IX - Aquilo que vem com a intimidade

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IX
Aquilo que vem com a Intimidade

Antes de ir ao colégio Chishiki, onde sua sobrinha cursava o quinto ano do ensino básico, Sasuke passou na sala do parceiro, pois se ofereceu para levá-lo e jamais faltaria com sua palavra. Naruto autorizou sua entrada. Ao passar pela porta se deparou com algo no mínimo incomum: o outro homem estava fungando, com os olhos inchados e vermelhos, mostrando despreocupadamente o seu recente choro.
No momento em que o viu, seu corpo ficou tenso. Primeiro por não saber como reagir a uma pessoa chorando – e nem a emoções em geral, e segundo porque, apesar dele ter respirado fundo duas vezes antes de perguntar “temos outra reunião?”, o loiro não tentou disfarçar que chorou, nem antes do Uchiha entrar e nem depois do moreno ficar obviamente desconfortável. Naruto parecia não se importar com o que Sasuke poderia pensar dele naquele momento e isso era estranho de tantas formas que o moreno precisou pigarrear, para se recompor, antes de responder:
— Eu preciso resolver um assunto pessoal. — os olhos negros desviaram do rosto corado com a ponta do nariz avermelhado para ver com mais detalhes a imagem em holograma projetado em cima da mesa; — E como eu ofereci ajuda com o seu transporte, vim perguntar se você não se importa de ir agora comigo.
Naruto assentiu, os olhos azuis demonstrando a sua surpresa, se por causa do Uchiha ter falado sério sobre as caronas ou alguém como ele sair mais cedo do trabalho, Sasuke não sabia, porém ele não se apegou à expressão aberta e transparente do loiro por estar mais interessado em outra coisa: quem era aquela criança no holograma?
O Uzumaki voltou para a mesa ficando novamente no campo de visão do filho.
— Eu preciso ir, Kore. — informou com pesar. Konohamaru, que ainda estava fungando pelo intenso choro, acenou e fez um biquinho fofo. Naruto sorriu. — Vou te ligar todos os dias nesse horário, está bem?
— Sim, papai.
— Comporte-se, obedeça aos vovôs e ao velho Sarutobi. Estude bastante e quando você tiver algo na escola, ou alguma competição na natação, me avise. Ou peça para sua mãe o fazer que eu vou estar presente, tudo bem?
Isso deixou o menino tão alegre que ele inclinou a cabeça exibindo o sorriso de pura felicidade.
— Eu vou avisar. — então ele se aproximou do receptor e seu rosto ocupou toda a transmissão, deixando o nariz e as bochechas dele enormes. Mesmo com toda a curiosidade em quem a criança era, Sasuke não pode evitar achar o garoto uma graça. Instantaneamente se lembrou de Sarada e isso fez com que o moreno sentisse simpatia quase automática pelo menino. — Tô com saudades, papai. Mal posso esperar pelas férias.
Os olhos do loiro suavizaram levemente e Sasuke sentiu um arrepio subir desde seu estômago até seu peito tamanho o carinho transbordando dos olhos azuis.
— Eu também estou esperando ansiosamente. Amo você, Kore.
— Também amo você papai, mil milhões*.
A fala pareceu o desestabilizar por alguns segundos antes dele responder com a voz mais mansa e calma que um ser humano poderia ter: — Mil milhões. — concordou o loiro.
Pai e filho (Sasuke ainda estava abismado por essa recente descoberta) trocaram sorrisos pela última vez e o loiro deslizou o dedo indicador na base da projeção para encerrar a chamada. Depois, ambos ficaram em silêncio por alguns minutos; Sasuke esperando Naruto se estabilizar e o Uzumaki respirando fundo para acalmar seu coração.
Estava com tanta saudade, mas tanta, que seu coração poderia virar suco tamanho o aperto que sentia nele. Deixou mais algumas lágrimas caírem antes de suspirar e passou os dedos nas bochechas secando o excesso. Sasuke assistiu cada movimento atentamente, sem perder nenhum detalhe, sua curiosidade e espanto visíveis em seus olhos negros, mostrando expressões que nunca ninguém presenciou antes, não pessoas fora do seu círculo pessoal.
Naruto é, de certa forma, interessante.
— Não vai ser um problema sairmos mais cedo? — perguntou.
Sasuke voltou a se esconder na sua máscara impassível. Não mudou muita coisa, Naruto nem ao menos percebeu o interesse descarado do moreno, sua atenção ainda estava totalmente voltada para seu filho e a saudade que o consumia.
— Como não programamos uma investigação de campo para hoje, podemos concluir os relatórios do andamento de forma residencial. — explicou.
Naruto assentiu. Saiu de trás da mesa e foi para a porta, parando somente para pegar seu paletó – a gravata esquecida em cima da poltrona. Sasuke o seguiu. Ambos pegaram o elevador e desceram para o estacionamento subterrâneo, entrando em seguida no SUV espaçoso do moreno.
Todo o caminho foi feito em silêncio, cada um preso em seus pensamentos. Agora focado na sua família desestruturada com a morte do irmão, Sasuke perdeu a indiferença e ficou com a expressão fechada, totalmente submerso na dor do luto. Dessa vez Naruto percebeu a mudança de comportamento do parceiro, mas não se achava íntimo o suficiente do outro homem para perguntar o que aconteceu nesse meio tempo do almoço em que não se viram.
De repente, se lembrou que o moreno disse estar saindo por assuntos pessoais e automaticamente sua mente trouxe à tona tudo o que leu sobre a família Uchiha.
Uchiha Itachi morreu em um acidente de automóvel vítima de um homem irresponsável que misturou bebida com direção; algo intolerável na grande Shinguru, passível de prisão e correções administrativas. Pelo o que leu, ele deixou seu marido, Uchiha Deidara, e a filha Uchiha Sarada ao falecer. Além deles, o único Uchiha vivo é o pai de Sasuke, Fugaku, um homem condenado a solidão depois da esposa falecer de câncer. É de conhecimento mundial que os filhos renegaram o pai e o deixaram na velha Satsujin, cidade natal da família desde gerações antigas. Concluiu que o parceiro iria ver o cunhado e a sobrinha. Quis ir também,  porém nem ao menos cogitou a hipótese de pedir, ciente que esse pedido seria completamente invasivo.
Focado em entender, pelo menos um pouco, sobre o homem mais fechado e misterioso de Shinguru, Naruto só foi notar que não estavam no caminho para os residenciais fechados quando entraram no centro de Kyoki. Passaram pela pista comprida em frente dos comércios, provavelmente a principal da cidade, e então entraram a direita, sentido oposto a estação por onde chegou ali há um dia atrás. Como não conhecia nada além do seu apartamento e do prédio Hanzai, e ainda estava se acostumando com aquela inusitada estrutura, Naruto não conseguiu ficar calado.
— Não estamos indo ao meu apartamento, estamos?
O único caminho que Naruto conhecia para ir aos residenciais fechados era a entrada a esquerda, depois de sair da estrada de terra onde estava o Complexo Tosaku. Sua voz tinha um tom inseguro no seu questionamento: Kyoki parece ter um padrão para tudo e o loiro tinha quase certeza que não teria outra entrada, contudo tinha que admitir que, mesmo para a estranheza da cidade, seria quase ilógico ter apenas aquela entrada.
Sasuke olhou rapidamente para ele, mas logo voltou sua atenção para a pista, cauteloso com sua condução. Naruto se perguntou se ele sempre foi assim ou se o acidente do irmão havia afetado até essa parte da sua vida, causando uma obsessão inconsciente. Não ficaria surpreso se fosse a segunda opção.
— Eu vou buscar minha sobrinha no Chishiki. — Sasuke esclareceu e entrou a esquerda. Naruto notou em seu campo de visão cinco escolas a frente. — Você não conhece aqui ainda, então deixa eu te explicar: o Setor Colegial fica atrás do centro, basicamente. Como a saída da estrada Ikisaki, que é por onde vamos para o Hanzai, fica mais perto do centro, e dos residenciais abertos, eu calculei que seria mais vantajoso passar aqui, pois há uma pista que atravessa Kyoki, com várias pistas adjacentes, onde se pode ir a quase qualquer lugar aqui. — o moreno viu de relance o olhar assustado do parceiro e quase sorriu com isso. — Pode parecer bizarro, e eu também achei isso quando passei por aqui pela primeira vez, mas você logo percebe o padrão e fica bem mais fácil.
Naruto observou os colégios pelos quais passavam. As estruturas eram enormes, espaçosas e pelo tamanho do terreno, ele julgou ter, em cada colégio, ao menos dois ginásios, piscinas e algumas quadras. Resumindo: Totalmente equipadas para um ensino exemplar. Lembrou então da escola pela qual passou o ensino básico. Estudou na Hiyuuki, uma escola pública em Minarin. Os índices de ensino, que é a prioridade de Nangoku, são altíssimos, o segundo país com o melhor ensino entre os quatro países, se não estivesse enganado. Por tanto; escola pública ou particular era uma mera questão de poder aquisitivo e gosto, tanto um quanto o outro são ótimos e te preparam bem para o ensino médio e o avançado e depois a faculdade – que é basicamente um ensino específico de alguma área que você se identifica e quer trabalhar nela.
Pararam então em frente da quarta escola, e por já terem avançado na comprida pista, mais escolas podiam ser vistas dali. O prédio central, pintado nas cores azul, cinza e amarelo, com o emblema nos portões, possui quatro andares, e era apenas para o ensino básico. Não tinha como saber se era pública ou particular; a qualidade das duas estavam bem próxima, tanto no ensino quanto na estrutura. Tentou adivinhar se Sarada estudaria em uma pública, e para ser sincero, achou ser improvável.
— Eu tenho que me identificar na diretoria. Você quer ir ou prefere ficar no carro?
E mais uma vez Sasuke o surpreendeu naquele dia. Ele estava mesmo o chamando para buscar a sobrinha dele? Um das pessoas mais preciosa em sua vida? Se conheceram a dois dias, não havia explicação plausível para toda essa confiança de um Uchiha – que são seres desconfiados por natureza.
— Sasuke, eu não sei o que está acontecendo. — disse sincero.
O moreno que já tinha tirado o cinto e aberto a porta, parou no ato de sair do carro para olhar o parceiro aparentando estar confuso.
— Você não entendeu o que? — perguntou em tom de dúvida.
— Primeiro você se oferece para me dar carona por cinco dias, então você sai do trabalho depois do almoço, me traz para buscar sua sobrinha; eu, uma pessoa que você conhece a dois dias, com uma pessoa importantíssima para você. — virou-se e o encarou expressando claramente o quanto estava achando as atitudes dele absurdas. — Você não é aberto e não confia em ninguém, mas de repente está trazendo um desconhecido para buscar sua sobrinha. Consegue perceber o absurdo que é isso?
Sasuke relaxou a expressão e levantou levemente o canto do lábio em um projeto de sorriso. Naruto ficou desnorteado.
— Em dois dias você foi a pessoa mais aberta que eu já conheci e a alguns minutos atrás eu te vi chorando e falando com o seu filho, que aliás não está na sua ficha e quero saber o porquê depois. Você é meu parceiro, Naruto. Uma hora ou outra você ia vir aqui comigo, e eu preciso mesmo pegar ela agora, expliquei que esse é o melhor caminho para mim, para ela e para você também. — inclinou-se um pouco para olhar intensamente naqueles olhos azuis mostrando sua seriedade. — Isso não quer dizer que somos melhores amigos ou que eu confio em você, é apenas uma questão de convivência; enquanto eu vou descobrindo e conhecendo você, como uma via de mão dupla, você vai saber mais e ver mais de mim, também. Não passa disso. E eu sei que você não vai fazer nada com a informação que te dei sobre minha sobrinha, afinal, você não conseguiria chegar mais longe que os portões sem mim.
Sim, esse era o Sasuke que o mundo conhecia. O alívio que o tomou chegou a ser engraçado. Era meio bizarro ver uma pessoa com a natureza Uchiha agir de um jeito amigável e prestativo. Com certeza ele havia pensando em tudo, em cada passo que deu naquele dia, então foi muita presunção sua achar que ele estava agindo assim apenas por sua causa.
Isso não explicava as caronas, no entanto.
Dando o assunto por encerrado diante do silêncio do loiro, Sasuke saiu do carro. Naruto pensou um pouco antes de segui-lo, ponderou se deveria ir junto com ele, mas no fim seu consciente o venceu, afinal, se o próprio Sasuke não via problema nisso quem era Naruto para discordar? Além do mais, sua curiosidade em saber como é o colégio, e a sobrinha dele, venceu facilmente a disputa em sua cabeça.
O pequeno caminho entre o portão e a entrada principal, onde fica a diretoria, lembrava muito o caminho para um rio; havia pedras formando uma pseudo trilha, a grama bem aparada nas laterais das pedras e algumas flores. Um ambiente bem receptivo, algo de se esperar em um colégio que trabalha com crianças de sete a onze anos. Lembrava um pouco a escola que frequentou nessa idade, mas o tamanho era quase o dobro da sua.
— Seja bem-vindo, senhor Uchiha. — saudou a recepcionista.
Uma senhora na faixa dos quarenta anos, com a aparência simpática e ar acolhedor. Naruto quase pode ouvir as crianças correndo para abraçá-la chamando-a de “tia”. Sorriu e acenou em comprimento.
— Eu gostaria de falar com a diretora May, por favor — Sasuke respondeu depois de um breve aceno.
— Qual seria a finalidade?
— Autorização de saída para Uchiha Sarada.
A senhora olhou no relógio digital na parede e anotou algo no computador. Sasuke também olhou para o relógio e suspirou parecendo chateado, como se isso não fosse algo bom. Naruto manteve-se quieto.
— Identificação do acompanhante. — pediu.
Naruto ofereceu seu braço que foi aproximado da mesa. Sua identificação ficou registrado, tudo feito em seu campo de visão, para não haver nenhum tipo de dúvidas do para que eles precisavam da sua identidade. Ele não ficou surpreso, era a segurança de várias crianças e todo o país prezava pela segurança infantil.
— Visita ou autorização parental?
— Visita.
Realmente, Naruto jamais chegaria perto de Sarada ali. Não sem a presença de Sasuke ou outro Uchiha, ou sem a autorização presencial deles. Gostava bastante desse sistema, principalmente por se sentir mais calmo em relação ao bem-estar de Konohamaru, e das outras crianças como ele e Sarada.
— A diretora May os aguarda. — disse oferecendo um sorriso caloroso.
— Obrigada Susan. — Sasuke respondeu.
Seguiu o moreno para o final da pequena recepção. Entraram à direita, em uma sala ampla e bem iluminada. A pequena senhora ofereceu um sorriso consolador por saber o que a família estava passando.
— Bom te ver aqui Senhor Uchiha, tem um tempo que não vem buscar Sarada.
Sasuke se curvou levemente e depois se sentou. Naruto hesitou por alguns segundos, mas quando foi encarado pelos olhos escuros, sentou-se ao lado dele.
— Eu peguei um novo caso e fiquei ocupado, mas não demorarei tanto assim novamente. — informou.
O tom da conversa era quase casual, tendo em vista que Sarada estava ali a dois anos, e é sempre bom estar menos impessoal com a pessoa responsável pela educação e segurança da sua sobrinha.
— Eu preciso sempre relembrar, senhor Uchiha, que depois do horário de almoço, que ocorre às uma da tarde, as atividades da tarde começam e que não é possível ter uma autorização de saída quando os alunos já estão em suas atividades, salvo a exceção de urgência da saúde do próprio aluno. — ela disse em um tom calmo. — O senhor está ciente disso, não é?
Sasuke assentiu, sabendo bem dessa rigorosa regra. No dia que Itachi morreu, que foi depois de três cirurgias e duas paradas cardiorrespiratória, Sasuke estava lá, ao lado de Deidara e do irmão e, quando ele estabilizou depois da primeira parada, temendo que acontecesse de novo, ele quis buscar Sarada para ela se despedir do pai, por mais que ele estivesse inconsciente e ligado a vários aparelhos. Contudo nem nesse caso conseguiu uma autorização por já ser duas e meia. Não se passaram dez minutos depois de retornar ao hospital e o irmão sofreu a segunda parada que o levou deste mundo. Sasuke só voltou ao colégio exatamente agora. Antes odiava que a sobrinha não tivesse se despedido do pai, agora ele agradecia porque ela provavelmente iria presenciar uma pessoa tão importante morrendo e essa cena não sairia nunca mais da sua memória – da mesma forma que não deixava os sonhos dele próprio. Sasuke não aguentou imaginar a sobrinha passar pelo mesmo, e se sentiu aliviado por ela ter sido poupada de tal.
A senhora acionou os receptores da mesa e digitou algo. Naruto olhou de relance para o relógio. Eram exatamente uma da tarde. Entendeu então que o parceiro não poderia deixá-lo primeiro nem se quisesse, pois se ele fizesse isso, Sarada não poderia sair da escola, apenas as três, como todos.
Como Nangoku inteira prezava por uma educação exemplar, essa regra não seria quebrada, em nenhuma hipótese. Naruto não era bom em se lembrar de regras e certa vez quis buscar Konohamaru na escola as duas horas da tarde. Foi vergonhoso ter que admitir que esqueceu da regra rígida sobre autorização de saída.
May autorizou a saída de Sarada e, dez minutos depois, ambos esperando na recepção, Naruto vislumbrou uma pequena pessoa correndo de encontro ao seu parceiro.
— Tio Sasu!
Em fração de segundos, Naruto presenciou a mudança radical no humor e expressão do seu parceiro taciturno; Sasuke mudou da água para o vinho, de uma forma espantosamente rápida e intensa e o loiro percebeu que não conhecia nada sobre o homem que admirou durante anos. Assistindo os braços fortes se abrirem e praticamente engolirem o pequeno corpo em um abraço caloroso, entendeu que o mundo não conhecia Uchiha Sasuke e ninguém além da família sabia todas as facetas dele.
Naruto se sentiu ansioso para conhecer cada uma delas.
— Oi princesa. — saudou com a voz doce após beijá-la no rosto. — Seu pai me ligou hoje, disse que você foi no parque Yōji. Como foi?
Sasuke segurou a mão da sobrinha e caminhou para a saída. A garota usava o uniforme azul e cinza da escola; um conjuntinho muito fofo de saia-short, combinado com a meia calça e um sapatinho social, uma camisa social e uma gravatinha amarela. O Uzumaki achou injusto a família ter uma genética tão boa, e como todo bom Uchiha, Sarada era linda demais com o cabelo negro preso em um coque e os olhos escuros por detrás das armações vermelhas do seu óculos.
Passaram de novo no caminho de pedras e então pelos enormes portões. Naruto os seguiu em silêncio apenas observando.
— Fomos fazer uma visita, tio. — respondeu com uma voz fina e infantil que tocou o coração tanto do tio quanto do parceiro dele. — Não durou muito porque tínhamos prova de matemática hoje, mas a gente conheceu algumas árvores legais e vimos um pouco do lago também.
Ao chegarem no carro, o moreno colocou Sarada em um banquinho acolchoado e a prendeu com o cinto. Naruto fez uma anotação mental de comprar uma para Konohamaru também. Antes não era preciso pois não havia necessidade de ter seu próprio carro e quando andavam nos do seus país ou no da Hinata, às vezes até no carro do Neji, nesses já tinham cadeirinha.
— Isso é ótimo. — Sasuke respondeu já sentado no banco da frente. — Eu vou separar um dia para todos nós irmos fazer um piquenique no parque.
A garotinha sorriu feliz e Naruto reparou a falta de um dentinho. Ah, como amava essa idade.
— Eu, você e o papa? — perguntou.
— Eu, você e o papa. — confirmou.
Ela riu toda alegre. Mas então seus olhos negros, miraram o ser desconhecido ao lado do tio e o sorriso diminuiu. Naruto não ficou chateado, pois os olhos dela ainda brilhavam; não só de alegria assim como uma curiosidade genuína.
— E quem é ele, titio? — perguntou olhando para Naruto.
O loiro sorriu. — Eu sou Uzumaki Naruto, colega de trabalho do seu tio.
Sasuke desviou levemente o olhar da estrada – agora que saíram do setor colegial, o moreno fez a rotatória e seguiu para outra pista, estavam nela a alguns minutos seguindo reto. Naruto não entendeu o que chamou a atenção dele, e Sasuke não admitiria que ficou arrepiado ao ouvir a voz do loiro tão suave.
Foi desconcertante.
— Você também procura os cara mal para prender eles?
O tom inocente, que só uma criança poderia ter, fez o Uzumaki suspirar baixo.
— Sim, eu e ele tentamos achar o cara mal para que ele não faça mal a mais ninguém.
Era uma meia verdade e claramente não diria a ela que por enquanto “o cara mal” estava ganhando, e muito, deles. E nem que provavelmente ele mataria mais pessoas até que o loiro e o parceiro o predam. Deixaria que ela soubesse apenas a parte simples e bonita da coisa.
— Isso é muito legal, mas eu prefiro fazer como o papa.
Dessa vez foi Naruto quem olhou para Sasuke. Não sabia como interpretar isso e nem se deveria perguntar. Seu parceiro acenou mostrando que poderia conversar com ela. Virou-se para o banco de trás e sorriu. Não percebeu quando o Uchiha franziu um pouco do cenho.
Sasuke achou que seria impossível Naruto ter um sorriso maior do que o seu usual. Descobriu naquele minuto estar errado. Não dava pra descrever a beleza daquele sorriso cheio de dentes.
— E o que seu papa faz?
A pergunta pareceu entusiasmar ela.
— Ele faz arte! — respondeu, agitando os braços no ar, como se isso já explicasse tudo. A admiração era quase palpável na voz infantil. — Ele pinta, esculpe, desenha e até mesmo costura! — suspirou e balançou os pés livremente por causa do carro bem espaçoso do tio.
Seu parceiro não era só exagerado, ele também pensou na sua criança e na sua família. Naruto se sentiu um pouco conectado a ele por terem ao menos isso em comum.
— Ele é um homem incrível.
Ela balançou a cabeça freneticamente concordando com ferocidade.
— Sim, assim como o meu papai. — e então os olhos negros por detrás da armação vermelha se entristeceram e ela abaixou a cabeça. — Mas ele não está mais aqui. Ele nem ao menos pôde ir comigo no parque...
As mãos de Sasuke apertaram o volante com força extrema e elas tremiam. O Uzumaki mordeu o lábio inferior e voltou a sua posição inicial, dando a conversa por encerrada. Não queria ser invasivo ou intrometido e não tinha o direito de falar sobre isso com Sarada sem nem ao menos conhecer Itachi.
Sasuke respirou fundo e olhou para a sobrinha pelo retrovisor. Sarada estava olhando melancólica pela janela. Seu peito doeu como o inferno. Voltou a olhar para frente.
Até chegarem nos residenciais fechados e deixarem Naruto, ninguém disse nada. E mesmo quando chegaram e ele desceu, tudo o que disseram foi uma breve despedida.

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