XVI - O Pugilista aposentado

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NOTAS DA AUTORA:
ATENÇÃO,  AVISO:
O Gaara não vai ser usado como empecilho para o casal e nem como triângulo amoroso, porém GaaNaru vai acontecer. Capítulo betado por lol-Hinata. Obrigada pela atenção.
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XVI
O Pugilista Aposentado

Necrotério Yasumu. 14 de março. 08 a.m.

Como normalmente acontece em todas as manhãs, Sasuke seguiu o conhecido caminho para o prédio Hanzai. Naruto ficou confuso quando percebeu isso, pois na noite passada o seu parceiro o avisou que iriam diretamente para o necrotério oficial, que é para onde o corpo foi transferido, ao invés de irem para Hanzai; o Uchiha se ofereceu para buscá-lo visto que Naruto não sabia onde era, e o loiro aceitou agradecido. Notando que o caminho não mudou em nada, ele se perguntou sobre qual a probabilidade de Sasuke ter esquecido a mudança de caminho daquela manhã.
Não querendo insinuar que Sasuke tenha problema de memória ou ser visto como um estúpido caso esteja tirando conclusões precipitadas, Naruto se manteve calado observando os arredores por onde passavam. Eles passaram pela barricada policial e seguiram em direção ao prédio, porém não viraram para os grandes portões, passando direto por estes. Curioso, Naruto manteve os olhos na janela, procurando diferenças nessa outra estrada. Não, realmente havia algo de novo ali, toda a área do governo estava cercada e do outro lado parecia ser a fazenda de alguém, a julgar pela cerca. Meia hora depois de passarem pela entrada de Hanzai, que Naruto julgou ser em torno de trinta quilômetros de distância do prédio principal, o espaçoso SUV de Sasuke parou na frente de um portão semelhante ao anterior. Sasuke não precisou se identificar, ele nem ao menos abriu a janela, a entrada deles foi liberada no seguinte que o carro parou.
Descendo do SUV, Naruto ficou de frente a entrada principal de uma construção em forma de concha. Seguindo Sasuke por um amplo corredor, ele não sabia o que esperar de um necrotério, mas com certeza não imaginaria um local tão bem iluminado, tão branco e com cheiro de hospital.
— Por que o corpo foi transferido antes de ser identificado? — Naruto deu voz a pergunta que se manteve em sua mente desde o momento que Sasuke lhe disse, de forma sucinta, onde iriam para o reconhecimento.
— Não é permitido a entrada de civis no prédio principal. — ele respondeu.
Passaram por porta dupla a direita do corredor. Uma delas estava aberta mostrando uma grande sala de reuniões.
— Por que no prédio principal não é permitido, mas aqui sim? — assim que terminou de falar, a pergunta soou um pouco estúpida aos seus ouvidos, então ele rapidamente remendou: — Ainda estamos em uma área do governo, deveria ser proibido civis aqui também.
Mais à frente eles passaram por outra porta dupla, porém essa estava a esquerda do corredor, sendo que ambas estavam abertas e Naruto viu, ao espiar brevemente, que era um imenso refeitório.
— Não sei os detalhes, mas está no site oficial que a mudança de onde acontece o reconhecimento aconteceu anos atrás depois de um incidente com um hacker. — no final do corredor havia outra entrada de porta dupla. — Ele invadiu o sistema depois de invadir a rede de internet de dentro do prédio, ele entrou como um civil, então a C.O.R.P.S. desativou o centro de treinamento que havia aqui e remontou para um necrotério. Mesmo que civis possam entrar por aqui, a entrada é permitida somente mediante acompanhamento de um oficial.
Naruto assentiu. É uma história interessante e ele anotaria em seu tablet para pesquisar mais a respeito quando estivesse em casa.
Pensar em casa automaticamente o remetia para seus pais, filho e amigos. Faltava pouco para vê-los, já que viriam nas férias de Konohamaru para deixá-lo, aproveitando para ficarem pelo final de semana. O Uzumaki iniciou um planejamento de turismo, iria aproveitar esses dois dias para conhecer Kyoki com sua família. Konohamaru ficaria por mais uns dias, entretanto.
Adentrando a porta dupla no final do corredor, Naruto olhou do corpo na mesa de autopsia para a grande sala fria e vazia, seus olhos seguindo para o Doutor Sabaku que estava ao lado do corpo. O homem não se encaixava com o ambiente a sua volta quando está vestido com um terno que normalmente fica coberto pelos EPIs necessários na autopsia.
— Bom dia, Detetives. — Sabaku saudou. Sasuke acenou em saudação, Naruto murmurou sua resposta. — Colhemos um breve relato dos civis que reportaram desaparecimento na data aproximada da morte da vítima, dentre eles, apenas a descrição de duas famílias sobre o ente faltoso foi compatível com a vítima. — informou.
Há um tablet nas mãos grandes e firmes de Gaara, onde ele verificou as informações enquanto as passava. Ambos os detetives estavam ali para colher o primeiro depoimento da família da vítima; algo que apenas Sasuke fez ao ter a identidade de Kakuzu. Naruto não queria se aprofundar em seus sentimentos de insegurança por nunca ter falado com parentes desolados perante a morte de um ente querido, mas era quase impossível não ser dominado por eles à medida que o reconhecimento se aproximava.
— Pode mandar que a primeira família entre. — o Uchiha disse tendo como resposta o balançar da cabeça de Gaara que saiu pela porta dupla.
O frio na barriga do loiro se intensificou assim que as palavras saíram da boca bonita do parceiro: E não apenas por ter certeza de que seria um momento sensível, mas também pelos olhos negros de Sasuke se fixarem em sua direção após tê-lo dito. As esferas negras pareciam querer lê-lo, porém eram ilegíveis para Naruto, que não soube o que Sasuke estava pensando ou o porquê de ele não desviar de seu rosto mesmo quando os passos do doutor puderam ser ouvidos acompanhado por um outro caminhar mais sutil.
Uma mulher de meia idade adentrou pela porta dupla depois do doutor Sabaku. Ela era loira, com alguns fios grisalhos, olhos caramelo e andava rápido, como se estivesse com pressa, entretanto suas pisadas eram suaves. Naruto não poderia saber a idade dela usando sua aparência como base, então se indagou em pensamentos qual seria o parentesco dela com a pessoa sumida; esposa? Irmã? Mãe? Amiga? A mulher em questão desacelerou ao se aproximar da mesa e lentamente olhou para o corpo, encontrando apenas o rosto livre do pano branco. Seus olhos foram analíticos, esquadrinhando o que ainda restava do falecido. Levou alguns minutos até que ela, em um misto de alívio e apreensão, acenasse em negativo.
— Não é meu marido. — ela disse em tom de certeza. — Marcus tem um rosto anguloso e muito rústico. Mesmo com a pele envelhecida e enrugada, ele ainda pareceria um fazendeiro.
Sabaku assentiu. — Muito obrigado pela sua cooperação, senhora Morais.
A mulher encarou o ruivo por alguns segundos, parecia querer dizer algo, mas logo assentiu e saiu, tão rapidamente quanto entrou, só que desta vez estando sozinha. Ela provavelmente queria perguntar quando a polícia encontraria o marido dela, ou se ao menos estavam tentando, Naruto pensou.
  Sabaku, com uma expressão vazia de quem está mais do que acostumado a isso, saiu da sala e voltou minutos depois para o lado da mesa. Apenas nesse instante Naruto se permitiu reparar na aparência do médico sem o equipamento de legista; o corte do terno escuro cobriu perfeitamente seu corpo e até mesmo combinava com o jaleco, o adicional da gravata cor de esmeralda realçou os incríveis olhos verdes dele. Ao olhar para a peça, Naruto lembrou que continuava a ir trabalhar sem gravata por não saber dar o nó.
Seu momento de apreciação foi encerrado quando uma senhora idosa e um pouco curvada, junto a uma jovem de longos cabelos negros, passaram lentamente pela porta – se era pela condição de idade avançada da mulher mais velha, ou simplesmente hesitação, Naruto não saberia dizer. Segundos depois que ambas pararam ao lado da cabeça do falecido, a senhora tampou a boca com lagrimas lentamente saindo pelos seus olhos sem que ela ao menos piscasse. A jovem, ao contrário de sua companheira, não reagia, com seus olhos escuros arregalados e seu corpo estático. A partir da reação delas, não era mais preciso que elas dissessem algo, pois ficou óbvio, ao menos para Naruto, que ambas reconheceram o corpo.
— É ele, — a jovem sussurrou. — é Zabuza.
Isso pareceu tirar o ar da senhora, pois ela curvou ainda mais o corpo e balançou com as pernas querendo ceder. O corpo do Uzumaki ficou tenso pronto para uma rápida resposta caso a idosa precisasse ser amparada, porém rapidamente a jovem a segurou com mais força, pelo menos o tanto que sua pequena estatura sugeria.
— Meu filho... — ela choramingou. — ... meu único filho está morto. — engolindo um soluço, ela questionou: — Por quê? — um lamento alto seguiu a pergunta, sua voz reverberando na sala praticamente vazia. — Por que fizeram isso com ele? — desoladamente ela murmurou: — Zabuza nunca fez mal a ninguém.
Naruto desviou seus olhos da mãe em sofrimento a fim de olhar diretamente para o corpo na mesa. Ele nada sabia sobre Zabuza, mas duvidava seriamente que o homem fosse a boa pessoa que ela passou a murmurar, incansavelmente, que ele era. Não que fosse dizer suas dúvidas e deduções para ela, jamais sugeriria isso à uma mãe sofrendo o impensável com a morte do filho. Naruto se virou para Sasuke, encontrando seus olhos que transmitiam sua mesma descrença na bondade infindável da qual a senhora falava.
Ambos esperaram pacientemente que a mulher se acalmasse. Levou alguns minutos para a intensidade do choro diminuir. A moça tentou apoiá-la, sussurrando coisas que nenhum dos presentes se incomodou tentar ouvir.
— Senhoras, poderiam nos acompanhar, por gentileza? — Sasuke perguntou assim que a idosa parou de soluçar.
A mais velha não respondeu, porém a mais jovem acenou, segurando firme a senhora e apoiando seus passos vagarosos enquanto seguiam Naruto e Sasuke para a sala de reuniões.
Ao entrarem na primeira porta dupla do corredor, as duas mulheres se sentaram nas cadeiras em frente aos detetives – estes se sentaram lado a lado. Sasuke colocou o gravador na mesa em frente aos quatro. Naruto pegou seu tablet, abriu o aplicativo de notas, escreveu a data e o horário, pronto para anotar todos os pontos que achasse relevante e que precisassem, por algum motivo, serem revisados.
Quando Naruto desviou a atenção do tablet, Sasuke fez um breve gesto com a cabeça, dizendo em sua expressão para Naruto iniciar o interrogatório. Inicialmente o Uzumaki ficou surpreso, pois iniciar significa comandar o interrogatório, algo que Naruto não esperava.
— Poderiam nos dizer seus nomes completos? — Naruto perguntou com o tom mais ameno que conseguiu.
Houve um breve silêncio onde a jovem olhou para a idosa claramente esperando que ela respondesse, porém isso não aconteceu, visto que a idosa ainda estava abalada de mais para dizer algo aos dois homens na sua frente – ela nem ao menos olhava para eles. Percebendo isso, Haku endireitou a postura e encarou os detetives.
— Eu sou Yahabara Haku e a senhora ao meu lado é Momochi Nanami.
— Qual o grau de parentesco de vocês com a vítima?
— A dona Nanami é mãe de Zabuza. Eu sou... — ela suspirou tentando acalmar a voz que a cada palavra se tornava mais tremula. — Eu sou o namorado do Zabuza.
Naruto se manteve calmo com uma expressão profissional, mas por dentro estava chocado que confundiu um homem com uma mulher por todo esse tempo. Não que fosse algo surreal um homem que se veste com roupas que a sociedade reconhece como femininas, mas sim porque ele conviveu com as mais diversas pessoas e costumava perceber isso.
— Pode nos dizer o que aconteceu no dia em que Momochi desapareceu?
A expressão de Haku mudou, mostrando concentração. — Eu trabalho de garçom durante a noite. Depois de buscar Haru na escolinha, Zabuza o levava no restaurante para me ver, mais ou menos na hora do jantar, depois eles seguiam para casa, onde a senhora Nanami serve o jantar para Haru e o coloca para dormir após o banho. As vezes o Zabuza saía depois da janta e de onde ele estava ele ia direto para o trabalho, como isso era algo comum só achamos que algo estava errado quando a escolinha ligou avisando que Haru ainda estava lá e o pai não foi buscar. Eu larguei o serviço, corri para pegar meu filho e fui para casa irritado porque Zabuza havia esquecido o nosso garotinho, mas ele não estava em casa. Ficamos esperando por ele até perto das dez da noite, então entramos no carro e fomos para a delegacia mais próxima, porque por mais irritado que eu estivesse, eu sabia que Zabuza nunca... — Haku respirou fundo. — Ele nunca esqueceria nosso menininho.
— Vocês não falaram com Zabuza em nenhum momento ao longo do dia em que ele desapareceu?
Haku negou. — Na noite anterior, depois que ele já tinha ido para casa com Haru, já perto da hora do restaurante fechar, eu dei por falta do meu celular. Procurei no restaurante e posteriormente em casa, porém não estava em lugar nenhum. Eu fiz a ocorrência online do objeto que foi roubado. A senhora Nanami não tem aparelho celular, nem Haru, os únicos que tinham éramos eu e Zabuza. No horário do almoço eu tentei ligar do telefone de casa para ele, mas ele não atendeu. Tentei novamente quando cheguei em casa depois de pegar Haru na escolinha, novamente ele não atendeu.
Haku estava visivelmente tentando ficar calmo para apoiar a senhora Momochi que ainda chorava, porém de forma silenciosa. Naruto sentiu muito por eles, pois mesmo não sabendo o que ligava Zabuza a Kakuzu, a morte dos dois foi cruel.
— Vocês viram algo incomum na última semana? Alguém que pudesse estar os vigiando? Ou se Zabuza estava se comportando de forma diferente?
— Tudo foi dentro da nossa normalidade. Zabuza agiu como sempre, no seu temperamento comum. Até essa tarde onde ele não foi pegar Haru, nada de incomum tinha acontecido nas nossas vidas.
Sasuke assentiu e desligou o gravador. Naruto fechou a tela do tablet e ambos se levantaram, gesticulando para que a senhora e Haku fizessem o mesmo.
— Muito obrigada por ter respondido, senhor Yahabara. A investigação já foi iniciada e manteremos sua família atualizada conforme progredirmos.
— Caso seja preciso termos uma nova conversa, eu avisarei. — Sasuke disse.
Haku assentiu, suas mãos aparando o corpo rechonchudo da sogra.
— Obrigado, detetives.
Eles se viraram seguindo para a saída, mas antes de efetivamente saírem, a voz baixa e rouca de Nanami se manifestou: — Meu filho sofreu muito?
Aquela era uma pergunta que Naruto não sabia se podia responder e mesmo se pudesse, ele não queria. Quem realmente falou algo foi Sasuke e até mesmo ele estava obviamente desconfortável.
— Não foi fácil para ele. — era tudo o que ele poderia dizer.
Por um momento a velha pareceu que iria cair de novo e os dois ficaram rígidos temendo que Haku não conseguisse segurá-la, mas então ela se encostou mais no corpo magro e jovem do genro e ambos sumiram de vista alguns passos depois.
Naruto aguardou em silêncio Sasuke se organizar e ambos saíram da sala, seu estômago incomodado com a situação. Eles seguiram para a saída do Necrotério, cada um em seus pensamentos.
— Detetive Uzumaki?
Naruto parou e se virou ao ouvir a voz conhecida. Era o Médico Sabaku. O loiro achou estranho que ele estivesse ali, próximo a porta da sala de reuniões, já que eles não combinaram alguma reunião com o ruivo, mas o mais incomum era este estar o chamado.
— Sim? — respondeu em tom de dúvida.
Sabaku olhou brevemente para o lado do Uzumaki, o que o fez virar para olhar na mesma direção. Era Sasuke. O moreno estava a alguns passos de distância, no entanto, também havia parado e se virado, seus olhos negros seguindo Gaara. Percebendo que o loiro o encarava, ele se virou.
— Irei esperá-lo no estacionamento. — Sasuke avisou antes de voltar a caminhar em direção a porta de entrada do Necrotério.
Naruto se voltou para o médico aguardando-o chegar mais perto.
— Eu gostaria de saber se você quer sair para jantar comigo?
A pergunta mais que direta foi uma surpresa, Naruto não poderia negar. Por mais que em seus encontros ele esteve em dúvida se Gaara estava ou não flertando consigo, não passou pela cabeça de Naruto que Gaara chegaria a investir nele: Não que ele se opusesse a ideia, visto que esteve, sim, interessado no médico.
— Claro. — respondeu assim que percebeu estar perdido em pensamentos criando um clima tenso de possível rejeição que não era a intenção dele. — Seria ótimo sair com você. — reafirmou em tom de certeza.
Gaara deu um pequeno e sensual sorriso, os olhos verdes intensos brilhando diante da sua resposta positiva, demonstrando sua aprovação diante da certeza de Naruto.
— Poderia me emprestar seu celular? — perguntou.
Naruto franziu o cenho, estranhando o pedido, entretanto não demorou a entregar o aparelho para o doutor, observando curioso enquanto Gaara digitava alguma coisa para em seguida devolver o celular ao dono. Olhando para a tela ligada, o Uzumaki percebeu serem números.
— Este é o meu contato. Me adiciona e me mande uma mensagem para que eu possa salvar o seu. — Gaara chegou um pouco mais perto, se inclinando para sentir o perfume do loiro, sem invadir seu espaço pessoal evitando uma situação desconfortável, além de que estavam em serviço, e próximos a uma sala de necrotério.
Naruto se sentiu arrepiar.
— Irei chamá-lo. — concordou. E então ele sorriu. — Vamos combinando o jantar.
Gaara assentiu, encarou os olhos azuis cristalinos e sorriu. Então ele se virou e retornou para a sala de reunião, sem tocar em Naruto, que mesmo sem contato físico, se sentiu aquecido pelos penetrantes olhos verdes.

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