Luto

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No beco onde havia as lixeiras, Lisa abriu sua mochila, pegou seu uniforme, olhou e refletiu por alguns segundos.

Por um lado, estava segurando seu sonho na mão, o sonho de quase qualquer um. A proteção de Seul, a heroína de vários.

Por outro, o trabalho infinito de seu pai, o motivo de seu cansaço, o motivo de sua morte. Era também o motivo dos ferimentos de Lisa, da sua exaustão, da sua falta de vontade.

Lisa deu um longo suspiro, deixando o ar sair lentamente da sua boca, deixando um amargor de vergonha leve por lá, que era bem perceptível, por mais que leve.

Com toda sua honra, vergonha, felicidade e tristeza, Lisa colocou o uniforme na lixeira, a fechando logo depois. Ficou encarando por alguns segundos, se virou e começou seu percurso para a escola. Não poderia se esconder para sempre, e pior, teria que escutar todos perguntando, sentindo pena e dizendo “meu pêsames”, tendo que abrir um sorriso falso de lado e dizer “valeu” enquanto segurava o choro e engolia à seco para evitar a voz embargada.

Seguiu em frente para sair do beco, continuou seu caminho, se surpreendendo ao ver três garotas esperando ela do lado de fora da casa. Lisa não conseguiu evitar de abrir um sorriso quando as viu, negando com a cabeça, imediatamente foi correndo para abraçá-las. Elas retribuíram, cobrindo Lisa de abraços também.

Mesmo Lisa sendo quase a maior, se sentia tão pequena, mas tão pequena no meio daquele enorme abraço que não conseguiu evitar de deixar suas lágrimas caírem. Estava chorando, chorando nos braços das únicas pessoas que existiam para a apoiar, chorando nos braços da sua única família a partir de agora.

Lisa era tão grande, tão alta, tão forte, tão poderosa, mas, no momento, se sentiu tão pequena, tão baixa, tão fraca. Até porque não era a Aranha Branca chorando, era a Lisa. Apenas Lalisa.

— Podemos faltar se você não tiver pronta pra ir hoje.— Jennie murmurou em uma tentativa de consolar Lisa.

— Podem ficar comigo só hoje? Amanhã eu juro que vou pra aula.

— Claro que podemos.

E assim foi, não do mesmo jeito que saiu, Lisa voltou para casa, dessa vez acompanhada de suas amigas.

Ao entrarem na casa, estava tudo em silêncio. Era um pouco massante, dava para sentir a tensão que o luto causava no local. Lisa largou sua mochila e sentou no sofá e colocou as mãos na cabeça, reflexiva.

Lisa olhou para o seu lado, vendo o celular de seu pai, o pegando e encarando por alguns segundos. Não havia o tirado do lugar desde quando voltou para casa. Estava um pouco empoeirado. Jennie sentou-se ao lado da heroína, espalmando sua mão no joelho da garota.

— Você já viu o que tem aí?— Jennie perguntou delicadamente. Lisa negou com a cabeça.

— Não tive coragem de ver ainda.

— Quer tentar?— Rosé sugeriu.

Lisa ficou pensativa por alguns segundos, intercalando o olhar entre o celular em sua mão e as amigas na sua frente. Apertou os lábios, assentindo com a cabeça.

— Tá bom.

Lisa desbloqueou o celular, Jisoo e Rosé sentaram-se no sofá também para olhar. Após um longo suspiro, decidiu entrar na galeria de seu pai. Decidiu ir direto para o álbum maior, estranhamente as fotos estavam organizadas das mais antigas até às mais atuais. Lisa clicou e foi passando.

Uma grande parte das fotos era de sua mãe, Lisa abriu um sorrisinho ao ver que, na foto seguinte em que sua mãe estava distraída, ela abriu um enorme sorriso para o seu pai quando o percebia. Lisa sorriu fraco de volta, seu pai gostava de fotografia também.

Aranha das sombras | JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora