Capítulo 8

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Por que eu continuava sentindo aquela dor aterradora? Por que não conseguia sair do quarto e não parava de chorar?

O senhor Cornelius tentou falar comigo, mas não queria falar ou ver ninguém, pois diferente das vezes que ouvi aquela história horrível do passado imortal do chefe Kun, esse último relato me destruiu de uma forma que não pude conter. Era como se tivesse ligado comigo diretamente — aquela Rafaela do passado não era eu, mas sentia que fosse e toda vez que o chefe me olhava daquela forma triste, sentia que havia algo em mim que o incomodava.

Mas sempre que lembrava do destino dela e do menino, meu coração se apertava e mais uma onda de choro me atacava. Fiquei presa naquele quarto por dois dias intensos, algumas vezes o patrão Kun batia de leve na porta e diziam para que eu descesse para comer, ou apenas tomar um ar, mas eu só queria me isolar.

Eu não podia está sentindo a dor da perda de um filho, sendo que nunca tive um, mas lá no fundo minha alma se despedaçava, como se o sofrimento da Rafaela do passado fosse o meu sofrimento. Uma hora tinha que sair daquela escuridão, pois deixei claro que ajudaria o patrão.

Tomei um banho demorado, lavei os cabelos, hidratei a pele e pus uma roupa limpa — apesar da cara derrotada, antes de abrir a porta, procurei meu velho sorriso, pois precisava dele para seguir em frente com aquilo. Meus passos eram lentos pelos enormes corredores da mansão, o chefe me deixou ficar ali enquanto estava deprimida, mas já era hora de voltar para casa.

Desci as escadas, encontrando o patrão Kun na sala, sentado em uma poltrona e imerso em algum livro velho e clássico. Seus olhos se ergueram ao me ver, seguindo cada movimento que fiz enquanto descia.

— Como se sente? — Sorri colocando um cacho atrás da orelha.

— Pronta para mais uma faxina! — Respondi ao ficar frente a frente com ele. — Espero que não tenha sujado muita louça.

— Não pensaria nisso.

É, aquele homem mexia comigo das formas mais insanas possíveis e mesmo sabendo que seu coração pertencia a outra mulher, o meu insistia em ficar atraído e não tinha muito o que fazer. Não importava o quanto espantasse qualquer afeição que pudesse sentir, Qian Kun não era meu e em algum momento meu coração seria partido.

Voltei aos meus afazeres de sempre, mas percebendo que o patrão estava sempre me rondando, talvez imaginando que eu fosse surtar de novo, o que não era o caso. Não podia carregar a dor de outras pessoas tão longe da minha realidade e tempo — além do fato de gostar de um lobisomem real.

Os dias passaram lentos e algumas vezes tentei pesquisar um pouco mais das condições do patrão para conseguir uma forma de salvá-lo, pois deveria haver algo que pudesse salvá-lo de alguma maneira daquela maldição, injustamente lhe imposta.

— Senhorita Moreira?! — Virei a cabeça e Cornelius adentrou a biblioteca, onde eu estava limpando e lendo alguns livros. — Como vai?

Senhor Cornelius era o único que conhecia o patrão, que por sua vez considerava-o como irmão e pelo o que entendi, aquele trabalho de cuidar do chefe era passado de geração em geração, entretanto o senhor Cornelius não parecia ter filhos para passar esse legado. Talvez aquele fosse o fim da família, então de alguma forma era preciso encontrar uma cura para a maldição.

— Eu vou bem, mas queria saber o legado que carrega — ele franziu o cenho.

— O que quer dizer, senhorita?

— Existiram outros como você, que cuidaram do patrão?!

— Como já lhe contei, o legado deu início com nosso pai Cornelius e seu filho primogênito, então o filho primogênito do primogênito deve assumir o legado quando seu antecessor morre.

Beauty and the Beast (Qian Kun)Onde histórias criam vida. Descubra agora