XXVI
Motivações encobertas
No mundo nada se faz, nada se perde, tudo se transforma. É o princípio básico da transmutação, da alquimia, e da química. Contudo, de uma forma um tanto simplória, Naruto sempre entendeu a vida exatamente assim: nunca algo novo, e sim sempre a mesma história sob um ângulo diferente.
Na sua infância, Naruto imitava seus pais; ser honesto e independente como a mãe, ser gentil e paciente como o pai. Seus pais, por sua vez, buscavam ser atenciosos e dedicados tais como eram seus avós. E, no fim, Naruto não demorou a entender que os filhos são resultado da criação dos pais, porém com seu próprio entendimento do que é e de como quer a vida.
Desta forma, ele acabou pretensioso em suas análises. É vergonhoso admitir que ele gosta de observar e teorizar sobre as pessoas a sua volta. Talvez tenha sido isso a epítome que definiu sua carreira.
Bom, isso e uma pessoa: Uchiha Sasuke. O homem mais bonito e austero que Naruto conheceu. Misterioso de uma forma que os atores performando em séries jamais sonham em ser. Naruto deduziu muitas coisas sobre sua paixão platônica, teorizou em cada entrevista, cada notícia e cada nova investigação que o Uchiha realizava.
Mas nunca, nem em seus sonhos mais ousados, Naruto imaginou que aqueles lábios pálidos, mantidos sempre em linha reta, chegariam a um metro de distância dos seus, quanto mais pressionados contra si de, tal forma, que Naruto ainda os sentia; frisando que esse acontecimento foi a minutos atrás, antes de Naruto obrigar Sasuke a solta-lo para que ambos seguissem para o SUV do parceiro.
— Realmente, eu espero que o senhor Haku tenha as informações que precisamos, caso contrário, ficarei mais desapontado do que já estou.
Naruto assiste, paciente, Sasuke prender seu cinto – como se Naruto não fosse um adulto completamente capaz de fazer isso sozinho –, enquanto reclama de novo sobre ter outras prioridades no momento em que, segundo ele, preferia conhecer mais intimamente o sabor de Naruto.
O que lembra Naruto sobre o quão pretensioso e, de certa forma, imaturo Naruto ainda é por se achar bom em entender comportamentos e personalidades; quem poderia olhar para um homem que não sorri ou mostra amabilidade no olhar, e imaginar que, por trás da pose indiferente, há uma pessoa capaz de fazer biquinho por não poder continuar aos beijos em uma sala de reuniões em horário de serviço, um comportamento completamente inadequado, diga-se de passagem?
Se alguém pensou que Sasuke teria esse lado carinhoso: de um homem que abre a porta para outro entrar, que prende o cinto dele certificando-se da sua segurança, dando a Naruto seus óculos para proteger os olhos azuis da luz ofuscante do sol próximo ao meio dia, essa pessoa merecia o prêmio de melhor psicanalista do mundo.
— Acredito que ele é o único que pode nos ajudar a entender um pouco mais sobre o assassino.
Sasuke assente. Os olhos negros estão focados no retrovisor, guiando o SUV para longe da vaga depois de Sasuke prender o próprio cinto, depois de se certificar que o de Naruto está travado.
— Me explica melhor o que você disse sobre Zabuza não ter salvo Haku. Por que acha isso?
Naruto interrompe suas mãos que estão mexendo nos óculos em seu rosto para que ele não se sinta ainda mais ansioso do que já está, e vira todo o corpo na direção do parceiro, chocado que ele não apenas o tenha escutado, como tenha prestado atenção ao ponto de se lembrar e perguntar sobre isso depois.
— Não sabia que tinha escutado.
— Desculpe, estou confuso. Não era para ter escutado? Porque você disse em voz alta.
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Retalhos
FanficA linha tênue entre o certo e o errado está estirado ao ponte de ruptura quando um homem mascarado desafia a moralidade em seus atos dissimulados e cruéis. Para encontra-lo, Uchiha Sasuke é convocado independente de sua dor pelo luto. Enquan...