Capítulo 15

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Aquela foi a ideia mais estúpida que tive em toda minha vida e olha que eu era a rainha das ideias estúpidas. Ofender a senhora Rosana em sua própria casa. Infelizmente eu era doida e não conseguia conter a língua dentro da boca, principalmente se tratando do patrão.

Ninguém mexe com meu chefe gostosão!

Ergui a cabeça em direção do carro parado de frente a casa. Ele continuava dentro do automóvel, braços cruzados, uma expressão entristecida e olhar distante.

Sempre que pensava naquilo, tinha ainda mais certeza que não era culpa dele as coisas ruins que aconteceram. Um homem nascido amaldiçoado por causa dos pecados de outra pessoa. O chefe Qian não tinha culpa por ter nascido daquela forma — foi uma tragédia horrível e eu entendia a dor de Cornelius e Rosana.

Aquela era uma situação complicada, mas eu estava ali para resolvê-la, pois precisava salvar aquele homem de sua terrível maldição, nem que fosse preciso revirar o país inteiro. Kun era uma lenda, lenda essa contada para as crianças desde os primórdios do país. Em algum momento as formas de eliminar a maldição poderia dar certo.

Não havia relatos de ter funcionado e se iria funcionar no primeiro da espécie, mas eu não poderia jamais desistir de salvá-lo daquele sofrimento eterno.

Dei passos em sua direção, convicta que a partir daquele dia iria fazer as coisas certas. De repente senti alguém batendo em meu ombro e fiquei surpresa ao ver a senhora Rosana passando feito um furacão por mim. Ela parou de frente ao carro, onde o patrão estava, batendo no vidro do automóvel, fazendo ele se erguer com os olhos arregalados.

O patrão abriu a porta do carro, saindo deste sem olhar diretamente para ela, que parecia que iria desmoronar ali mesmo.

Não foi possível ouvir o que falavam e nem pude, porque Cornelius apareceu bem atrás de mim, balançando a cabeça para que ficasse ali mesmo. Então observamos toda cena e em todo momento o patrão estava de cabeça baixa, enquanto ela falava, mas pude perceber que a mesma chorava.

Logo o chefe limpou os olhos com a manga da camisa e lá estavam os dois chorando — ele caiu de joelhos aos prantos, sendo abraçado por ela logo em seguida, assim podendo perceber que ali finalmente houve perdão.

— Perdoe-me, menina Rosana... eu não queria... nosso menino... — ele estava em prantos e também não contive as lágrimas.

Os dois estavam arrasados por tudo que havia acontecido — corações em pedaços por uma tragédia que ninguém previa. Era nítido que o patrão amava a criança do casal e se culpava dia após dia pelo o que aconteceu. Rosana também estava no seu direito de odiá-lo, entretanto, o ódio só fazia as pessoas se magoarem a toa.

Encarei o senhor Cornelius, que tinha um sorriso no rosto, satisfeito por suas duas pessoas favoritas estarem se acertando. Percebi que também ficou emocionado. Talvez tenha sido difícil para ele continuar cuidando daquele que matou seu próprio filho, entretanto, havia gerações inteiras naquela história, um legado que Cornelius cumpriu com esmero.

— Senhor Cornelius — virei para o mais velho, que me encarou. — O senhor tornou-se legado sem ser o herdeiro, então posso ser um legado também? — ele franziu o cenho, mas eu falava muito sério.

— Senhorita Santos — sua voz saiu fraca. — Esse é um fardo difícil de carregar...

— Não ligo! Estou disposta a ficar ao lado do patrão e salvá-lo da maldição! — Um sorriso brotou dos lábios de Cornelius, que afagou minha cabeça. — Se todas as Rafaela's dos registros existiram mesmo, quero ser a primeira a fazer o que é certo e não simplesmente morrer como uma idiota.

Beauty and the Beast (Qian Kun)Onde histórias criam vida. Descubra agora