eu só tinha cinco anos e o fato deles não terem condições para trazer os três filhos também não é culpa minha, mas anos se passaram com você me odiando em alguma crença distorcida de que eu sou a preferida ou que eles me amavam mais que você.

Tente explicar isso pra uma criança de cinco anos que vê sua família indo embora pra outro país e te deixando pra trás. Hoje eu entendo que foi por falta de recursos, mas na minha cabeça de cinco anos, todos eles me deixaram porque não me amavam o suficiente pra me levarem com eles...

— Mais tarde, quando nós nos estabilizamos o suficiente pra trazer você pra morar com a gente, você proferiu uma quantidade de palavras de baixo calão em espanhol e português, que eu acredito que nenhuma criança de sete anos deva conhecer metade. — Ela riu parecendo se lembrar da cena. — E a partir daquele momento, nós duas começamos a fazer um inferno uma, na vida da outra, sempre que nós estivéssemos no mesmo lugar. Eu tenho que admitir que algumas das coisas que a gente fez foram hilárias, como a vez que eu joguei cola no seu cabelo enquanto você dormia ou quando eu pintei todas as suas roupas de rosa só porque você odiava.

Aquela vez que eu deixei um sapo na cama da Maria no meio da noite quando ela estava dormindo foi impagável também, e eu ainda me lembro perfeitamente do grito que ela deu quando acordou e sentiu o sapo lá embaixo da coberta.

— Mas com o passar dos anos as brincadeiras foram dando lugar a coisas que realmente machucaram tanto eu quanto você e acho que o meu ponto de ruptura foi quando você se vingou de mim no Natal. — Maria sorriu triste e eu fiz uma careta me lembrando o quanto eu passei do limite aquele dia. — Lex, eu sei que foi muito, mas muito errado eu ter feito toda a nossa família, Rivera e Ponce incluídos, acreditar que você estava assistindo pornografia durante a ceia de Natal, mas você tem que assumir que me tirar do armário no almoço do dia seguinte, sabendo que eu não estava pronta e convencer a Sara a fingir que estava namorando com você só porque você sabia que eu gostava dela foi um pouco demais, né?

Esse era o eufemismo do século.

Todo mundo acreditou quando eu desbloqueei meu celular durante a ceia e um vídeo pornográfico de muito mal gosto começou a ser reproduzido no último volume pra todos os presentes na mesa ouvirem.

Eu estava tão envergonhada com todos os olhares estranhos que estava recebendo durante o resto da noite que eu simplesmente precisava fazer a Maria pagar caro por ter feito aquilo comigo. Então, se valendo da nossa amizade, eu convenci a Sara a dizer pra todo mundo que nós estávamos namorando e beijei ela na frente de todos no almoço do dia seguinte, em seguida declarei eloquentemente pra Maria que seu amor pela Sara nunca seria correspondido porque ela me amava...