XV
Diferente, porém similarAssim que saíram da Reserva, eles seguiram diretamente para o prédio Hanzai. Naruto inconscientemente os guiou para seu escritório pessoal após saírem do elevador. Sasuke, que estava olhando atento as atualizações no sistema sobre o caso em seu tablet, o seguiu sem se importar para onde iam.
— A Doutora Yamanaka iniciou o relatório das toxinas. — disse o Uchiha para o Uzumaki. Naruto assentiu enquanto colocou sua mão para abrir a porta da sala. — O Senhor Nara incluiu a lista de objetos encontrados no local da segunda vítima...
— Lista de objetos? — Naruto interrompeu Sasuke, perguntando em confusão. Ele tinha completa certeza de que havia analisado cada relatório referente ao caso há algumas noites atrás, no seu apartamento, e não viu nenhuma lista de objetos.
Apenas então, Sasuke levantou os olhos do tablet, percebendo que estavam no escritório do loiro. Naruto sentou-se na cadeira atrás da mesa. O moreno deu mais alguns passos e se acomodou em uma das cadeiras de frente à mesa do Uzumaki. Seus olhos seguiram para a janela de vidro, nas costas do loiro, observando que havia pessoas treinando em uma distância considerável do prédio. Notou, brevemente, a diferença de paisagens entre os escritórios pessoais – a sua janela é voltada para a lateral do prédio e a vista dava para um jardim muito bem cuidado.
— Em uma pasta, dentro do relatório da cena do crime, há a lista de objetos encontrados no local. — explicou. Por vezes, Sasuke esquecia que Naruto não tinha total conhecimento do S.I.R.D.E.S.
O Uchiha voltou a encarar o tablet, trocando de páginas e verificando tudo o que havia sido atualizado: — Doutor Sabaku já escreveu bastante informações no seu relatório, também.
Naruto abriu as telas planeadoras, acessando por si mesmo o sistema e acompanhando seu parceiro na verificação.
— Será que o Doutor Sabaku terá finalizado a necropsia depois do almoço? — Naruto perguntou, pensativo.
— Mesmo que não tenha finalizado, podemos ir ao necrotério conversar com ele, assim que finalizarmos o almoço. — Sasuke fez uma pausa antes de cautelosamente perguntar, sem levantar os olhos do seu tablet: — Já sabe onde vai comer?
Naruto parou no meio do ato de trocar de tela, surpreso com a pergunta do parceiro. Observou o moreno, que não olhava diretamente para ele, mas estava tenso demais encarando o próprio aparelho, o que sugeriu ao Uzumaki que Sasuke usava o tablet como pretexto para não encará-lo.
O loiro pressionou os lábios para impedir o sorriso de nascer em sua face.
— Eu estava debatendo entre me arriscar no centro ou comer no refeitório do prédio mesmo. — respondeu com o máximo de naturalidade que o frio no seu estômago permitia.
O Uchiha mexeu no tablet a fim de disfarçar o seu embaraço. Para o loiro, Sasuke parecia uma criança tímida, praticamente brincando com o aparelho para não deixar claro a sua apreensão. Era adorável.
— Se você quiser, eu o levo para almoçar no restaurante Pétalas de Sakura. — a expressão confusa de Naruto lembrou Sasuke que ele provavelmente não conhecia aquele lugar, então explicou: — O restaurante da Mebuki. Você pareceu gostar da comida de lá.
Naruto quase não conseguiu conter a risadinha que quis sair do seu peito. O moreno nunca saberia o quanto ele estava adorável todo sem jeito, o chamando para almoçarem juntos. Sinceramente, naquele momento, Naruto sentiu imensa vontade de rodear a mesa, puxar Sasuke pela gravata – o que o lembrou brevemente que até o presente momento, Naruto não usou nenhuma – e o beijar até seus lábios ficarem dormentes. Essa vontade foi quase dolorosa de se negar.
— Seria ótimo. — respondeu em um tom mais baixo, a voz um pouco mais rouca, sua mente ainda perdida em sua fantasia de como seria beijar Uchiha Sasuke. Seus olhos caíram para os lábios finos e pálidos do moreno. Eles sempre estavam pressionados em uma linha reta, sem uma única sombra de sorriso, mas na imaginação de Naruto, eles se abriram levemente, mas com espaço suficiente para a sua língua passar entre os feixes finos e macios. Às vezes o hálito de Sasuke cheirava a menta, então era esse o gosto que o loiro acha que sentiria ao acariciar a língua dele com a sua. Seria forte? Molhado? Profundo ou breve? Intenso ou mais gentil? Naruto nunca quis tanto saber a resposta como agora.
Encarando seu maior desejo naquele momento, sua mente foi chamada para a realidade quando Sasuke mexeu levemente a boca. Naruto apertou o braço da sua cadeira sabendo bem que o moreno o flagrou praticamente devorando a boca dele com os olhos. Pigarreou, desviando os olhos do seu parceiro e fingindo, muito mal, que não estava envergonhado.
Sasuke fingiu que não tinha acabado de perceber que Naruto o encarava com desejo, preferindo debater sobre um assunto de suma importância:
— Apesar de todos os cooperadores de uma investigação ter acesso ao sistema, há algumas partes, interfaces para ser mais exato, onde somente os Detetives, Supervisores e a Inteligência do Presidente tem acesso. — o moreno iniciou, deixando seu tablet de lado. — Porém mesmo para quem lidera a investigação, o acesso não é completo e irrestrito. Caso o assassino conheça alguém desse meio, com acesso ao sistema, é impossível que ele saiba sobre tudo.
Naruto deliberou sobre o que seu parceiro disse: — Ainda assim, a possibilidade existe e a probabilidade dele ter conhecimento é alta.
— Existe a possibilidade dele ter um vasto conhecimento, sim, mas que seja do sistema por completo? — ele questionou de forma retórica. — Não é possível.
O Uzumaki levantou uma sobrancelha, contudo não discordou do Uchiha.
— Como saberemos quem está fornecendo as informações? — Naruto questionou. — Mesmo os Detetives são numerosos, incluindo Supervisores e membros da Inteligência, levaria muito tempo, e recursos que não possuímos, para descobrir quem é.
— Essa suspeita deve ser passada para o Agente Uchiha Madara, — Sasuke se inclinou, a mão no queixo, os olhos negros voltados para os azuis do loiro. — Uma investigação interna, com prováveis sanções administrativas, deve ser feita por ele e sua equipe pessoal, não por nós.
A cabeça de Naruto inclinou levemente para a direita, de forma quase imperceptível. Sasuke ficou confuso com os grandes olhos azuis brilhando em sua direção com uma curiosidade não disfarçada, e ele ficou sem saber o porquê de Naruto estar o encarando daquele jeito, não conseguindo abranger o que isso queria dizer. O Uzumaki, por sua vez, estava curioso com o motivo de que Sasuke, mesmo estando o corrigindo, não ter um único traço de arrogância na voz – a qual ele usou semanas atrás em cada oportunidade que teve de mostrar seu conhecimento superior.
Sasuke se remexeu na cadeira, se afastando da mesa e, por consequência, do seu parceiro, desconfortável com a intensidade dos olhos de Naruto.
— A cena da segunda vítima é basicamente igual a da primeira. — Sasuke pigarreou, mudando de assunto. — Os detalhes foram bem pensados, como sempre. A organização também se manteve a mesma; corpo no meio da sala, isqueiro preso entre a mordaça e o rosto, corpo nu e retalhado; lesões e contusões, com os objetos espalhados pela cena do crime. — listou tudo o que observou. Naruto assentiu, concordando. — Tirando o objeto usado para o estupro, e a falta do que foi utilizado para o espancamento, todos os outros objetos são iguais aos usados na primeira vítima.
O joelho da perna direita do Uzumaki passou a se mover ritmicamente de um lado para o outro. — Eu percebi isso também. Quero fazer uma análise profunda de ambas as vítimas assim que os relatórios forem finalizados no S.I.R.D.E.S.
— Mostrarei para você onde está a lista de objetos no sistema. — Sasuke ofereceu.
Não que ele não fosse fazer seu próprio estudo do caso, principalmente para que os dois, posteriormente, pudessem ter um debate saudável sobre tudo o que encontraram e suas deduções sobre o que já foi investigado. Mas Naruto o lembrou que ainda não tinha pleno conhecimento do sistema, não sabendo onde estava algo simples como a lista de objetos. Por tanto, o Uchiha deveria auxiliá-lo até que seu parceiro tivesse todo o conhecimento necessário. Apenas para o benefício da investigação, é claro.
A sobrancelha fina e bem delineada do loiro voltou a arquear, e um sorriso divertido despontou em seus lábios; porém, Naruto não disse absolutamente nada sobre o que quer que estivesse pensando, limitando-se a assentir.
— Obrigado.
Estava gelado dentro da sala de necropsia. Como esperado de um lugar que conservava os cadáveres antes deles serem liberados para o enterro.
Sasuke sempre foi muito consciente do meio ambiente em que estava presente, como a maioria dos estudantes e cidadãos de Shinguru são, e desde pequeno já pensava sobre como queria ser enterrado depois de morrer.
Nas leis ambientais do país, até mesmo na morte, o cidadão deve ser ecologicamente correto – ou a família dele, nesse caso – e, para isso, Shinguru deu algumas opções de onde e como deveriam ser deixados os corpos, ou as cinzas, da pessoa morta. A mais escolhida, e menos cara, era o Recife da Vida, onde o corpo cremado é misturado ao cimento ecológico e colocado no mar para servir de casa para vários tipos de vida marinha. Outra opção mais acessível é a Urna biodegradável, onde as cinzas do defunto eram colocadas e, após enterradas, se plantava a semente da árvore que foi escolhida pelo morto, ou pela família, por cima da urna.
Existia opções um pouco mais caras, como o caixão ecológico que se decompõe junto ao corpo, e a Urna ecológica que não era enterrada e funcionava como um vaso para árvores. As mais caras opções eram o enterro líquido – ao invés de cremado, a decomposição natural é acelerada e o corpo se torna um líquido com aminoácidos, peptídeos e fosfato de cálcio que, após filtrado, pode ser devolvido como água pura para o solo. E a Cápsula do Renascimento, onde o corpo é colocado em posição fetal dentro da cápsula biodegradável e uma árvore, ou uma semente, é plantada sobre ela; o corpo e a cápsula servindo de matéria orgânica para uma nova vida.
Após muita ponderação, o Uchiha sabiamente escolheu o Enterro Líquido.
Sasuke ainda se lembra que, na época, com seus nove anos de idade, decidiu por aquele método pensando que, ao ser colocado como água no solo, ele se misturaria a terra e não haveria distinção de onde ele terminaria e o solo começaria, então não importava onde sua mãe fosse, Sasuke sempre estaria com ela. Ele disse isso à Dona Mikoto, que sorriu e disse ao filho que também escolheria o enterro líquido, para que assim eles pudessem viver juntos pela eternidade como parte da terra. Quem imaginaria que dois anos depois, a sua mãe iria descobrir o câncer que a matou pouco menos de um ano posterior.
Agora o corpo de Uchiha Mikoto crescia junto ao Sairu – uma planta híbrida do tipo magnoliaceae – que ocupava uma grande parte do jardim na mansão de Fugaku. A árvore que sua água pura regou. E este é o motivo pelo o qual Sasuke, e Itachi quando era vivo, ainda visitava a casa da sua infância.
Itachi foi colocado na Cápsula do Renascimento e plantado na mansão de Sasuke. O Sugui, uma planta do tipo criptoméria, chamada popularmente de Cedro, não passava de uma pequena muda por agora, e Sasuke mal podia esperar para vê-la enorme tomando conta de todo o lugar. Cada dia que passava, ele sentia ainda mais falta do irmão.
— Boa tarde, Detetives. — Gaara os saudou sem tirar os olhos do corpo que examinava.
Naruto o respondeu com ‘boa tarde’ enquanto Sasuke apenas resmungou um ‘tarde’. Ambos pararam ao lado da mesa de necropsia, o doutor Sabaku entre eles; os três estando no lado esquerdo do cadáver e de costas para a entrada da sala.
Na mesa de aço inox, jazia o corpo da vítima. A costura mal feita no abdômen foi aberta por Gaara; a falta dos órgãos interno sendo algo já esperado por todos. O homem com a identidade ainda desconhecida estava nu, várias contusões eram visíveis com estágios diferentes de coloração. A boca estourada, assim como o rosto dele, encontrava-se aberta.
Sasuke se inclinou, por estar perto do rosto da vítima, e verificou o interior da cavidade. Sim, a língua, apesar de muito danificada, ainda estava ali. O moreno olhou para o lado, encontrando os olhos azuis do parceiro, e assentiu para Naruto, dizendo a ele com esse gesto que o músculo não tinha sido retirado. Naruto acenou de volta em entendimento. Havia também sangue seco nos dois ouvidos e na lateral esquerda da cabeça do homem, onde o cabelo foi raspado, uma pequena contusão era visível. Olhando mais para baixo, Sasuke viu o sangue seco entre as pernas da vítima e estremeceu, lutando contra a sua mente que queria imaginar como foi a tortura sexual que aquele homem sofreu.
Gaara trocou de luvas, se aproximou bastante de Sasuke e virou a cabeça do morto, indicando com o queixo a lateral que Sasuke estava observando.
— Nos traumatismos crânio-encefálicos, a equimose surge tardiamente, então essa lesão já está com a coloração vermelho escuro com alguns pontos violáceos, o que indica que ela foi feita ao menos doze horas antes da morte da vítima. — girou a cabeça para mostrar a lateral direita. — Essa lesão, bem parecida com a anterior, tem uma área menor e sua evolução foi mais rápida, já estando azulada. Isso me diz que ambas foram causadas pela mesma superfrete; como não há um formato, provavelmente uma superfície plana. O impacto da lesão esquerda foi bem mais forte do que o da direita, porém não impactou no crânio. — o ruivo voltou a cabeça para a posição inicial e indicou o rosto do homem. — Essas contusões com precisas marcas ovais disformes indicam que não houve o uso de um instrumento cilíndrico como tacos, bastões, cabos de vassouras. Como exemplo, pelo formato, ou foi usado o punho ou o joelho, e pela força do impacto, provavelmente o joelho do próprio agressor.
Gaara indicou o nariz com sangue seco. Ele estava em um ângulo estranho.
— O nariz foi quebrado e a mandíbula foi deslocada. Os dois ouvidos foram estourados com agressões suscetíveis, e como o tecido interno não estava rígido quando ocorreu, então foi antes da morte da vítima. Há dois tipos de equimoses no pescoço dele; uma tem claramente o formato de tranças da corrente utilizada para pendurar o corpo, o que mostra que ele foi enforcado, diferentemente da primeira vítima que não tem lesão na área do pescoço. A outra tem o formato das mãos do assassino. Ele somente sufocou a vítima com o enforcamento, mas não a matou. — o ruivo levantou o braço esquerdo do cadáver. — Há escoriações lineares em ambos os braços e antebraços, iguais da primeira vítima, mostrando que ele foi arrastado, também. Essa cicatriz, — Gaara indicou uma grande inserção que foi feita no ombro direito. — Tem a formação de fibrose e marcas de pontos cirúrgicos, portanto é antiga. Duas costelas foram quebradas e há contusões perto do baixo ventre, a bacia foi deslocada, também. Encontrei um pedaço de um cabo de vassoura no ânus. Havia muitas lascas e farpas, então o assassino não apenas enfiou o objeto, ele o movimentou dentro do orifício.
Finalmente o legista finalizou, respirando fundo. Os detetives ficaram em silêncio, observando o corpo pensativos.
— Qual a hora da morte? — Naruto questionou, quebrando o silêncio. Os olhos azuis mirando os verdes do ruivo.
Se eles não estivessem ao lado de um corpo assassinado brutalmente, ambos no horário de trabalho, Gaara teria elogiado a cor e a expressão daqueles belos olhos. Talvez teria comentado da mais-do-que-boa aparência do Uzumaki, chamando ele para sair... talvez.
Mas aquele não era o momento propício para isso, então Gaara voltou a focar no seu trabalho.
— No ombro da vítima havia moscas que já estavam começando a mudar para o estado de pupas. O ovo dessa mosca demora de oito a doze horas para eclodir, e o estado larval dura em torno de dois à quatro dias, por tanto, a vítima morreu em torno das onze da noite e estava há quatro dias no parque. — respondeu ao loiro encarando o belo rosto bronzeado.
Sasuke observou os dois. Sabaku com certeza estava flertando com Naruto pelo olhar em seu rosto. O Uzumaki, por sua vez, observava em dúvida o ruivo, sem saber se realmente era um flerte ou somente o jeito do outro homem. Sasuke quis balançar a cabeça em negação – quando se tratava de romance, por assim dizer, seu parceiro parecia ser menos que... perceptivo nas investidas dos interessados.
Era quase adorável.
— Como está o andamento de reconhecimento da vítima? — Sasuke perguntou, interrompendo a troca de olhares.
— Estou fazendo mais alguns testes para descobrir exatamente qual dos homens dado como desaparecidos é a nossa vítima. — o legista respondeu
Sasuke se distanciou da mesa e virou parcialmente o seu corpo em direção à porta. Naruto pegou a deixa e passou por Gaara, observando o médico e tentando entender se aquele olhar realmente era um flerte, como imaginou, e se aproximou do moreno.
— Assim que descobrir quem é a vítima, nos informe.
Sabaku assentiu, porém seus olhos estavam direcionado a Naruto, encarando-o por todo o tempo em que levou para andar até a porta e sair.
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Retalhos
FanfictionA linha tênue entre o certo e o errado está estirado ao ponte de ruptura quando um homem mascarado desafia a moralidade em seus atos dissimulados e cruéis. Para encontra-lo, Uchiha Sasuke é convocado independente de sua dor pelo luto. Enquan...