Cobri o rosto com o livro, soltando um gritinho, pois era como estar lendo um romance fofinho de época, quando os mocinhos se encontram pela primeira vez e aquele nem era a metade dos relatos de Sarita, que parecia ser uma mulher excepcional, pois tudo que li sobre ela e seu legado, foi responsável por auxiliar o chefe Kun nos negócios, que prosperaram. Infelizmente o mundo não batia palmas para uma mulher inteligente, muito menos uma mulher preta.
Ela havia sido a primeira do legado depois de gerações inteiras de homens e mesmo assim tinha toda afeição, respeito e cuidado do chefe — realmente era uma mulher abençoada, como descreveu inúmeras vezes ter sorte de ter uma família que a amava e se sentia honrada de ser um legado.
Caí para trás na cama, sonhando acordada e o quanto sentia inveja dessas Rafaelas por ter a afeição do patrão, quando sentei rapidamente franzindo o cenho e voltando meus olhos para o livro.
— Rafaelas?
Foi então que entendi o que estava acontecendo ali, pois os manuscritos dos outros legados antes de Sarita descreveram uma Rafaela na vida do chefe Kun, mas não com tantos detalhes como os dela. Eu tinha passado horas lendo séculos de legados e sequer percebi esse detalhes, que apenas uma mulher descreveria tão bem.
Os outros legados escreveram superficialmente a relação do chefe Kun, mas todos disseram o nome da mulher, Rafaela, meu nome. Sarita praticamente descreveu uma história de amor em seu manuscrito e as características da parteira que se apaixonou por ele batiam com as minhas, mas aquilo não era possível.
Virei a cabeça na direção do espelho e sim, eu poderia ter tido alguma antepassada, que era semelhante a mim, então iria a fundo em toda aquela história para entender melhor o que estava acontecendo.
[...]
Kun era um bom homem, realmente era, mas ser um homem fora de seu tempo, às vezes agia como um completo esquisito. Estava obcecado em encontrar a senhorita Santos novamente e como um homem lobo, podia fareja-la há quilômetros de distância e assim o fez, buscando por toda cidade a bela parteira, de pele dourada e sorriso felino— aquela que mudou sua vida através dos séculos.
Ele sabia que todas as vezes seu coração ficava despedaçado, mas sempre se via preso naqueles olhos castanhos e sorriso felino. Era um loop que Kun estava preso e não podia sair e era a maldição que o transformou em escravo do próprio tempo. Sabia que seu destino era ver quem amava nascendo e morrendo, até que o fim dos tempos chegasse.
Em uma padaria, a jovem Santos observava atentamente para a vitrine com seu bolo preferido de baunilha com recheio de morango, uma lembrança doce de quando o pai era vivo e sempre comprava uma fatia para ela. Seus olhos se encheram de lágrimas, mas rapidamente as conteve, pois tomaria coragem para entrar no estabelecimento para comprar uma fatia para si.
Ficando ereta, ela empurrou a porta de vidro do lugar, maravilhando-se com o cheiro de pão e bolos saindo quentinhos do forno, assim formando um sorriso em seu rosto. Porém aquela felicidade não duraria, pois percebeu que o lugar estava repleto de pessoas brancas, que a encararam chocados — ela sabia que não era em todos os lugares que alguém de sua cor era bem vinda, entretanto, encheu o peito e caminhou em passos firmes até o balcão.
— Gostaria de pedir uma fatia do "Delícia de morango" — falou com a voz firme, mas tremendo por dentro.
O balconista em questão a encarou perplexo com a ousadia da jovem em lhe dirigir a palavra, então logo uma linha se formou na testa do homem, formando assim uma carranca.
— Não leu a placa, garota? — o homem apontou para fora. — Não é permitido pessoas de cor aqui na padaria. — Mesmo parecendo intimidador o homem robusto e de rosto avermelhado, Santos permaneceu parada no mesmo local. — Chamarei a polícia!
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Beauty and the Beast (Qian Kun)
Manusia SerigalaUma jovem fugindo do seu passado, se ver envolvida em uma questão difícil de remediar... a fera solitária e amaldiçoada, que habitava a casa da colina era seu mestre, amigo, amante... seria a jovem bela a salvar a besta horrenda de sua maldição? Kun...