Capítulo 3 - Você tem algum problema comigo?

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Lexa

Argh!

Eu odiava esse lugar!

Essa era a única verdade absoluta sobre a minha vida naquele momento.

Era necessário somente eu pisar o pé nessa cidade que meu inferno pessoal começava.

Primeiro, assim que desci do avião, meu irmão me liga pra me dizer que meu pai foi internado novamente e mais uma vez se recusou a começar a quimioterapia, depois recebo a mensagem do meu amigo me informando que ele sequestrou o meu cachorro e meu carro para fazer sabe-se Deus o quê, e que eu tenho que ir buscar os dois no Roni's.

Simplesmente maravilhoso.

Como se eu já não estivesse tendo um dia infernal.

Todas às vezes que eu tinha que me despedir do Nico pra vir pra essa cidade me deixava com um gosto amargo na boca do estômago e um aperto no peito sem igual, porque, no fundo, eu sabia que tanto eu como ele, não queríamos que eu passasse um minuto que fosse nesse lugar. Mas meu pai era teimoso demais pra ir morar lá fora com a gente e se recusava a receber o tratamento adequado e tentar expandir os seis meses de vida que os médicos lhe deram, então eu, meu irmão e a Luíza tivemos que vir morar aqui para cuidar dele e, no meu caso, tinha que reviver tudo o que eu já passei aqui, perdida em memórias e tragédias dantescas.

— Você destruiu a vida dela...

Balancei a cabeça na tentativa falha de dispersar a memória daquele inferno, principalmente essa em específico, e entrei no Roni's a procura do meu amigo. Mesmo sendo sexta-feira, como ainda era cedo, o movimento no bar estava baixo, somente alguns clientes dispersos pelo ambiente e uma mulher no balcão, que parecia muito concentrada no notebook a sua frente, mas ainda assim, percebi que ela notou a minha presença quando parei ao seu lado com a minha bagagem de mão.

— Oi, Lexa! — Mateus exclamou animado quando se virou com um drink na mão do outro lado do balcão e me viu ali. — Tudo bem?

— Boa noite, Mateus. Eu estou bem e você? — O bartender assentiu em resposta. — Você sabe se o Caio está por aqui?

— Ele disse que você apareceria por aqui, pediu pra você esperar — respondeu e se virou para mexer em alguma coisa na bancada atrás dele. — Parece que um fornecedor atrasou a entrega e ele está tentando resolver. Você quer experimentar o drink que estou criando?

— Claro, mas não agora. — Me animei já sabendo que seria maravilhoso.

Tudo o que ele fazia era delicioso, não era à toa que o homem era um dos melhores do país e até ganhou um prêmio no ano passado.

— Eu pretendo voltar pra casa dirigindo. — Me levantei e fui me sentar em cima da parte final do balcão, ficando de frente pra mulher do notebook. — Assim que o Caio aparecer com o meu carro. — Ele assentiu ainda de costas.

De frente pra ela, vi que era uma mulher linda com intensos olhos azuis que estranhamente não estavam tão focados no notebook como eu pensei inicialmente e sim na minha interação com o Mateus, mesmo ela tentando disfarçar e falhando miseravelmente.

Não vou mentir que se fosse em outro momento, ter seu olhar sobre mim, seria muito produtivo, mas com o dia infernal que estava tendo, tudo o que conseguia sentir era um crescente incômodo.

— Pelo que eu entendi, ele também foi buscar o Zeus — ele comentou me entregando um drink de maracujá com alguma coisa que não me dei ao trabalho de descobri o que era, já que era suficiente o sabor delicioso. — Mas mudando de assunto, quando é que a gente vai poder repetir a dose? — perguntou com um sorriso safado e eu sorri da mesma maneira.

Galáxias AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora