XII
Desagradável— Finalmente terminamos! — Shisui falou alongando as pernas, esticando a coluna. — Achei que nunca mais sairíamos dessa droga de labirinto hoje. — reclamou.
Hayato soltou um riso, achando graça na careta dele. Imitou o moreno ao se levantar e testar os movimentos das pernas e dos braços, fez um pouco de exercício para amenizar o estresse nos ombros e a dor na coluna pelo tempo que ficaram sentados na cadeira olhando para a tela do computador.
— Dessa vez eles colocaram ainda mais paredes. — resmungou o loiro, insatisfeito.
Foram preciso cinco intensas horas para que conseguissem descriptografar os protocolos. Não que os algoritmos, os códigos e os caracteres fossem difíceis de solucionar; o problema estava mesmo nas extensas linhas de conjunção e a chata construção de paredes de conexão que sempre os levavam para uma nova combinação – esse é o chamado Labirinto. E levaram tão pouco tempo para decodificar as informações da Inteligência apenas por estarem em dupla, um apoiando e auxiliando o outro, caso contrário, sozinhos, demoraria no mínimo um dia inteiro.
— Eu preciso de um banho e da minha cama. — Hiroki comentou.
Shisui pegou seu celular de dentro da sua bolsa, no canto esquerdo da sala, próxima a mesa do colega. Eram quase quatro horas da tarde.
— Podemos tirar três horas de pausa. Vamos comer, tomar um banho e usar um dos quartos para repouso. — o moreno guardou o aparelho no bolso do seu paletó e pegou a bolsa. Hayato já o esperava na porta. — Sua cama você não pode ter agora, mas espero que um colchão macio quebre o galho.
Hiroki sorriu em resposta: Dormir perto de Shisui não seria ruim, de forma alguma.
— Se a C.O.R.P.S não tivesse demorado tanto, poderíamos fazer as coisas com mais calma, e não como agora onde não podemos nem ir para casa, não até que as imagens estejam coletadas. — bufou.
Shisui suspirou concordando. Quando a burocracia com o setor de Inteligência enrolava mais de uma semana, sempre representava dor de cabeça – e no corpo, para os técnicos vinculados ao caso.
— Vamos levar a noite toda para abrir a interface para as atas. — lamentou.
A próxima etapa seria então um processo ainda mais lento que a de desfazer uma criptografia. Criar uma interface dentro de um programa estabilizado é perigoso, qualquer erro, mínimo que seja, pode desestruturar a rede do S.I.R.D.E.S, levando a queda do sistema e o travamento das informações com salvamento em curso, o que poderia acarretar a perda de dados. Sem contar que as investigações de todo o país, sejam sobre assassinatos ou rede de tráficos, estão gravadas nele, e são acessados várias vezes durante o dia. Era necessário cuidado ao mexer com algo tão essencial.
Os dois pegaram o elevador, descendo no quadragésimo andar, onde estão localizados o restaurante e as lanchonetes do prédio.
— Falando nisso, — Hiroki falou, chamando a atenção de Shisui. — O detetive Uchiha entregou o gravador para você?
— Ele me disse que finalizaria o último interrogatório hoje. Garantiu que amanhã entregará e então eu os incluirei no sistema.
Após andar olhando as diferentes opções de comida, o moreno decidiu por pedir um hambúrguer. Hayato acompanhou seus passos, mas preferiu comer um caldo; por ser mais leve e por não ter que esperar o preparo do alimento. Comeram em silêncio, cansados demais para uma conversa banal e ansiosos pelo descanso. O mais velho, assim que terminou, subiu para o quadragésimo segundo andar; um dos setores onde os quartos destinados ao repouso dos colaboradores ficavam situados. Um rapaz jovem e ruivo, responsável pelo controle da utilização deles, por quanto tempo será usado e por quem, estava sentado perto do elevador, em uma espécie de recepção.
— Um quarto com duas camas de casal, por favor. — pediu ao rapaz.
Fuyuki, como dizia seu nome em cima do bolso do seu terno, deu um sorriso fechado e abriu o sistema.
— Aproxime seu braço direito para a leitura do seu chip de identificação, por favor. — orientou-o gentilmente.
Hiroki fez como lhe foi dito. O receptor da mesa escaneou seu braço e sua identidade foi projetada pelo holograma. Ele a conectou com o número do dormitório disposto.
— Nome do outro usuário?
— Uchiha Shisui.
— Deixarei o nome dele para que a sua identidade seja vinculada ao quarto junto a do senhor. — Fuyuki lhe entregou a chave. — Aposento número dois.
Hiroki acenou para o jovem e seguiu para o local informado. O quarto era primeiro da esquerda, esperando-o com a porta já aberta. Espaçoso, porém simples; as paredes do aposentos eram de cor creme, lençóis brancos, camas embutidas no chão, uma mesa com duas cadeiras e uma televisão de tela holográfica. O loiro sentou-se na cama – o colchão era realmente macio, notou com agrado –, retirou os sapatos e afrouxou a gravata; ele pegou o roupão embrulhado em um saco biodegradável, para protegê-lo de sujeiras, e retirou suas roupas dentro do banheiro. O espaço era pequeno, tendo apenas um box de vidro separando o chuveiro do resto do ambiente. Sem energia para fazer qualquer outra coisa, Hiroki tomou uma ducha rápida, se vestiu com o roupão após se secar e prontamente deitou-se ao voltar para o quarto. Antes que dormisse, escutou o barulho da porta quando Shisui entrou.
De olhos fechados, Hiroki acompanhou o som dos passos suaves que ressoavam baixo no porcelanato. O moreno andou até a cama, mexeu na bolsa que carregava consigo, retirou os sapatos e foi para o banheiro, assim como o próprio loiro havia feito. No minuto seguinte, o chuveiro foi ligado e Hiroki deixou sua atenção se afastar da presença do outro homem no quarto. Dormiu rapidamente com o barulho da água o ninando assim como uma canção o faria.
Hiroki estava de bruços quando Shisui voltou do banho. O Uchiha, também vestido um roupão, deitou-se de costas para o colchão e virou o rosto para olhar o corpo grande ao seu lado, mais peludo do que o seu também, observou com excitação cansada, do tipo que não chegaria a lugar algum, mas que ainda existia no limbo da consciência e do sono. Shisui acabou por dormir em meio a sua admiração pela beleza do homem ao seu lado.
Como Shisui previu, havia levado a noite inteira para que montassem a nova área de armazenamento destinada aos Detetives, supervisores e a Doutora Sabaku no sistema. Tendo então tudo pronto para a coleta, não perderam tempo, abrindo o código para acessar a parte que mais interessa à investigação: as gravações da vítima.
A norma de segurança em imagem de Shinguru, artigo 100, diz que ninguém além do técnico interligado a Inteligência do Presidente pode acessar as gravações, porém na presença deste, pessoas com autorização da C.O.R.P.S; que Temari deixou previamente com o Sasuke, podem participar da coleta. Essa exceção foi concedida por causa da demora da entrega do Token, o aparelho que foi cedido a dupla de TI pelo agente Madara na reunião da manhã do dia anterior.
Naruto foi o primeiro a chegar. Os olhos azuis brilhavam intenso e ele mal conseguia ficar parado tamanha sua ansiedade em saber tudo o que aconteceu na noite em que Kakuzu desapareceu – que na dedução do loiro, como em um efeito dominó, conectaria com os próximos dias até que seu corpo fosse achado e a polícia alertada. Trouxe consigo seu amado chococino, mas não bebeu até que chegasse no prédio, pois estava dirigindo: O carro que comprou, com o auxílio do seu parceiro, havia chegado no dia anterior, no final da tarde, como Naruto informou a empresa. Nesta manhã antes de subir para o laboratório de informática, ele cadastrou como seu veículo oficial com a recepcionista.
— Bom dia. — Naruto saudou alegremente. — A coleta já foi iniciada? — perguntou ansioso. Queria ver todos os passos.
— Bom dia. — Hayato e Shisui responderam em uníssono.
— Ainda não. O código acabou de ser acionado e as gravações estão abrindo no S.I.R.D.E.S. — Hayato informou. Naruto respirou aliviado.
— Precisamos esperar o Detetive Uchiha. — Shisui lembrou. — Ele está com o documento que autoriza vocês a assistirem a coleta.
Naruto assentiu, tinha esquecido desse detalhe. Na verdade, mal havia dormido durante a noite anterior, pois sua mente não ficou quieta, girando e girando sobre tudo que escutou nos interrogatórios.
— Ah, aqui está o gravador. — o detetive loiro disse, oferecendo o aparelho. Quase esqueceu de entregar.
Shisui o pegou de sua mão: — Obrigada.
— Pode se sentar, Detetive Uzumaki. — Hiroki falou, oferecendo a dupla de cadeiras dispostas no canto do laboratório perto da porta, de frente para uma parede lisa sem decorações.
Um pouco envergonhado por ter ficado parado e em pé como uma estátua, sendo preciso que lhe oferecessem um lugar, Naruto se sentou na cadeira informada sem hesitar. Passou a tomar a bebida, observando, sem muita atenção, os dedos ágeis dos técnicos e os olhos que dançavam de uma tela a outra, e os vários clics. Os computadores tinham suas telas viradas para os técnicos, lado contrário a Naruto, então ele não conseguia ver o que estava sendo feito. Seu pé começou a bater, sem fazer barulho. De início o intervalo de uma batida a outro era grande, mas não demorou para que estivesse começando a acelerar. Seu corpo estava recebendo uma quantidade considerável de energia devido a sua ansiedade e inquietação, e Naruto agora não conseguia manter-se parado por completo.
— Ok, todas as gravações foram baixadas no sistema. — Shisui anunciou, assustando o detetive do seu desconforto.
Shisui se levantou e foi para o lado do seu supervisor. Hayato ainda estava bastante concentrado, terminando sua parte. O moreno se curvou para perto dele, seu rosto na altura da cabeça do outro homem, seus olhos focados no computador alheio, sem dizer nada ou desviar a atenção, e só voltou a se mexer quando Hiroki deu o último clic.
— Gravações conectadas ao holograma do Datashow.
Hayato desocupou sua cadeira, deixando Shisui a levar, junto com a dele, para o lado da cadeira em que Naruto estava sentado. Hiroki pegou seu tablet, acionou o controle do Datashow por ele, interligando as informações do sistema. No momento em que todos ocuparam suas cadeiras, Sasuke entrou no laboratório. Como em todas as manhãs, seus olhos eram duas fendas, quase se fechando, seu andar sonolento, porém em sua expressão o comum mal humor matinal. Naruto já havia se acostumado com essa visão diária de mau humor.
— A autorização está no perfil do Hayato no S.I.R.D.E.S. — o Uchiha informou sem delongas.
O Uzumaki prontamente entregou a outra embalagem de bebida que estava em sua mão esquerda, objeto esse que ninguém tinha notado até o presente momento, para o moreno. Sasuke agradeceu com um sorriso fechado e acomodou-se ao lado do parceiro.
— Vamos iniciar a coleta de gravações relacionadas a Hozuki Kakuzu, a partir da data de 11 de janeiro, um mês antes do seu desaparecimento, até a data em que foi encontrado, 15 de fevereiro. Ano de 2037. — Hayato anunciou.
A tela planeadora tomou a forma retangular e a primeira gravação foi iniciada. Nela vários carros passavam em frente de uma casa totalmente branca com uma grama bem aparada no jardim sem flores ou arranjos, com um carro do tipo esportivo na garagem – completamente diferente da residência em que Naruto e Sasuke entraram dias antes. Era o lar de Iayama Nora, mas nessa época a casa pertencia a um velho e detestável homem. Kakuzu saiu da casa, o relógio na tela marcava oito horas da manhã quando ele entrou no seu carro e saiu. Não havia ninguém na porta da casa ou perto das janelas. Ninguém se despediu dele. Naruto sentiu um aperto no peito imaginando o inferno que a vida de Nora e os filhos havia sido quando o infeliz ainda estava vivo.
A imagem mudou de ângulo, agora as câmeras seguiram seu carro por onde ele ia. O trânsito fluía com normalidade e Kakuzu não aparentava estar sendo seguido, também não havia pessoas perto dele olhando-o seguidas vezes, ninguém usando um boné ou um capuz, ou mesmo óculos escuros que denunciassem um comportamento suspeito. Pelo inverno daquele mês, muita gente vestia casacos pesados, toucas e cachecóis, mas ninguém se portava de forma estranha como esperado de um assassino. Hozuki foi ao trabalho, passou a maior parte do tempo na empresa, mas saiu para almoçar com Hidan, para a surpresa dos detetives. Eles estranhamente não falavam alto ou xingavam, estavam sentados um bem próximo ao outro; o cabelo longo e castanho escuro do falecido estava preso em um coque com fios desprendidos – ele poderia ser considerado um homem de meia idade bonito se não fosse tão podre por dentro – e Hidan tocou com intimidade os fios soltos. Hidan também não parecia o esquisito homem alto e pálido que os detetives conheceram, o cabelo estava bem pintado e, do ângulo das imagens, os olhos dele eram castanhos sem a lente.
Naruto ficou observando como eles se comportavam. Em um breve momento, Dorei segurou a mão do amigo em cima da mesa. Kakuzu o olhou, falou algo, e puxou a mão com certa brusquidão. Hidan xingou e abaixou o olhar. O clima pareceu ficar tenso e, minutos depois, ambos saíram. O Uzumaki semicerrou os olhos. Seria isso o que Dorei estava escondendo?
Na parte da noite, a vítima voltou para casa. Nada de incomum. Isso para o detetive loiro não parecia bom. Em sua mente, uma pessoa que pretende matar alguém, com tantos detalhes e tão precisamente, estaria vigiando a vítima constantemente, para que nada saísse fora do planejado. Mas não tiraria conclusões agora, ainda tinha muito para se assistir nos vídeos.
Assim foram as gravações dos dias posteriores àquele. A rotina do homem era trabalhar, almoçar; às vezes sozinhos, às vezes com Hidan, voltar para casa e não sair mais pelo resto da noite, exceto nas quartas e nas sextas, onde ele seguia para o bar com Zetsu. Naruto deduziu que ele pegava carona para não gastar dinheiro com a gasolina. A primeira gravação do bar não foi nada surpreendente. Como Zetsu disse, Hozuki e Dorei foram jogar, fizeram baderna, ganharam dinheiro – e muito, em seguida todos beberam e todos foram embora. Em nenhum momento apareceu alguém os vigiando próximo ao bar. E o ritmo das imagens foram esse; trabalho, almoços suspeitos de Kakuzu com o suposto amigo, volta para casa e o bar. Além de decepcionante, o loiro estava entediado.
— Faremos uma pausa. — Sasuke resmungou com a voz rouca, sua paciência no limite.
Ao voltarem a assistir as gravações, estavam agora no dia 27 de janeiro, perto do dia do desaparecimento. Tinham assistido mais de dez dias de gravações, em reprodução acelerada e com breves segmentos lentos nas partes em que Hayato e Shisui julgavam serem importantes ou que precisavam serem revistos – e mesmo nessas partes não havia nada de anormal além da relação questionável entre a vítima e seu melhor amigo.
Sentindo fome, Naruto foi almoçar com o parceiro no restaurante do prédio.
— As gravações deveriam ser rápidas assim mesmo? — perguntou curioso ao moreno enquanto ambos esperavam seus pratos ficarem pronto. Estavam em uma mesa de dois lugares, um de frente para o outro.
— Não. Hayato trabalha com isso a anos e tem os olhos bem treinados. Ele acelera os vídeos porque estamos juntos na coleta e pela pressa, mas se alguma coisa incomum acontecer, ou se Shisui notar algum acontecimento duvidoso ou estranho, eles irão nos fazer assistir novamente com mais precisão. Se tem algo suspeito, eles com certeza vão ver e nos notificar.
Naruto assentiu e sua expressão dizia que estava admirado com tal trabalho preciso da equipe técnica. Os dois detetives ficaram em silêncio. Os olhos azuis dançaram pelo ambiente, absorvendo o movimento e as pessoas que entravam e saiam enquanto Sasuke, por sua vez, observava o comportamento do companheiro, achando graça em como ele brilhava infantilmente entusiasmado com todas as novidades ao seu redor; tudo parecia incrível aos atentos olhos azuis, a julgar pela forma que sempre estavam arregalados em surpresa.
Foi então que o aparelho que lhes foi entregue pelo atendente vibrou, tirando Sasuke e Naruto dos seus respectivos pensamentos.
Ambos levantaram e foram buscar o pedido, voltando ao seus acentos. Passaram a comer tranquilos.
— Eu acho que eles tinham um caso. — Naruto soltou depois de um tempo em silêncio confortável.
Sasuke não alterou sua feição, mas prestou total atenção no companheiro com aquele comentário: — Por quê?
Naruto levou um pouco de comida a boca e mastigou com calma. Ele parecia pensar e o moreno esperou paciente.
— Estamos almoçando um de frente para o outro, certo? — o loiro perguntou de forma retórica. — Amigos, conhecidos, estranhos, todos almoçam nesta posição. Primeiro porque assim estamos olhando um nos olhos do outro, a uma distância agradável entre nossos rostos, e segundo porque não há contato físico e a pessoa não poderia invadir seu espaço pessoal tão facilmente. Mas principalmente, o motivo dessa posição ser confortável é porque, caso você queira sair, por qualquer motivo que seja, você consegue desviar da outra pessoa de forma rápida. — Naruto tomou um gole de suco antes de prosseguir: — Para que você sente ao lado de outra pessoa, a intimidade é bem maior. Seus corpos estão muito próximos, há o constante contato físico acidental, a pessoa ao seu lado tem acesso fácil a partes suas que muitas vezes não estamos confortáveis que alguém toque, e não estou dizendo de forma sexual, estou falando das pernas, dos braços, das mãos, que são áreas que muitas pessoas acham que podem tocar para chamar nossa atenção, porém na maioria das vezes, onde não queremos ser tocados. E quando você se vira para falar com a pessoa, os rostos correm o risco de estarem a centímetros um do outro.
Sasuke acenou mostrando estar acompanhando o pensamento do outro detetive.
— Kakuzu foi descrito como um homem rude, que só tem contato próximo com sua esposa quando quer ter relações sexuais, e com outras pessoas por interesse. Em todas as gravações, ele não chega a menos do que trinta centímetros de distância de ninguém, embora para os amigos ele dê um aperto de mão, e isso quando está de bom humor. Mas então ele se senta ao lado do senhor Dorei sem se importar com seus braços se encostando várias vezes? — Naruto suspirou, parando um pouco de falar para saborear a comida. — Dorei escondia alguma coisa quando o interrogamos. Eu cheguei a pensar que era o mesmo que Howaito, porém não parecia ser isso. Havia uma sombra no olhar do senhor Howaito, algo sobre o passado deles e de coisas erradas que fizeram, no entanto, os olhos do senhor Dorei estavam irados, como se ele odiasse algo, profundamente, e não conseguisse suportar aquela situação.
— Os outros do quarteto falavam do Kakuzu sem muito sentimento, não parecendo sentir mesmo a morte dele, mas não odiavam o homem. Dorei não, ele estava gritando raivoso, não queria falar do amigo e ressaltou que não se importava com isso. — Sasuke disse. Naruto assentiu com a cabeça repetidas vezes, em concordância.
— Exatamente. — exclamou animado pelo moreno estar seguindo sua linha de raciocínio: — Pessoas que não se importam, elas demonstram que não se importam, não ficam afirmando a insignificância. Ele estava em negação, com raiva, porque Kakuzu morreu.
— Dorei também foi o único que, de fato, ligou para o celular do Hozuki. Todos os outros disseram que não lembraram, ou que não tiveram tempo para ligar buscando falar com ele.
Naruto terminou de comer e limpou a boca. Em seguida, abriu o maior sorriso que Sasuke já havia visto: — Se o que pensamos estiver certo, a gravação do dia do desaparecimento vai nos dizer.
— O que você pensou. — Sasuke o corrigiu: — Eu apenas disse o que veio em minha cabeça depois de escutar seu brilhante raciocínio.
O Uchiha teve o prazer de assistir os olhos do loiro ficando arregalados e suas bochechas corarem furiosamente. Até mesmo as orelhas dele estavam vermelhas. Sasuke precisou de todo seu autocontrole para se levantar calmamente, dispensar o que ficou no seu prato em seus devidos lixos e colocar a bandeja na área de limpeza, saindo do local com passos tranquilos para o elevador. E, claro, para não corar e não abrir um grande sorriso durante o caminho.
O que Naruto estava fazendo com ele?
Inexplicavelmente, o assassino só apareceu no exato dia do sequestro da vítima. O primeiro vislumbre dele foi às seis da noite, antes de Kakuzu sair para o bar; era uma quarta-feira, ele passou com o carro lentamente na frente da casa de Kakuzu, parou um pouco a frente do local da moradia, mas não saiu do automóvel. Foram quase trinta minutos assim, para então o veículo simplesmente andar até o final da rua e virar à direita, saindo do campo de visão da câmera. Hozuki seguiu sua rotina normalmente naquele dia, alheio ao seu predador, e o carro roubado não apareceu em nenhuma câmera além da que estava de frente para a residência.
Naruto estava certo, tanto sobre Hidan e Kakuzu, quanto sobre a forma em que ele foi sequestrado. A câmera de um prédio situado na frente do Shiawasena ko que mostra a entrada amplamente, filmou com perfeição a saída dos cinco do bar, o momento em que o táxi chegou e a vítima entrando, o "melhor amigo" do seu lado. Dorei se curvou na janela esquerda, exatamente o lado da câmera, disse alguma coisa sorrindo e foi retribuído com uma careta sarcástica por Hozuki, e teve seus lábios roubados em um breve, porém lento, beijo. O táxi seguiu a pista, Hidan, no entanto, continuou parado no mesmo lugar, os dedos indicador e médio tocando os lábios, os olhos castanhos brilhando.
O Uzumaki sentiu o estômago revirar. Olhou para o lado encontrando olhos negros em sua direção. Diferente do comum, Sasuke mostrava expressivamente que além de surpreso pelo que viu, também estava enjoado com a cena. Mesmo que ambos tenham especulado a traição, não chegaram nem perto de pensar que seria assim; com tanta intimidade e carinho entre os dois velhos homens. Era quase surreal conectar o que sabiam sobre Kakuzu com o que viram ali; juntar então a imagem de um furioso Hidan, que fala mais palavrões do que palavras coerentes com aquele bobo apaixonado que olhava sonhador para onde o táxi de Hozuki seguiu. Era uma pintura quase inconcebível de existir nessa realidade para a mente dos detetives.
Porém fazia sentido a forma com que ele se portou. Dorei era o único que estava vivendo o luto da morte de Kakuzu. Essa constatação deixou Naruto doente.
O vídeo mudou, seguindo o táxi pelas pistas até que chegassem nos residenciais abertos. Na frente da casa, o senhor desceu, não disse nada ao motorista ou pagou pela corrida, apenas saiu cambaleando. O carro não esperou, apenas seguiu seu caminho e um outro veículo parou onde anteriormente o táxi ocupava. Sincronizadamente, Kakuzu trocou os pés e caiu no chão, estando próximo ao portão de sua casa. O homem pareceu aproveitar e no chão mesmo já buscou sua chave para logo depois tentar se levantar, e foi quando o assassino saiu do carro, ajudou sua vítima a se levantar, para em seguida tampar a boca dele com a mão enluvada. Kakuzu não apresentou muita luta e o assassino abriu a porta de trás do passageiro, o jogando lá dentro, e com calma deu a volta no carro e foi para o lado do motorista, entrando e ligando o veículo, saindo da cena do crime como se nada houvesse acontecido.
— Pausa. — Naruto pediu, a voz rouca.
Hayato parou o vídeo. O detetive loiro saiu da sala com pressa, sendo seguido pelo parceiro. Shisui se recostou na cadeira e cruzou os braços.
— O homem traiu a esposa. — disse o moreno, seu semblante sério. — Tinha uma rotina maçante, nunca fazia nada fora do previsível. Não é de se surpreender que tenha sido tão fácil para o assassino pegá-lo, não havia ninguém esperando por ele acordado.
— Mesmo assim, é incomum que o assassino não tenha o vigiado. — Hiroki comentou.
Shisui o assistiu alongar as costas. Os olhos dele estavam cansados e parecia que a qualquer momento iriam se fechar, era uma visão adorável no homem mais velho. Shisui mordeu o lábio e sua ansiedade correu diretamente para sua perna que ficou balançando, ele queria chamar o outro para sair, mas não sabia como e nem se deveria. Ainda mais diante daquela situação. Shisui tossiu e voltou a prestar atenção a conversa.
— Eu também achei estranho que ele não tenha cercado o Hozuki. — concordou com o supervisor. — Não teria disfarce nesse mundo que não seria perceptível se ele seguisse Kakuzu. Na terceira vez, teríamos percebido.
Hayato parou os alongamentos e voltou a se sentar. Ao invés de ficar de frente para a tela, ele se virou, inclinou o corpo até que seu o rosto estivesse próximo ao do moreno.
— Fala. — ele sussurrou.
Cada mísero pêlo do corpo de Shisui se arrepiou. Sua boca secou e seus dedos coçaram para tocar na barba no rosto tão próximo do dele. Não ficou surpreso pelo loiro mais velho ter notado sua ansiedade e sua hesitação; Hiroki era um homem inteligente e experiente, deve ter lido a hesitação em seus olhos inquietos ou sua postura nervosa.
— Eu estava pensando... — o moreno passou a língua no seu lábio inferior. — O apartamento em que estou hospedado tem uma ótima adega. Você não quer ir lá e tomar um vinho? — falou, mas então percebeu como parecia que estava chamando o supervisor para uma noite de sexo e não queria dar essa impressão. Apressou-se a dizer: — Ele também é próximo ao parque Yoji, podemos fazer uma caminhada, conversar um pouco sobre algo além de códigos.
Hayato deu um sorriso divertido, os olhos dele mostrando como ficou agradado com o convite.
— É uma ótima ideia. — Hiroki respondeu, se aproximando um pouco mais.
Nesse momento os detetives retornaram para a sala. Hayato se endireitou na cadeira e pegou seu tablet, seguindo com as gravações.
A próxima imagem agora focava a frente do hospital abandonado, a lateral da câmera mostrando ser onze horas da noite do dia 12 de fevereiro. Não havia movimento próximo além do carro roubado, o assassino, usando roupas pretas, capuz e uma máscara, exatamente com as mesmas vestimentas da noite em que sequestrou a vítima, desceu do carro e rodeou o veículo, abriu a mesma porta em que havia jogado Kakuzu um dia antes, e puxou o corpo por uma corrente. A vítima foi arrastada por todo o caminho – ele se mexia, porém devagar e esporadicamente, mostrando estar bastante atordoado –, até que sumissem dentro do hospital. Minutos depois disso, o criminoso retornou ao veículo, abriu o porta-malas, tirou uma caixa de lá, fechou e voltou para o hospital.
Hayato acelerou o tempo em que a câmera gravou apenas o carro estacionado. Quase uma hora depois, minutos antes da meia noite, o assassino sai do Marui, com a caixa na mão enluvada suja de sangue, vários pontos da roupa também sujas, e guarda o objeto, entrando no carro e seguindo a pista para longe da área abandonada. Ao longe ainda deu para ver ele entrando em uma área pouca conhecida da reserva florestal do parque Yoji, na cidade Minaku.
E por fim as gravações terminaram.
Sasuke olhou para o parceiro, o encontrando com o semblante estarrecido.
— Como eu não pensei antes?! — Naruto se perguntou exasperado e soltou um grunhido insatisfeito. — Era tão óbvio.
— Não pensou em que? — Shisui questionou confuso.
— A reserva florestal. — Naruto respondeu em tom de obviedade. — Durante a nossa investigação, eu me perguntava onde estava o carro que foi usado. Como que ninguém tinha o achado até agora. — o detetive loiro levantou e passou a andar de um lado para o outro. — Quando nós fomos ao hospital, eu parei e observei toda a imensidão da floresta, apreciei a vista e pensei que, se não fosse pela epidemia, Marui estaria funcionando até os dias de hoje. Pensei também que os paciente certamente amavam a visão oferecida do parque. — o loiro parou na frente dos três homens confusos na sala.
— Linda reflexão. — falou debochando de si mesmo. — Porém o pensamento mais importante minha mente não sintetizou: Para pessoas que conhecem bem a reserva, esconder um carro onde os guardas não encontrariam em suas rondas é uma grande possibilidade.
— Não sei como você poderia pensar algo assim tão de repente. É um detalhe que exige mais informações sobre o suspeito para ser deduzido. — Hiroki disse apaziguador. Sem perceber, Naruto estava se cobrando algo improvável de acontecer.
— Eu penso em muitas coisas de repente, senhor Hayato. — o detetive disse. Parecia irritado consigo mesmo. — Não consigo entender como não vi, estava tão claro.
Shisui pigarreou: — São muitas variáveis, Detetive Uzumaki. — disse no mesmo tom do supervisor. — Ele poderia deixar escondido em outro lugar na cidade, se conhecê-la bem, também.
Naruto negou. A cabeça dele estava baixa, não reconhecendo os olhares simpáticos dos técnicos porque ele fitava o chão. De onde Sasuke estava, ele conseguia ver o cenho franzido e os lábios pressionados em uma linha reta. Os olhos azuis brilhando em pura indignação, uma batalha silenciosa contra sua própria mente. O moreno concordava com Hayato e Shisui, o loiro estava cobrando muito de si, mas pelo pouco que aprendeu nas últimas semanas sobre o Uzumaki, o Uchiha entendia o porquê do parceiro estar assim.
— Irei acionar a polícia de Minaku e a guarda florestal do Yoji, vamos achar o carro que o criminoso escondeu. — o moreno disse, pondo fim a discussão dos outros três no laboratório.
— Vamos para lá agora? — Naruto perguntou, saindo da inquietude que parecia tomar posse aos poucos do seu humor. O seu rosto ainda estava contorcido em raiva, porém ele se controlava para não esbravejar, como era a sua vontade.
— Vão levar horas para acharem o veículo. — Sasuke respondeu. — E já passa das sete da noite, Naruto. Precisamos descansar para dirigir por mais de duas horas de volta ao local. — ele foi para a saída do laboratório. — Amanhã sairemos no horário de sempre e vamos direto para Minaku, está bem?
Naruto suspirou. Sasuke tinha razão.
— Claro. — respondeu. — Até mais. — se despediu dos técnicos.
— Até mais. — eles responderam, não tentando mais confortar o Uzumaki.
Sasuke acenou em despedida e fechou a porta após a saída do loiro.
Naruto foi retirado de um pesadelo pelo toque insistente do seu celular.
No sonho, ele acompanhava de longe os acontecimentos confusos das gravações que assistiu no dia anterior. Ele viu Kakuzu e os amigos bebendo; o falecido homem passou a arrotar nojeiras em tom de virilidade em algum momento da cena. Presenciou um desagradável, longo, molhado e barulhento beijo dele com Hidan que o fez ter ânsia de vômito e, em uma mudança súbita de cenário, o loiro estava dentro do carro roubado junto ao assassino, esse que não olhava para ele, apenas andando dentro de uma floresta sem fim. As vestes negras faziam com que a silhueta parecesse a de um demônio e ele murmurava alguma coisa; estava relaxado, mas então olhou para o lado em que Naruto estava sentado e o loiro sentiu a respiração parar com a visão, pois a máscara que usava e o fato de não conseguir ver os olhos do assassino causou um violento arrepio de medo no Uzumaki.
Foi então que Naruto foi rudemente despertado. Ele nunca ficou tão profundamente agradecido por alguém inconveniente estar ligando tão tarde da noite.
Cada um dos poucos contatos em seu aparelho tinha sua música tema – o loiro gostava de associar coisas à pessoas, e pelo som irritantemente padrão do toque, não era um conhecido dele. Abrindo a tela, Naruto leu "chamada restrita". Ou era Sasuke, ou Madara. Naquele horário, quatro da manhã como verificou, seja quem for, não podia ser boa notícia.
— Alô. — atendeu sonolento.
Escutou o som de tecidos sendo remexidos. Poderia ser de alguém se mexendo na cama ou se vestindo.
— Naruto. — Sasuke chamou. A voz dele estava rouca e grossa, provavelmente estava dormindo a pouco tempo também. — O Agente Madara me ligou. Encontraram outra vítima.
Com aquilo Naruto despertou por completo. Levantou-se com pressa da cama e seguiu aos tropeços para o closet.
— Onde? Quando? Como? — perguntou afobado. Segurou o aparelho entre o ombro e a orelha, desocupando as mãos para pegar um terno e um casaco. Mesmo na primavera, as manhãs são frias em Kyoki.
— Não me deram muitos detalhes. — a voz de Sasuke parecia longínqua no outro lado da linha. — Sei apenas que um grupo de garotos baderneiros decidiram entrar em um local proibido, viram de longe o corpo pendurado e ligaram para a polícia.
— Isso em Kyoki? — o loiro perguntou desconfiado.
O som de zíper fechando atiçou, de forma imprópria e em um momento completamente inoportuno, sua imaginação. Não era hora de pensar que Sasuke acabara de acordar, com os cabelos bagunçados e cara de sono e que, ao mesmo tempo em que o moreno o atualizava sobre um novo crime, estava se vestindo. Mesmo sendo uma visão tentadora, Naruto não poderia permitir sua mente viajar para um ambiente impróprio agora.
— Não, em Satsaku.
Escutou passos. Precisava se apressar, pois pelo que parecia, Sasuke já havia terminado.
— Isso não fica no Sudoeste de Nangoku? — questionou confuso. Nunca foi muito bom em geografia.
— Sim. — Sasuke respondeu, a voz apertada.
Barulho de água. Naruto correu para pegar o sapato e se sentou para o colocar.
— Mas é o lado contrário a Minaku, que fica na parte Noroeste de Shinguru! — bom, isso ele sabia.
— Exato. — Sasuke respondeu. — Vou esperá-lo em frente ao seu residencial. Estou chegando em quinze minutos. — avisou
— Vamos no seu carro? — o loiro perguntou surpreso.
— Bom, se você preferir. — Naruto escutou passos, o som com pausas curtas dizendo que Sasuke estava decendo uma escada. A casa dele tinha mais de um andar? — Ou você pode me seguir no seu carro. — seu parceiro concluiu com pouca paciência.
— Se eu for no seu, você vai precisar me deixar em casa.
No outro lado da linha, Sasuke abriu a porta do carro, fechou, andou um pouco, e abriu de novo. Disse: — Não é um problema.
— Está bem. — Naruto concedeu e correu para o banheiro. — Estou esperando.
Sasuke resmungou uma despedida e os dois desligaram ao mesmo tempo.
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Retalhos
FanficA linha tênue entre o certo e o errado está estirado ao ponte de ruptura quando um homem mascarado desafia a moralidade em seus atos dissimulados e cruéis. Para encontra-lo, Uchiha Sasuke é convocado independente de sua dor pelo luto. Enquan...