Capítulo 6 - Mamãe

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Bella

Depois disso eu me mantive atenta a Luíza, mas em nenhum momento a Lexa foi mencionada por ela quando eu estava por perto, eu também tentei achar elas nas redes sociais, mas só encontrei contas privadas das duas no Instagram. Então tive que voltar ao costume de ir praticamente todos os dias ao Roni's na esperança de encontrá-la. E durante as três semanas seguintes eu a vi duas vezes apenas e em nenhuma delas eu me aproximei, na primeira porque ela estava sentada em uma mesa um pouco afastada, aos beijos com um cara e na outra porque teve alguma coisa nos olhos dela naquela noite que me impediram de seguir até ela.

Eu entrei no bar depois de um dia cansativo na universidade e nem a tempestade que estava rolando me fez desistir de tentar vê-la naquele dia e apesar de tudo eu tive sorte porque meus olhos logo a localizaram sentada no batente de uma janela que dava para o Lago Paranoá e a Ponte Juscelino Kubitschek iluminada, parecendo linda mesmo naquele tempo. Eu estava certa de que tentaria falar com ela de novo, mas assim que notei a intensidade e tristeza em seu olhar, eu mudei de ideia e me sentei em uma mesa perto de onde ela estava, tendo certeza de que ela não conseguisse me ver. Mesmo vendo ela ali, qualquer um diria que a mulher estava muito longe enquanto observava a tempestade com fascínio e parecia que os trovões e relâmpagos não a incomodavam em nada.

Ela só saiu desse estado quando seu telefone tocou e assim que viu quem estava ligando, seus olhos praticamente brilharam de emoção e quando atendeu, ela estava falando em inglês?

— Hey baby! (Oi bebê) Is everything okay? (está tudo bem?) I know and I miss you too. (eu sei e sinto sua falta também) I know, don't worry! In two days, we'll be together and I promise you: we will only leave the bedroom when we pass this level. (Eu sei, não se preocupe! Em dois dias nós estaremos juntos e eu te prometo: só sairemos do quarto quando passarmos essa fase) — ela disse sorrindo amorosa. — Okay, I love you, bye. (Ok, eu te amo. Tchau!) — Desligou e voltou a observar a tempestade e aos poucos seu olhar voltou ao estado de antes.

Eu fiquei surpresa com o nível de emoção que sua voz e seus olhos mostravam durante a ligação e só serviu pra confirmar a minha suspeita de que ela realmente tinha um relacionamento com alguém fora daqui, mesmo que a Luíza tenha dito que elas só ficavam quando nenhuma das duas estavam comprometidas, eu não duvidava em nada que a Lexa estivesse mentindo para a loira, não depois do que ela foi capaz de fazer comigo.

Eu também não pude deixar de me questionar como essa mulher conseguia administrar tantas pessoas ao mesmo tempo em sua vida, porque só como uma espectadora externa eu já achava cansativo...

Deve ter sido interessante a transição de jovem puritana e retraída a Femme Fatale.

Simplesmente não era possível alguém mudar tanto assim, até porque era só a "Maria" escutar a palavra sexo que ficava toda vermelha, já a "Lexa" exalava sexo a cada passo que dava e a cada vez que a via, ela estava com uma pessoa diferente.

Se eu não tivesse absoluta certeza de que eram a mesma pessoa, poderia acreditar facilmente nessa persona que a Maria inventou.

Enquanto eu a observava ali, parada, em transe, com seus olhos tristes assistindo a tempestade, desejei ter o poder de ler mentes só para descobrir o que se passava em seus pensamentos para deixar seus olhos daquele jeito.

Será que o passado ainda a atormentava como fazia comigo? Por motivos diferentes, é claro, mas ainda assim, será que ela se arrependeu? Sentia remorso ou culpa pelo que me fez? Será que ela ainda pensava naquele dia?

Desde que a reencontrei, por todo o tempo que passei a observando, eu já havia percebido que mesmo quando ela estava sorrindo, seus olhos carregavam essa tristeza absurda, que as vezes ela não conseguia controlar a intensidade, como agora ou naquela noite na sacada do apartamento da festa daquele cara...

Por volta das dez horas, quanto a tempestade pareceu dar uma trégua, a Infeliz se levantou e se dirigiu para a saída e ao acompanhar por uma janela, a vi caminhando calmamente até um carro e aliás, que carro! Acho que ela tinha muito dinheiro com o que quer que trabalhasse, para ter condições de dirigir uma Porsche. Mesmo sabendo que a família dela vivia até bem, se permitindo alguns luxos, não era pra tanto, já que ela estudava em uma escola de classe média.

Na semana seguinte ela sumiu novamente, provavelmente atrás da pessoa da ligação.

[...]

Tive que dar uma pausa na minha obsessão e auxiliar o meu irmão caçula com seu casamento, que seria realizado no próximo sábado e pelo desespero dele no áudio que me mandou no WhatsApp, as coisas não estavam nem perto de estar prontas e encaminhadas. Por isso eu resolvi ir com ele até o estúdio do fotógrafo, amigo dele, que iria tirar as fotos da cerimônia, já que a noiva dele estaria ocupada resolvendo outra coisa que honestamente não tinha o mínimo interesse em descobrir do que se tratava.

A verdade é que eu não acho certo ele estar se casando com somente 22 anos, mas seria extremamente hipócrita da minha parte julgá-lo, até porque se não fosse pela traição da Lexa eu teria me casado com 21.

Chegamos no estúdio e uma secretária nos atendeu dizendo que o fotógrafo estava doente, porém ele mandou um substituto para nos atender, substituto esse que já estava vinte minutos atrasado, aliás, enquanto nós esperávamos no escritório.

E no instante seguinte, advinha quem apareceu?

Era incrível como essa mulher passou seis anos desaparecida, sem um mísero sinal de vida e agora, quando eu menos esperava, ela aparecia por todos os lados.

— Bruna, eu não trabalho nesse estúdio. — A voz da Lexa surgiu exasperada atrás de mim. — Você tem noção disso? Nós literalmente acabamos de chegar e o Caio e o Marcos já me metem nas confusões deles. — Me virei e vi que ela estava entrando carregando uma mala de mão, sendo seguida pela secretária que nos atendeu mais cedo. — Nós nem fomos em casa ainda porque o Marcos me ligou assim que nós descemos do avião pra resolver algo que poderia muito bem ser feito online e hum... — Ela interrompeu suas queixas quando nos viu. — Isabella?

E era claro que ela era a fotógrafa.

Sério, Universo?

Poderia ser só um pouquinho mais sutil?

E ela disse "nós"?

— Oi, Alejandra! — cumprimentei a morena tentando passar uma normalidade que, na verdade, não existia enquanto ela deu a volta na mesa e colocou seu sobretudo na cadeira e a mala em uma parede lateral. — Tudo bem?

Ainda era muito estranho chamá-la assim.

— Tudo e você? — Assenti em resposta. — Eu não sabia que você ia se casar — a Infeliz comentou fazendo olhares idênticos de nojo surgir no meu rosto e no do meu irmão. — Mas como eu iria saber? Nós só trocamos meia dúzia de palavras nessa vida e em metade delas eu estava sendo rude.

Gostaria de saber até quando ela iria continuar com esse joguinho de não me conhecer.

— Não! Só, não! — Ela franziu o cenho depois de terminar de ligar o notebook e a TV atrás de si e começar a alternar o olhar entre mim e o Fernando. — Eu sou só a irmã do noivo. Na verdade, estou aqui só porque a verdadeira noiva... — Não consegui terminar minha explicação porque a porta do escritório foi aberta novamente, dessa vez por um garotinho sendo seguido pela tal Bruna.

— Mamãe, eu tô cansado! A gente ainda vai demorar muito aqui? 

Galáxias AzuisOnde histórias criam vida. Descubra agora