Galáxias Azuis

Capítulo 9 - Serenata

Bella

Adentrei o interior do Roni's naquela noite e quase gemi pelo calor que senti imediatamente no ambiente, exatamente o oposto do que era o clima no exterior daquelas portas.

Na semana anterior, o inverno tinha começado oficialmente, mas como o clima no Distrito Federal é no mínimo instável pra não dizer doido, até a última sexta, o calor estava infernal, mas hoje quando acordei para me arrumar para mais um dia na universidade, eu fiquei realmente tentada a voltar para a cama, assim que tirei a coberta de cima de mim, para em seguida ouvir um grito da Vero, provavelmente do quarto dela, me informando que estava fazendo literalmente seis graus...

Me sentei na minha mesa de costume, que tinha uma visão estratégica de todo o lugar, e aguardei pelo atendimento enquanto procurava por ela sem sucesso. Depois de uma meia hora, vejo a Lexa e seu irmão chegando e me lembrei que a Vero comentou que não poderia sair com o moreno hoje, porque ele começou a trabalhar nas segundas também. Assim, seu irmão foi para o piano, já que estava na hora que normalmente a música ao vivo começava, enquanto a mulher foi até o Caio e pegou uma chave com ele, se dirigiu para uma porta em uma das extremidades do lugar, que até aquele momento era totalmente desconhecida por mim, e a abriu antes de sumir no interior do que quer que estivesse atrás daquela porta.

Eu não aguentei a minha curiosidade, e fiz o mesmo caminho que ela, descobrindo que a porta escondia uma escada que dava em um terraço e assim que saí, meu queixo literalmente caiu. O terraço em si, era uma espécie de jardim um pouco minimalista com uma parte coberta, muito bem iluminado e quente, por conta de alguns aquecedores externos espalhados pelo ambiente.

E para completar tudo, a vista para a Ponte JK iluminada, refletida no lago, era simplesmente de tirar o fôlego, Universo!

— Estava me perguntando, quanto tempo iria demorar pra você me seguir. — A voz da Lexa soou de algum lugar atrás de mim, me assustando igual o inferno. — Vamos ver... — Me virei e a encontrei sentada em um sofá extenso em formato de U, que ficava em uma das extremidades descobertas do terraço, verificando seu relógio. — Dezessete minutos. — Ela riu e mexeu um pouco no carvão que queimava em uma daquelas fogueiras chiques de fotos do Pinterest, que estava no centro do sofá. — Essa não é uma área comum de circulação de clientes do bar.

— Oi! Hum... Você q-quer que eu s-saia?

Oh meu Deus!

Desde quando eu gaguejava?

— Não, pode ficar, Bella — ela respondeu divertida com minha provável mortificação estampada em meu rosto.

Escutá-la pronunciar meu apelido, depois de todos esses anos, com esse tom de voz mais rouco e profundo, fez alguma coisa com o meu interior.

— Esse lugar é incrível. — Me sentei a uma distância respeitável dela, no sofá e vi ela começar a olhar para o céu estrelado sem nenhuma nuvem a vista, acima de nossas cabeças.

— Eu sei.

— Por que os clientes não podem vir aqui?

— Porque eu sou egoísta — respondeu simples e eu a olhei confusa com a facilidade com que disse aquilo. — Essa é a mais pura verdade, eu não sou uma pessoa boa, mandei construir esse lugar e guardo ele só pra mim. — Eu pude notar certo deboche em seu tom, mas como não sabia o que dizer sobre sua declaração, resolvi mudar de assunto depois de alguns instantes constrangedores.

— Eu fiquei encantada com o seu filho — declarei e observei suas esferas negras ganharem um brilho a mais quando ela olhou pra mim novamente. — Ele é muito fofo e educado.

— É, sim. Ainda bem, né? Porque se fosse mal-humorado igual a mim, a Sara já teria perdido a cabeça. — Seu olhar demostrava amor e carinho.

Só não sei se era pelo filho, por quem quer que fosse essa Sara, ou ainda pelos dois.