XXVII - Repulsa

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XXVII

Repulsa



Seu despertar é antes do sol pensar em nascer. Ainda com o céu escuro, ela coloca suas vestes e prende o cabelo, programa seu fone e sai pela porta para a corrida matinal. Na sua rotina a muito tempo pré-estabelecida, após a corrida, ela passaria a próxima hora em um treinamento rigoroso para fortalecimento muscular, e em seguida, realizaria os alongamentos e exercícios para técnica e postura, isso tudo antes de seguir para sua aula de dança, onde sua coreografa estaria em seu aguardo para ensina-la a próxima performance que valeria sua vaga na melhor companhia de dança, e o retorno de tanto dinheiro investido, algo que seu pai não a deixa esquecer.

Ela desconhece a palavra procrastinar, o temperamento intransigente do seu Agente a leva em uma recorrente busca a perfeição; ele exige seu comprometimento absoluto, e para isso adotou uma vigilância sádica, onde da sua boca apenas sai palavras que a ilude, manipulando-a para ela acreditar que é o sonho dela e por isso ela precisa doar seu corpo, sua mente e sua saúde para realiza-lo.

Mas seu Agente carrasco, que também responde pelo codinome "pai", está desaparecido há alguns dias. Parece uma oportunidade perfeita para que ela descanse sua mente da ansiedade e desespero constante de conviver no mesmo ambiente do seu progenitor, mas não há descanso em seu vocabulário. Afinal, não é a primeira vez que ele desaparece para qualquer lugar perdido que não é de seu interesse, por tantos dias incertos que provocam sua mente e tiram o seu sono; justamente por saber que ele vai voltar, e caso haja desobediência, o castigo que virá será insuportável.

Há uma urgência em seu dever em ser centrada, em se esforçar. É o começo da carreira, um caminho de pedras que deixa uma marca a cada nova apresentação, ela apenas não consegue distinguir se a maior impressão é no público ou na sua saúde que a abandona a cada palco que ela pisa.

Não há escapatória. Para ser escalada para grandes apresentações com um papel de relevância, é preciso se destacar. Para se destacar, é preciso ser melhor do que as outras bailarinas, então ela busca incansavelmente ser perfeita. Mas a perfeição vem de esforço, disciplina, abdicar prazeres mundanos e se dedicar no trabalho árduo, por isso não há como descansar. Esse é o seu sonho, ela repete mais uma vez naquela manhã, como mantra. É seu objetivo de vida, e ela fará de tudo para alcançá-lo. Ou é disso que ela precisa se convencer para que o sofrimento seja menor.

E por causa da sua disciplina e perfeccionismo, – desde a sua primeira lembrança em que ela se entende como gente, – sua rotina nunca mudou; sempre os mesmos exercícios, sempre a mesma dieta. Seu pai estando presente ou não, suas manhãs são sempre iguais.

Porém não naquele dia.

Ao voltar da sua caminhada, ela se ver parada na porta incapaz de entrar em casa por causa de uma caixa. É incomum, pois ela não se recorda de já ter recebido encomenda na sua residência, pois tudo é entregue para seu pai no escritório dele, seja presente, ou compras ou propostas para seu Agente, todos são encaminhados para a empresa.

Curiosa, ela pega a caixa. Sua primeira impressão é que é mais leve do que aparenta. Ao virar o objeto, ela consegue ver que no remetente diz "Yonin Ukon". O nome causa um arrepio de nojo. Ela conhece o homem praticamente desde que nasceu, é um amigo íntimo do seu pai, uma pessoa de comportamento duvidoso e presença desagradável. Esta endereçado a ela, o que, ao seu ver, explica o porquê de ser entregue em sua casa. Toda a situação é esquisita, pois esse homem é um dos contatos do seu pai no meio artístico, e frequentemente ele usa a irmã gêmea, que para a sorte dela é bivitelina, para conseguir novos compromisso para atrair visibilidade, sendo esses eventos, em sua maioria, lotados de pessoas repulsivas, onde seu pai se associa tão bem.

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⏰ Última atualização: Sep 23 ⏰

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