XXII - Estrada Íngreme

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XXII

Estrada Íngreme



Na bancada de inox, próximo a pia de desinfecção, está a caixa térmica aberta, suja de sangue coagulado e, ao lado da caixa, dentro de um refratário de inox, estão os órgãos internos de Kakuzu. Em frente aos órgãos está o Doutor Sabaku, concentrado em algum debate analítico interno, sem perspectiva de compartilhar seus pensamentos com seus dois visitantes que permanecem do outro lado da pia, de frente ao doutor.

O Doutor Sabaku não é diferente do que Sasuke se recorda. Sasuke não espera que o médico mude neste meio tempo, não em sua aparência física pelo menos. Sasuke está o analisando desde o momento em que seus olhos escuros encontraram com os verdes opacos. A forma desconectada com que Gaara os observa que deixou o Uchiha curioso.

Pelo o que Sasuke entendeu da situação em que se retirou deixando-os sozinhos no centro legista, Naruto e Gaara tiveram ou terão um encontro romântico, é estranho o aparente desinteresse de ambos, visto que, olhando de relance para Naruto, ele está mais interessado nos órgãos podres e fedidos na mesa.

Partindo do princípio de que Sasuke não compreende o que levou esses dois homens a desenvolverem interesse mútuo – sendo sincero, o Uchiha não entende o que um homem pode encontrar de interessante em outro, mas isso não é seu local para expor seus pensamentos, por isso ele se absteve em opinar –, principalmente por acreditar que Naruto tem uma parceira, a julgar pelo filho que ele, por motivos desconhecidos, esconde a paternidade legal. Sasuke se encontra intrigado de uma forma que nunca esteve antes.

Essa indiferença teria ligação com o comportamento desavergonhado de Gaara? Sasuke não acredita nessa suposição: não faz sentido, Gaara não flerta com Naruto, porém não se abstém de lançar olhares em direção ao Uzumaki.

Sasuke sente uma ansiedade por motivos nebulosos, quando suas pedras negras espiam o homem loiro a menos de um metro de distância, acreditando veementemente que ele transparecerá desolação com o tratamento frio do Doutor, e estranhamente irritado com o pensamento disso afetando Naruto.

Entretanto, ao realmente focar em Naruto, Sasuke vê que ele está bem. O homem de Minarim não percebe a tensão na sala de autópsia, ele está interessado na decomposição incomum, visto que a primeira vítima foi morta há meses.

— A caixa térmica fez um bom trabalho em preservar os órgãos levando em conta sua limitação. — Gaara respondeu a pergunta escrita nos olhos azuis céus de Naruto. — A oxigenação parou de acontecer quando a saxitocina entrou em contato com as células do corpo da vítima. Nesse momento inicia-se o que chamamos de processo de decomposição onde os minerais como o sódio e o potássio, importantes para o metabolismo, deixam de ser produzidos, fazendo com que as células roubem nutrientes em qualquer lugar que encontrarem e iniciam a decomposição do organismo. — Gaara calça as luvas e manuseia os pulmões, ainda preservados, com a traqueia. — O assassino parece ter uma base fisiológica aceitável, pois ele retirou os órgãos antes de as células desses órgãos pudessem iniciar o processo de decomposição.

Os pulmões, os rins, o baço, estrago, diafragma e intestinos estão com uma coloração preto azulado, com partes vermelho envelhecido, há sangue coagulado, mas o cheiro não é desagradável quanto deveria ser, e a decomposição com certeza não está no estágio que deveria.

— Mas só retirá-los não impediria a decomposição, não é?

O rosto de Gaara não mudou, a máscara encobriu qualquer reação que ele poderia ter diante da pergunta inocente, mas os olhos verdes pálidos delataram sua diversão as custas da inexperiência de Naruto.

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