Beauty and the Beast (Qian Kun)

Capítulo 12

As coisas na nossa família começaram a melhorar relativamente, pois o irmão Kun decidiu ajudar nos negócios e sendo ele um imortal, sabia como o mercado financeiro funcionava. Talvez aquela briga que tive com Carlinhos foi um gatilho para que ele resolvesse voltar a realidade, ser o mesmo que vovó Sarita tanto contava.

Também havia aquela preocupação sobre seu estado atual de maldição e Carlinhos não estava se importando com aquilo, então eu e Toni tomamos essa responsabilidade para nós, mesmo a gente não sendo legados. Manter o legado de pé era a coisa mais importante e eu estava pronto para assumir aquele papel, se meu irmão não quisesse.

Mesmo com a crise por conta da ditadura militar naquela época, irmão Kun conseguiu ajudar meu pai na fábrica com os negócios, mas ele não assumiu para si, era mais um consultor financeiro e passava a maior parte do tempo imerso em livros e diversos papéis. Quando não estava na escola, ficava ao seu lado tentando aprender, mesmo sabendo que era Carlinhos a herdar tudo aquilo.

Por falar em meu irmão, este estava mais preocupado com seu casamento, que sugava nossos últimos centavos, pois de acordo com ele, sua noiva merecia uma festa tão grandiosa quanto as dos brancos. Eu achava aquilo muito ridículo e não tinha nenhuma intenção de casar, claro que morderia minha língua algum dia.

— Bom dia!! — Virei a cabeça e Rosana entrava em nossa casa, como sempre sem bater, então a garota correu até nós, se debruçando sobre a mesa. — O que estão fazendo? — olhou atenta para os papéis espalhados.

— Isso não é da sua conta, garota metida! — respondi ríspido e ela me mostrou a língua. — Ora sua...

— Neco — Kun me encarou em repreensão, fazendo com que cruzasse os braços sobre o peito. — Estou trabalhando, Rosinha. — Ele virou para a garota com seu habitual sorriso gentil, deixando- a encabulada.

— Você é tão incrível, irmão Kun! — Rosana suspirou.

— O que faz aqui, hein, garota chata? — rebati.

— Não se preocupe que não vou mais ficar atrás de você, vim pelo irmão Kun. — Respondeu.

Sabe, lá no fundo aquilo me encheu de ciúmes, pois antes dela saber da existência de Kun, eu era seu alvo de perseguição e começar a ser rejeitado me causou um sentimento horrível no peito de abandono. Eu sabia que meu irmão era bonito e todo galante com as mulheres e também não queria ter raiva dele por isso.

— Por que não, Rosinha? — Kun perguntou. — Sabia que o Neco é o irmão mais bonito da família?! — Senti todo meu sangue subir para o rosto com aquela frase e Rosana me encarou com a sobrancelha arqueada.

— Imagina o mais feio.

— Ora sua... — levantei da cadeira bruscamente e Rosana saiu correndo, enquanto eu corria atrás dela.

Após aquela correria, acabei não conseguindo pegar Rosana, que tinha pernas muito ágeis para alguém tão pequena, além do fato de se esconder atrás de Kun.

— Garota idiota! — murmurei.

— Irmão Kun, o que o Toni tem? — ela perguntou chamando nossa atenção.

— Toni já chegou da escola? — ela assentiu e então Kun se pôs de pé.

Kun caminhou na direção da calçada, onde Toni estava sentado, abraçado aos joelhos e encarando o chão. O mais velho se aproximou e apesar das pernas longas, sentou ao lado do mais novo, que não o encarou.

— Alguma coisa te incomoda? — Pendeu a cabeça e lançou um sorriso gentil.

— Nada — Toni por sua vez respondeu sucinto, não querendo muita conversa, mas Kun não estava disposto a desistir daquela conversa.