XXI - Nuances

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XXI
Nuances

Faltavam sete minutos para as nove da noite quando finalmente Naruto pôde pegar seu garotinho em seus braços. É a primeira vez que esteve tanto tempo sem se conectar com Konohamaru desde que encontrou o pequeno menino de sorriso banguela e expressão sapeca perdido em um parque perto da sua casa em Minarin. O cheiro característico da colônia cara que Neji presenteia o sobrinho todo mês adentrou suas narinas e Naruto teve a sensação de que voltou a respirar depois de muito tempo embaixo da água. O gosto amargo da saudade deixou seu paladar e seu peito encheu tão profundamente de amor que ele poderia explodir de felicidade.
— Papai, eu fiz mais uma caça ao tesouro com o Tio Neji. — Konohamaru anunciou enquanto ria alegremente nos braços do pai.
Neji, que vinha escoltando o sobrinho com zelo, desviou os olhos azuis cinzentos da cabeleira desordenada cor de chocolate de Konohamaru, para encontrar os azuis céu de Naruto. Por mais que os lábios de Neji se mantivessem em uma linha reta e o seu semblante expressasse desdém, suas íris não escondiam o prazer absoluto por estar com suas duas pessoas preferidas no mundo.
— Me diz, onde está esse tesouro? — Naruto perguntou divertido.
— Com a bruxa, como o esperado. — Neji devolveu, seu sarcasmo sendo um refresco para o coração angustiado de saudade de Naruto.
Naruto soltou uma gargalhada despreocupada com a atenção que obviamente seu riso chamou. Sai, que vinha logo atrás de Neji e Konohamaru, revirou os olhos para a inocente felicidade do irmão mais velho, enquanto puxou o sobrinho para seus braços prevendo o próximo movimento do loiro. E Obviamente os braços fortes de Naruto circularam a cintura de Neji enquanto seus lábios encontraram a lateral esquerda da mandíbula do Hyuga.
Os lábios finos de Neji repuxaram em um sorriso ladino. Oh, sim, essa era sua perdição: Esse homem carinhoso com um charme único escondido em cada fio loiro de sua cabeça; o homem que o mostrou o que era confiar e que foi o primeiro a amá-lo em sua tenra idade, inocentemente roubando seu coração de forma irrecuperável. Uzumaki Naruto, melhor amigo de sua prima, o sol que ilumina todos os seus dias nublados, seu primeiro e único amor, mas a pessoa que nunca seria sua. É um sentimento agridoce, de fato. Um eterno misto de querer reviver aqueles dias de hormônios a flor da pele estimulados por uma curiosidade infinita, e querer permanecer aqui, como um amigo íntimo do homem que lhe deu um sobrinho maravilhoso. Amar o corpo de Naruto era bom, mas nada é melhor do que ter esses braços transbordando amor cercando-o com tamanha sinceridade desavergonhada.
— Eu senti sua falta. — Naruto murmurou com o rosto escondido entre os longos fios escuros, seu nariz inalando avidamente o cheiro que só Hyuga Neji possui.
— Não mais do que eu senti a sua. — Naji respondeu enquanto abraçou apertado o torso de Naruto em retorno.
— Não é o que parece quando você passa uma semana sem me ligar ou me atender. — Naruto resmungou, fazendo seu famoso bico mimado.
— Sinto muito, — Neji disse com pesar. — Mas eu precisei deixar tudo pronto para que nada me interrompa enquanto eu estiver com você e o Kore.
Embora Naruto possa agir mimado quando se depara com momentos solitários — afinal ele é muito apegado com as pessoas que ama — ele jamais usaria ausências necessárias contra Neji.
Este homem em seus braços é a sua personificação de amor. Conheceu Hinata quando ela era um pequeno moleque que se escondia para não chamar atenção, e como sempre foi um ser comunicativo, prontamente adotou o colega como um amigo querido, ajudando Hinata a sair da concha e, anos mais tarde, encorajando-a a passar pela sua transição. Mas Hinata nunca seria apenas Hinata, ela era um combo, não há como ter Hinata e não ter a presença de Neji; um garoto irritadiço de semblante descontente que faltava rosnar para Naruto toda vez que ele ia na casa visitar aquele que Neji considerava seu irmão mais novo.
No início, Naruto não entendeu a desconfiança do Hyuga mais velho, o que crianças poderiam fazer contra crianças? Porém Naruto não se manteve na ignorância por muito tempo, pois logo ele presenciou brincadeiras mal-intencionadas contra Hinata por ele ser um garoto muito afeminado, e não hesitou em defendê-lo, foi uma das poucas vezes em que realmente usou os punhos para machucar outra pessoa, e até os dias atuais, mais de vinte anos depois, não se arrepende.
Após o triste acontecimento, Neji lhe deu um voto de confiança por ele ter defendido o seu, até então, primo, e passou a tratar Naruto mais cordialmente. Não demorou para que a conexão entre eles crescesse, a alma pura e reluzente de Naruto cativou Neji ao ponto em que ele se viu prisioneiro dos olhos azuis brilhantes e sorriso sincero do garoto loiro. Anos mais tarde, em um misto de curiosidade e hormônios, ambos se envolveram em uma aventura sexual desenfreada que despertou muitos sentimentos estranhos entre eles. Contudo, ficou evidente que seus amores eram diferentes: Enquanto Neji era louco no corpo de Naruto, no sabor dos seus lábios e na sua personalidade extrovertida, Naruto queria um melhor amigo que pudesse ouvir sobre suas confusões internas de como ele não compreendia a forma que queria se conectar com as pessoas romanticamente.
Então Neji precisou fazer uma escolha difícil. Caso ele investisse em Naruto com intenções de namoro, o mais novo poderia corresponder e ele sabia que seriam um casal maravilhoso, em contrapartida, Naruto poderia não estar pronto para o corresponder por não se entender e sentir que precisava se descobrir, e então a amizade deles ficaria abalada, pois o loiro é mestre em se culpar por coisas que nunca foram responsabilidade dele e se afastar acreditando estar poupando alguém de algum sofrimento. Por conhecer bem até de mais a pessoa por quem estava perdidamente apaixonado, Neji optou por aguardar Naruto amadurecer seus entendimentos sobre si mesmo, observando se, após essa fase ele aparentasse estar receptivo, Neji investiria em uma conquista. De forma presunçosa, entretanto um pouco triste, o Hyuga percebeu ter feito a escolha certa, visto que Uzumaki se aventurou em suas vontades, descobriu coisas surpreendentes sobre sua sexualidade, e nesse processo, afastou completamente a conexão sexual de ambos.
Neji nunca pôde tentar uma conquista sem arriscar a sua amizade com ele e, por tanto, nunca contou a Naruto como é, — mesmo mais de quinze anos depois da última vez que transaram, — terrivelmente apaixonado por ele.
— Se você me prometer que sua atenção estará somente em nós nesse final de semana, eu perdoo você por ter me abandonado tão cruelmente nas últimas semanas. — Naruto chantageou, seu tom travesso.
Neji precisou abaixar um pouco a cabeça para olhar Naruto, pois ele é alguns centímetros mais baixo que o Hyuga. O Uzumaki não sabe o quão adorável ele se apresenta quando faz manha: Seu pescoço está flexionado para cima para encarar Neji enquanto seus olhos são pidões e seus braços estão rodeando a cintura do mais velho. Como superar esses batimentos cardíacos acelerados, as leves tremedeiras nas mãos, o arrepio na espinha e o maldito frio no estômago? Naruto faz ideia do que causa em si? Não, ele não faz. Naruto é muito consciente sobre responsabilidade afetiva e não alimentaria intencionalmente os sentimentos de Neji sem poder correspondê-los.
— O final de semana? — Naruto assentiu. — Todo? — Naruto balançou a cabeça com entusiasmo. — O final de semana todo não. — Respondeu assistindo com graça relutante Naruto esmorecer.
Naruto tentou não ficar decepcionado, ou pelo menos não deixar transparecer sua chateação. Por mais que Hinata seja sua melhor amiga, e por mais que eles tenham se relacionado romanticamente por anos, Neji ainda era seu coração fora do peito. Naruto não sabe dizer se foi pelos momentos íntimos que compartilharam; não as transas fabulosas — que Naruto relembra com saudade às vezes no escuro do seu quarto —, e sim nos inúmeros momentos em que Neji o segurou entre seus braços fortes e o escutou, o compreendeu e o apoiou nas suas crises de ansiedade onde não entendia sua identidade ou sua sexualidade. Nessas noites tensas onde as lagrimas e soluços era a única comunicação possível vinda de Naruto, as mãos, os lábios e o corpo de Neji eram rastro de carinho e fogo na alma e coração de Naruto. O Uzumaki esteve tão perdido naquela confusão que precisou cortar o contato físico antes de arrastar Neji do mar revolto que eram seus sentimentos.
No entanto, Naruto simplesmente não consegue parar de exigir a atenção de Neji, ele é, possivelmente, a pessoa mais importante da sua vida depois de Konohamaru e seus pais. Não que mais alguém saiba disso além dele e Hinata, mas o motivo pelo qual nunca pôde se entregar totalmente ao relacionamento deles foi justamente sua incapacidade de negar sua necessidade de beber da atenção de Neji como um maldito licor embriagante. Vergonhosamente, Naruto tem de admitir, pelo menos a si mesmo, que é viciado no Hyuga mais velho.
Neji, sempre um coração mole com o seu loiro, não conseguiu manter a mentira por mais tempo, ao ver a carinha triste de Naruto.
— Você vale mais que um simples final de semana, meu Sol. — seus dedos subiram para as madeixas loiras que adquiriam mexas mais claras que as outras por causa dos raios solares que apareciam com mais frequência nessa época do ano. — Ficarei o mês de férias do Kore inteira com vocês.
A felicidade que tomou a expressão de Naruto era tão aberta e sincera que quem visse de fora poderia pensar que ele recebeu a notícia que repentinamente está milionário. O Uzumaki abraçou Neji com mais força que o recomendado e o impediu de respirar por alguns segundos, mal se aguentando de alegria.
— Essa é a melhor notícia que recebi desde que meus pais me avisaram que trariam o Kore para passar as férias comigo.
E Neji não duvidou dessa declaração por nenhum segundo enquanto abraçava sua carga mais preciosa com igual intensidade.             

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