Capítulo 31 - Enredo ruim de novela mexicana dos anos 90

136 15 1
                                    

Bella

— Oi, Lex. — A Maria estava na mesma posição e assim como no outro vídeo, ela também sorriu e arrumou o óculos no rosto sem necessidade. — Honestamente, eu nem sei mais onde as coisas começaram a dar errado com a gente, mas eu estou gravando esse vídeo porque eu acredito que talvez eu não tenha mais a chance de tentar consertar nossa relação pessoalmente. — Ela respirou fundo e eu vi que os olhos da Lexa começaram a lacrimejar. — Primeiro de tudo, eu gostaria de começar dizendo que eu te amo, mesmo que você não acredite nisso...

— Foda-se, não! Eu não consigo lidar com isso hoje! — A Lexa exclamou e desligou a TV. — Eu não tenho condição de mexer nesse vespeiro agora. Não depois de descobrir que eu acabei me apaixonando pela mesma mulher que a minha irmã gêmea.

— Eu sei que é fora de hora, mas isso tudo tá realmente parecendo um enredo ruim de novela mexicana dos anos 90 — A Vero disse e a Lexa concordou enquanto eu ainda estava tentando digerir tudo o que eu acabei de descobrir. — Mas falando sério agora, o que aconteceu depois disso?

— No mesmo dia em que ela gravou esses vídeos... — O Miguel respondeu da porta do escritório, chamando a nossa atenção. — Ela disse pra mim e pro meu pai que ia fazer uma viagem usando como desculpa o luto pela morte da nossa mãe e na época, como estava todo mundo sofrendo também, ninguém deu muita importância pra isso e foi exatamente aí onde nós erramos. Quando meu pai tentou entrar em contato com ela depois de três dias, ela já estava incomunicável e mesmo com investigadores particulares e a polícia envolvida, nós só conseguimos encontrar a Maria um ano e dois meses depois.

— Sim. Aquele infeliz a levou pra uma fazenda no interior de Goiás e a manteve presa todo esse tempo fazendo o que queria com ela — a Lexa assumiu a história. — Mas ele ficou desleixado e contra todas as possibilidades, mesmo com a magreza e desnutrição severa, a Maria aproveitou um momento de bebedeira dele e fugiu. Quando ela foi encontrada no dia seguinte por um casal de caseiros de uma chácara vizinha, a polícia deduziu que ela andou por cerca de nove quilômetros antes de desmaiar.

— Mas as surpresas não acabam por aí. A Maria teve que ser transferida as pressas do único posto de saúde da região pra um hospital de Goiânia porque ela estava grávida e ainda por cima tinha entrado em trabalho de parto em algum momento durante o transporte até o posto. — Eu e a Vero arregalamos os olhos surpresas com o que o Miguel disse. — Devido ao estado do corpo dela, os médicos nos disseram que foi praticamente um milagre ela e o bebê terem sobrevivido ao parto e havia a possibilidade de um ou dos dois morrerem a qualquer instante.

— Quando eu recebi a notícia que a Maria tinha sido encontrada, eu estava em Londres estudando e vim pra cá o mais rápido possível — a Lexa disse com os olhos fixos no copo de whisky em suas mãos. — Eu cheguei no dia seguinte ao parto e foi o tempo suficiente dela me suplicar pra cuidar do bebê dela e morrer logo em seguida.

— O Nico...

— Sim, Vero, o Nico é biologicamente, filho do Gabriel e da Maria — O Miguel respondeu.

— Mas e o Gabriel? O que aconteceu com esse maldito infeliz? — a Baixinha perguntou.

— Ele tentou fugir, mas foi preso e quando seu rosto apareceu na TV, outras mulheres procuraram a polícia e denunciaram ele por diversos crimes. Assim, ele e o tio foram julgados e condenados por muitos anos e eles ainda tem pelo menos mais vinte e cinco anos de prisão para cumprir — ele disse e um silêncio se apoderou do ambiente.

— Eu não te conheço e nunca te vi na minha vida.

— Porque essa é a primeira vez que eu estou morando de fato em Brasília.

— As estrelas e esse poema me lembram de alguém que eu perdi antes mesmo desse alguém deixar de existir.

— Te aconselho a não ficar tirando conclusões precipitadas com base nas meias verdades que conhece dessa história.

— Porque Bella, minhas ações tiveram consequências além do reparo para uma pessoa muito próxima a mim.

— Meu nome inteiro é Maria Alejandra Rivera Alves, mas por conta de algumas memórias desagradáveis do meu passado, resolvi abandonar o "Maria".

— Porque eu morei no México toda a minha vida.

— Sou atormentada pelos demônios e fantasmas do meu passado que te adianto logo não ter sido um dos mais bonitos ou felizes.

— Isso é só mais um exemplo da vida me cobrando tudo o que eu fiz com ela.

— Esse assunto desgraçou a nossa família e machucou muito e ainda machuca a minha irmã.

— Lex, o nosso filho, a empresa, até as suas crises de ansiedade são resultados diretos ou indiretos de tudo o que aconteceu naquela época.

— Você não é a garota, você não pode ser aquela garota.

Não. Não. Não. Não. Não.

Não faz isso comigo, Universo!

Não me diz que eu guardei rancor por anos de uma pessoa que me salvou e praticamente trocou a vida dela pela minha.

Não me diz que eu queria me vingar de uma pessoa que não tinha nada a ver com a história...

— A Maria nunca me disse...

— Você quer saber outro clichê sobre dramas mexicanos de gêmeos, Bella? — a Lexa me interrompeu. — Eu e a Maria nos odiamos durante boa parte das nossas vidas e tanto eu quanto ela fizemos coisas horríveis uma com a outra.

— Quando vocês duas se conheceram, Bella... — O Miguel falou se sentando ao lado da namorada. — A Maria praticamente suplicou pra mamãe, pra mim e pro meu pai, pra gente nunca citar a Lexa quando você estivesse por perto.

— Na época, eu recebi uma mensagem bastante eloquente dela, me pedindo pra nunca mais procurá-la e que eu não podia estragar a única coisa boa que eu não tinha arruinado na vida dela — Lexa declarou e sorriu sem humor antes de continuar. — Não é como se eu fizesse muita questão de estar na vida dela de qualquer jeito, então eu simplesmente cumpri seu desejo e não falei com ela por anos até o momento em que ela me pediu para cuidar do Nico, momentos antes de morrer.

— A nossa família nunca mais foi a mesma depois disso.

— Sabe Bella, já que a gente está esclarecendo as coisas, eu acho que conheci seu pai no aeroporto quando eu estava voltando pra casa com o Nico depois da morte da Maria — a Lexa falou com certo desdém.

— Como assim?

— Ele me viu e provavelmente me confundiu com a minha irmã, e fez um escândalo gritando que eu era uma pessoa horrível, que eu tinha destruído a vida da filha dele e que a eternidade no inferno não seria suficiente para pagar tudo o que eu fiz. — Ela bebeu um gole do whisky — A ironia de tudo isso é que eu nem sequer sabia como você se parecia, que dirá quem você era...

Meu pai nunca me contou isso, Universo.

— Entre lidar com a morte da mamãe e o desaparecimento da Maria, a Lexa só ficou sabendo superficialmente o que aconteceu na igreja aquele dia — O Miguel acrescentou. — E depois disso, qualquer assunto relacionado ao que aconteceu meio que virou um tabu.

— Mas e os vídeos?

— O Miguel me disse que ele tinha encontrado um pen-drive com vídeos explicando a história pra mim e pra garota que tinha sido abandonada no altar... — ela olhou para mim nesse momento. — Mas eu nunca assisti nenhum deles antes de hoje. Acho que por medo de ser uma prova gravada do quanto ela me odiava. Agora só tem uma coisa que eu não entendi — a Lexa disse ao se levantar e tomar mais um gole da bebida, parando na minha frente. — O Miguel, que era a única pessoa que sabia todas as versões dessa história, eu sei que não me contou quem você era, porque eu fiz ele prometer que nunca mais falaria comigo sobre qualquer assunto por mínimo que fosse, relacionado a toda aquela desgraça. Mas por que diabos você se envolveu comigo, se achava que eu havia destruído a sua vida, Bella?

— Se tu não falar eu falo — a Vero me ameaçou com raiva.

— Do que ela está falando Bella? 

Galáxias AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora