XI - Oculto entre olhares sombrios

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XI
Oculto entre olhares sombrios




Aeroporto Hikouki. Kyoki. 08 de março. 09 a.m.

Na casa dos seus pais, onde viveu durante boa parte da sua vida, havia um pequeno aparelho que ao ser plugado na televisão holográfica, transmitia em realidade tridimensional o conteúdo que o telespectador escolhesse. Como a criança que era; cheia de curiosidade e energia, ligou a tela e clicou na imagem que mais chamou a atenção. Não entendeu absolutamente nada do que diziam, nem o que as pessoas faziam, e se assustou com os barulhos desconhecidos na tela, porém não sentiu vontade de chorar pelo susto. Simplesmente continuou a assistir, fascinado com os carros com as luzes piscando, as cenas de homens correndo, e até mesmo com o som dos tiros. Essa é a primeira lembrança que Uchiha Shisui tem da sua infância.
Depois desse dia, nunca mais tirou da cabeça a sensação que teve ao assistir, pela primeira vez, uma série policial – mesmo sem saber que aquele era o conteúdo na época. Cresceu narrando aquele pedaço de cena para todos que parassem para escutá-lo; sua mãe, seu pai, seu melhor amigo, seus primos. Quem dispusesse atenção ao seu relato, teria o entusiasmo desmedido dele em primeira mão. Anos depois, em seus dezesseis anos, Shisui afirmava com veemência sua profissão: Policial.
Porém não foi bem assim que sua vida seguiu.
Mesmo apaixonado pelas séries policiais, a ideia de estar preso a uma cidade, a uma delegacia ou a um carro de polícia parou de agradá-lo. Buscou formas de ser aquilo que amava, mas sem ter que ficar fixo em um único lugar pois sua vontade de conhecer os países, tanto quanto onde ele próprio havia nascido, estava no mesmo nível do seu sonho. Foi então que, durante suas pesquisas, encontrou o ensino técnico em informática. Gostou muito das áreas de estudo e de atuação, passou horas buscando tudo disponível na internet tudo sobre as matérias, se apaixonou pela ideia de transitar entre cidades mexendo com tecnologia de ponta. Mas havia um porém; e seu sonho de ser um policial? Teria de desistir dele?
Pensou seriamente em fazê-lo, pensou não ter uma saída para o seu dilema. Entretanto seu pai, um velho senhor responsável pela segurança pública na área administrativa, percebeu como Shisui estava desanimado, notando a mudança no entusiasmo dele e da falta das palestras sobre como seria maravilhoso ser um policial, o chamou para conversarem. Kagami, seu pai, debateu com os seus amigos policiais para tentar ajudar seu filho. Foram tantas pessoas que ele praticamente realizou uma pesquisa de campo, onde lhe foi apresentado muitas áreas onde policiais poderiam atuar. O mais velho mostrou ao filho a área perfeita para ele: Um engenheiro da computação formado na academia policial.
Foi realmente perfeito para ele, pois além de ter dois anos atuando como policial, como queria, ao fazer o curso de técnico em informática e, posteriormente, engenharia de computação, o Uchiha decidiu continuar trabalhando na polícia, mas na área investigativa, criando e monitorando a tecnologia deles. Para isso ele também teve de ter reconhecimentos nas três áreas para conseguir uma reunião com o Presidente a fim de ser aceito como técnico de TI nos casos espalhados não só em Shinguru, mas em toda a 4-Katsu.
E ali estava ele, quatorze anos depois, desembarcando em Hikouki e voltando de Senjuroou, para assumir mais um grande caso ao lado do melhor Detetive do país, na Hanzai.  
Por viajar muito durante o ano todo, ele conhece bem aquele aeroporto. Já passou horas ali esperando seu voo ou alguma conexão para um novo embarque. Algumas vezes chegou a precisar ficar noite adentro por atraso devido ao mal tempo, mas não poderia reclamar; suas passagens sempre eram com direito a sala VIP, onde poderia ter boas refeições, descansar nas poltronas reclináveis e assistir algum filme nas enormes telas holográficas dispostas pela sala, além de estar incluso na área de alta classe no avião. Quando decidiu pela sua profissão e seguiu seus sonhos, abraçou sua vontade de viver de forma desapegada, sem criar raízes em nenhum lugar por onde passava. Duas vezes por ano, além das datas de aniversário na família, passava um tempo com os pais, mas logo já estava em um novo caso, em um novo lugar. Da forma que sempre quis.
O carro oficial ao qual foi informado já o esperava no estacionamento. Com sua digital e a leitura da sua órbita ocular esquerda, abriu o automóvel e o ligou, rodeou o estacionamento e, com a licença do governo, pegou a pista principal e saiu.
Shitto é a pista que cobre toda a cidade, tem origem no Aeroporto Internacional, segue pelo leste do centro comercial, lado contrário da Estação Kyoki, passa pelo setor colegial, segue em direção aos residenciais fechados e termina na Estação Central. Com suas pistas adjacentes, Shitto alcança, também, os residenciais abertos, o Setor Hoteleiro e Empresarial, tem ligação com a via Mosumi, conectando toda a cidade. Ao seguir por ela, depois de um voo curto sem conexão, Shisui não demorou para acessar a pista Ikisaki.
Por estar com o veículo oficial vinculado a sua credencial, não foi parado pela barreira policial responsável pelo tráfego naquele local, e sua entrada no prédio Hanzai foi prontamente autorizada. Estacionou na garagem subterrânea, área D destinada a investigação criminal. À algumas vagas a frente, ele viu o pomposo SUV do detetive Uchiha e soltou uma risadinha com a ironia de um velho antipático como aquele homem, que não gosta de ter pessoas o encarando, ter um carro que chama a atenção a quilômetros de distância.
Sem necessidade de chamar o elevador para subir apenas um andar, utilizou as escadas para acessar a recepção. No fim do segundo lance, marcando o térreo, as portas duplas transparentes abriram ao ter sua presença detectada pelo sensor. Em frente a escada estava um homem mais velho, com marcas de expressão no rosto, esperando pelo moreno.
— Bom dia, senhor Shisui. — ele saudou. — Como foi sua última viagem?
Shisui riu. Para ele, a forma com que todos que o conhecia viam seu trabalho, sendo exatamente como ele próprio via – uma eterna viagem onde cada caso que ele assumiu era mais uma aventura – o divertia demais.
— Foi emocionante, senhor Hiroki. — respondeu com bom humor. — Sempre me sinto dentro dos seriados de policiais quando ajudo nas investigações.
Com um sorriso, o moreno acenou para a recepcionista em comprimento, em seguida ambos entraram no elevador.
Quando se conheceram, a quatro anos atrás quando o Uchiha assumiu seu primeiro caso na Hanzai, Hayato Hiroki estranhou o comportamento do mais novo. Talvez por ser quinze anos mais velho do que ele, ou por estar acostumado com homens sérios e carrancudos durante toda a sua carreira – não sabia, mas acreditou que toda a espontaneidade e euforia do moreno, como seu ele estivesse eternamente trabalhando no seu primeiro caso, eram falsas, uma máscara para tentar fazer amizade, ou algo assim. Entretanto, Hayato foi designado para trabalhar junto a ele mais uma vez, pouco tempo depois da primeira parceria, por ser o supervisor da área de tecnologia do Hanzai e com o passar dos anos assumindo vários casos como supervisor do mais novo, Hayato percebeu que Shisui, na verdade, era um jovem muito sincero em sua personalidade e comportamento, inclusive demonstrando abertamente quem ele gostava e admirava; e era igualmente honesto com quem ele não considerava nada, nem mesmo um colega de trabalho – embora para ganhar tal antipatia de Shisui fosse um feito difícil de alcançar. Mesmo agora, observar Shisui sério enquanto trabalhava era sempre um choque, mas diante de suas responsabilidades, o moreno transparece seus trinta anos de idade quando, na maior parte do tempo, ele aparenta ter no máximo vinte em comportamento e na fisionomia.
— Senhor Shisui, o senhor é um policial. — respondeu com a voz risonha.
Shisui piscou para Hayato com diversão, fazendo charme.
— Não conte a ninguém, por favor. Perderei todo a minha marra de bad boy se souberem que sou um homem da lei.
Realmente, um homem nos seus trintas, mas sempre um jovem de vinte anos.
— Não direi a ninguém, não se preocupe. — riu o mais velho.
O policial suspirou com um sorriso pequeno nos lábios. Hayato é um dos homens mais bonitos que Shisui já viu: Com os cabelos loiro-escuro ondulados, em tamanho médio, começando a ficar grisalhos juntamente com a barba loira; os olhos castanhos e o semblante tranquilo de um homem que conheceu bastante do mundo. Shisui se sentia balançando sempre que o via, porém não poderia se envolver com um supervisor, não quando ficaria em Kyoki apenas durante a caçada do assassino e iria para outra cidade, outro país, depois que o criminoso fosse preso. Não seria do gosto de um homem como ele ter uma simples transa sem compromisso.
— Então... — Shisui retornou a falar quando saíram do elevador. — Mais um assassino bizarro, hein?!
Andaram lado a lado pelo corredor do andar cinquenta e seis.
— Sim. — Hayato respondeu, sua voz aparentando cansaço. — Tem quase um mês que ele cometeu o crime e, até o presente momento, não há nenhum suspeito.
Hiroki abriu a porta da sala designada para pequenas reuniões. Shisui, conhecendo bem as salas daquele andar, colocou sua pasta no chão ao lado da segunda cadeira do lado direito da mesa e se sentou. Hayato ocupou a mesma cadeira, porém do lado esquerdo, ficando de frente para o Uchiha.
— Fui informado pelo Agente Madara das dificuldades no caso, — o policial cruzou os braços. — Ele parece ser mais inteligente do que todos os assassinos que investigamos, no momento, e pelo seu nível de cuidado, eu diria que é provável ser um serial killer. Apesar de não termos como saber que tipo de assassino é enquanto não houver mais vítimas. Acho também que ele estudou várias áreas da biologia e de química.
O olhar de Hiroki era penetrante, focado no policial e prestando atenção em tudo que era dito. Não apenas nisso. Shisui conseguia sentir a quentura do olhar esquadrinhando seu rosto e seu corpo, e tentou não se sentir afetado com isso, mas os olhos castanhos tão bonitos do mais velho, com certeza, era um ponto fraco seu – junto ao sorriso emoldurado pela barba cheia. Hayato não tentou disfarçar seu interesse no colega, não tendo hesitação nesse tipo de conduta sendo ele um homem adulto bem resolvido emocional e sexualmente. Inclusive havia sido casado por mais de cinco anos com outro homem, tendo acabado de se separar quando ele e o policial se conheceram.
— Fui mais uma vez designado como o seu supervisor. — o loiro informou. Shisui não se surpreendeu, sabendo disso quando o viu lhe esperando. — Vamos criar a interface no S.I.R.D.E.S para armazenar as imagens e recolher tudo referente à vítima. O Senhor Madara e os Detetives estão a caminho.
O Uchiha observou a postura dele. Hiroki, mesmo com sua expressão gentil, deletava sua tensão em sua postura. Em todas as vezes que se viram, Shisui nunca presenciou menos do que tranquilidade no outro homem e, sabendo da demora incomum para a liberação das gravações para coleta pela inteligência do Presidente, deduziu que como supervisor – um cargo que trata das burocracias da C.O.R.P.S juntamente com a responsável jurídica – essas últimas semanas foram, no mínimo,  muito complicadas para ele. Ponderou se deveria ajudar Hayato a relaxar de alguma forma. Um passeio pelo parque e uma taça de vinho, talvez?
O supervisor relaxou na cadeira apreciando os olhos negros em sua direção. Se perguntou, outra vez, quando Shisui finalmente admitiria o interesse e o chamaria para sair. Mesmo que o loiro gostasse do jeito mais entusiasmado do policial, não conseguiria viver em um romance sem estabilidade, então tinha suas dúvidas quanto a se envolver com o Uchiha, mas Hayato o queria, muito, e por tanto se sentia sempre em uma encruzilhada entre sua necessidade de estabilidade e sua crescente vontade de se portar como um adolescente numa ardente paixão.
O que aquele homem não conseguia fazer com ele, huh?
— Me pergunto a quanto tempo esse homem não estuda e planeja cada detalhe para conseguir atrasar Uchiha Sasuke. — Shisui comentou, quebrando o silêncio aquecido entre eles.
Um arrepio subiu pela espinha de Hayato.
— Eu não sei se eu quero saber, senhor Shisui. — admitiu sem vergonha alguma. — Ele com certeza sabe com quem está lidando, e esse conhecimento o torna ainda mais perigoso.
O policial concordou: — Nem mesmo Doll Killer conseguiu se esconder por muito tempo. Será que esse homem vai tirar o posto de assassino mais complicado que atualmente está com ele?
Hiroki suspirou.
— Mais do que quatro meses? — perguntou retoricamente.
Sasuke nunca demorou mais que três meses para prender alguém, sendo Kankuro a prisão mais demorada. Passar disso significava que o assassino era mais perigoso e inteligente do que os outros, e não conseguiam imaginar o quão ruim isso poderia ser para quem quer que fossem seus alvos.
— Pode ser que sim, mas eu acho que não. Foi justamente para que isso não acontecesse que colocaram outro detetive. — O moreno refletiu.
Antes que o supervisor respondesse, a porta abriu e por ela passaram Madara e os dois detetives. Em silêncio, os três sentam nas cadeiras restante na mesa de seis lugares. Sasuke se sentou ao lado de Hiroki, Naruto do lado do seu parceiro e Madara ao lado de Shisui.
— Bom dia. — O policial saudou os recém-chegados.
— Dia. — Sasuke e Madara resmungaram em uníssono.
— Bom dia. — Naruto murmurou com um sorriso.
Imediatamente Shisui prestou total atenção no novato. Costumeiramente as pessoas em Kyoki eram frias, em parte pela criação que tiveram, mas principalmente por estarem sempre com pressa e focadas em suas próprias necessidades, alheias aos outros ao seu redor. Shisui morou por um tempo em cada cidade de Nangoku, conheceu pessoas de Satsujin, berço do clã do Sasuke, e pessoas das cidades do interior, muito parecidas com o loiro em atitude. De primeira, Shisui notou as diferenças entres as cidades e seus habitantes, contudo mesmo que nunca tivesse viajado tanto, ao olhar para o Uchiha e seu novo parceiro, essa discrepância saltaria em seus olhos de qualquer forma. Ambos eram muito diferentes um do outro.
— Detetive Uzumaki, este é Uchiha Shisui, o técnico de TI responsável pelo nosso caso. — Madara gesticulou para o homem ao seu lado. — E este, ao lado do Sasuke, é o supervisor dele, Hayato Hiroki, que o guiará em suas funções.
Ambos fizeram uma pequena mesura para Naruto que retribuiu o gesto com um sorriso sereno. A presença dele é agradável e até mesmo encobria o mal humor matinal de velho Uchiha, Shisui notou com diversão.
— A Doutora Sabaku no Temari me mandou a autorização. — Madara passou um dispositivo retangular com pouco mais de dez centímetros para Hayato. — O código para a interface e as coordenadas para entrar no sistema da C.O.R.P.S estão juntos, no software. Foi colocado o labirinto de criptografia, precisam descriptografar para criar o código no S.I.R.D.E.S e para acessar as imagens também. — ele fez um gesto com a mão, tornando sua frase banal. — Procedimento padrão.
Shisui poderia bocejar tamanha tranquilidade que sentia diante da situação. Hayato tinha aquele olhar de tédio na face, mostrando que ambos estavam mais do que acostumados com toda a chata segurança da C.O.R.P.S, ele olhou para Sasuke, impassível e exalando enfado como sempre, e quis rir do olhar de assombro do Uzumaki que parecia que iria cair a qualquer minuto da cadeira.
Novatos. Sempre surpresos com tão pouco.
— Precisamos dessas imagens com urgência. — Sasuke estava quase resmungando enquanto falava. Parecia muito aborrecido, obviamente querendo estar em qualquer lugar, menos ali. — Mesmo com os interrogatórios quase concluídos, não há nada apontando para um possível suspeito.
Shisui assentiu.
— Começaremos agora mesmo. — afirmou.
Todos se levantaram.
— Hayato, coloque o andamento da coleta no sistema e me mande um relatório oficial distinto que passarei para a inteligência. — Madara ordenou.
— Passarei junto ao código de cada um da interface, senhor.
Com isso, se despediram com um breve aceno. Ao seu lado, o supervisor suspirou e passou a mão no cabelo loiro pensando nas horas sentadas em frente ao computador que teria que passar para desfazer o maldito labirinto que era a dor na bunda de todos que trabalham com a Inteligência. Shisui mordeu o lábio inferior admirando a imagem dos cabelos levemente desalinhados pelo homem, descendo o olhar para os braços fortes escondidos na camisa social azul escuro. Não se impediu de olhar para o quadril largo, a bunda redonda e as coxas grossas na calça social preta. Lindo demais, de fato, inclusive o peito forte e a barriga grande arredondada. Tudo no mais velho o seduzia e Hayato nem se esforçava pra isso. Shisui estava resistindo a química entre eles a tanto tempo...
Mas não era um bom momento para pensar nisso.
Seguiu seu supervisor até o elevador para o laboratório de informática, focando seus pensamentos impuros na droga do labirinto que serviria apenas para encher o saco deles.


Howaito* Zetsu é um homem estranho. E Sasuke não pensou assim por ele ter duas cores de pele, negra e parda, pelo corpo; ou pelo olhar maníaco combinado com o sorriso estranho em sua face, e sim pelo homem, com mais de cinquenta anos, ter largado uma carreira sólida como professor de biologia para abrir uma cafeteria – sem ao menos saber fazer um café.
Ele foi citado nos outros interrogatórios feitos nos dias anteriores. O Uchiha e seu parceiro conversaram com os outros dois amigos de Kakuzu e não obtiveram informações relevantes para a investigação. Conversaram inclusive com a mãe do Hozuki; uma mulher idosa que passou uma hora discursando sobre seu filho não ser capaz de nenhum mal e que os deuses foram abençoados com o espírito dele. Naruto interrompeu duas vezes o interrogatório para ir ao banheiro, mas dentro do carro ele confessou, com um olhar de desgosto e uma careta irritada, que não conseguiu segurar o embrulho no seu estômago diante de tamanhas mentiras e acabou por vomitar na casa da senhora. O moreno não disse nada, mas entendia perfeitamente o sentimento de repulsa.
Naquela manhã, Sasuke buscou Naruto no horário de sempre, porém não seguiram diretamente para o Hanzai. Abordaram o terceiro amigo de Kakuzu às sete, antes que abrisse o estabelecimento.
— Bom dia, Detetives. — cumprimentou assim que abriu as portas de vidro.
Naruto franziu o cenho e guardou lentamente o emblema no bolso do paletó; o movimento transparecendo sua clara descrença no comportamento do homem. Sasuke compartilhava do sentimento, mas continuou impassível. Seguiram o senhor que continuava com um bizarro sorriso nos lábios e que andava como se estivesse tranquilo o suficiente para sair cantarolando, contudo não pudesse de fato o fazer. Zetsu gesticulou para duas poltronas verde musgo em seu escritório, situado na parte dos fundos da cafeteria, oferecendo para que ambos os detetives se sentassem. Seu parceiro olhou para o objeto como se ele fosse uma planta carnívora disfarçada apenas o esperando sentar para devorá-lo e Sasuke quis rir da expressão do loiro.
— Eu soube da morte do Kakuzu. — Howaito iniciou, ainda calmo. — É muito estranha a sensação de que eu o vi pela última vez no bar, sabe? Parece surreal.
— Nós entendemos. — Naruto respondeu prontamente, de forma automática. Nenhuma empatia verdadeira em seu tom de voz ou seus olhos.
Sasuke colocou o gravador na mesa dele.
— Esse aparelho...
Zetsu interrompeu o moreno.
— É um gravador, eu sei. — ele disse entusiasmado, com clara excitação na voz. — Eu sempre quis ser interrogado. Quem diria que seria por causa do assassinato de um amigo?
Naruto olhou para Sasuke. Os olhos azuis expressivos diziam claramente que o loiro não acreditava na figura que estava diante deles. Sasuke respondeu silenciosamente que, mesmo com mais de dez anos de carreira, nunca tinha visto nada igual também. O Uzumaki fez uma careta em retorno.
  — Senhor Howaito, nos conte o que aconteceu na noite do dia 11 de fevereiro, por favor. — Naruto pediu.
O homem pareceu faltar dar pulinhos de alegria com aquilo.
— É praticamente uma tradição que nós quatro nos encontremos no Shiawasena ko, o bar da nossa época de faculdade. Costumeiramente, eu o busquei em sua casa e fomos juntos. Ele e Hidan ficaram por algum tempo na área destinada aos jogos, e de onde eu estava, consegui vê-los e escutei os rotineiros gritos do Kakuzu, específicos para quando Hidan errava alguma jogada e perdia seu dinheiro, sabe? Mas tirando isso, as comemorações também faziam barulho. Eles eram a melhor dupla de lá. — o semblante de Zetsu de repente ficou triste, como se apenas naquele momento ele se desse conta que um dos seus amigos havia morrido. — Mais tarde ambos se juntaram ao nosso quarteto para a algazarra de sempre. Não sei exatamente que horas eram, acho que por volta de meia noite; já estávamos bêbados o suficiente e chamamos os táxis. Foi a última vez que o vi.
— Você o viu entrando no taxi? Ou apenas chamaram o veículo e ele saiu ao se despedir? — Naruto perguntou. Estava remoendo essa dúvida a dias.
— Chamamos quatro táxis, o do Kakuzu foi o primeiro a chegar. Todos vimos ele entrar.
— Não houve nada de diferente quando vocês estavam juntos, ou no momento em que o buscou? Alguém estranho perto do bar? — Sasuke questionou.
Zetsu negou. — Não havia nem mesmo um carro diferente estacionado por lá. Ou no bairro do Kakuzu.
Naruto estranhou a informação.
— Como você sabe que não havia nenhum carro diferente no bairro?
O olhar incomum e o sorriso bizarro voltaram para a expressão de Howaito. A tristeza que antes ele sentia esquecida em algum lugar de sua mente caótica, ao que parece.
— Kakuzu morou durante anos naquela casa, desde que se casou com a Nora, na verdade. Poucas pessoas se mudaram de lá desde então, e a última foi de uma família a mais de um ano. Eu conheço bem aquela área.
Por ainda não terem as gravações, não sabiam como foi os passos do assassino no dia em que a vítima desapareceu. A julgar pelo o que Zetsu informou, o criminoso não estava rondando o lugar, e nem o bar, pois Kakuzu pegou um táxi para voltar para casa e não houve nenhum relato de roubo de táxi ou sequestro em pelo menos três meses. Porém de roubo de carro havia, então ele abordou Kakuzu fora do táxi. Mas quando ocorreu essa abordagem? Qual a probabilidade de ter sido exatamente como no sonho da Yumi? Sasuke diria zero.
— Você sabe de alguém que poderia querer matá-lo? Algum inimigo?
Uma sombra passou pelos olhos caramelos. Naruto encarou o olhar dele, procurando algo na expressão ou comportamento do homem que denunciasse alguma lembrança ou mentira, talvez. Contudo, rapidamente a sombra sumiu, sobrando apenas o brilho incomum de antes. Mesmo assim, o loiro continuou a observá-lo sem deixar passar nada, pois sabia que ele escondia algo por detrás de toda a “felicidade” pelo interrogatório.
Sasuke percebeu prontamente o que Naruto estava fazendo. O viu se portar da mesma maneira dias antes, tanto na reunião de apresentação do caso à ele, quanto no hospital; a mente do seu parceiro estava viajando, montando mais e mais possíveis cenários com as informações que lhe foi dispostas, mas não somente isso, o outro detetive também estava observando e absorvendo detalhes que passavam despercebido aos demais olhos, inclusive aos seus.
— Não somos perfeitos. — Zetsu respondeu em tom de defesa. — Erramos em algumas decisões e fomos injustos com pessoas que não mereciam. Mas jamais faríamos algo que merecesse tal fim, senhor Detetive.
Naruto sequer piscou, fitando o homem com atenção. Os lábios de Sasuke repuxaram levemente, um sorriso de lado querendo despontar. Não importa o que Zetsu queria justificar com palavras tão insignificantes, o loiro poderia desvendar rapidamente o que quer que ele pretendesse esconder. O talento de dedução do seu parceiro estava muito além, Zetsu não conseguiria despistá-lo com meras palavras.
— Está me dizendo que você e Kakuzu fizeram alguma coisa ruim, mas não acha que é isso que causou a morte dele? — o Uzumaki perguntou sem rodeios.
Sasuke cruzou as pernas, decidindo apreciar o show.
— Estou dizendo que nossos erros, cometidos em nossa juventude, não passam de erros que comumente humanos cometem. Não sei quem ou porque fizeram isso com meu amigo, porém espero ansioso o dia em que vocês irão prendê-lo.
— Você se defendeu de uma acusação que não foi feita, senhor Howaito. — Naruto pontuou. — A sua reação me sugere que houve uma cognição incorporada, algo que acontece quando seus pensamentos e suas emoções interagem com o seu corpo e acabam influenciando seu comportamento. Isso acontece com pessoas que sentem o peso de uma decisão errada, ou se sentem culpadas por algum ato cometido.
Zetsu não se moveu ou alterou seu semblante, o seu sorriso agora irritantemente pretensioso.
— No momento em que me foi perguntado se Kakuzu teve algum inimigo, me é sugerido que algo que ele fez causou sua morte, Detetive. Pode não ter sido sua intenção de contextualizar dessa forma, mas essa foi a minha interpretação da pergunta e apenas me defendi por consequência.
Resposta inteligente, porém uma óbvia esquiva da parte dele. Os olhos azuis brilharam afiados na direção do cafeeiro. Naruto pareceu estranhamente feroz com a resposta, e sua mandíbula tremeu, como se ele se esforçasse para não sorrir mordaz.
— Obrigada pelas suas respostas, senhor Howaito. — Sasuke anunciou a despedida. Naruto pareceu descontente em largar sua presa, mas o seguiu para fora do estabelecimento enquanto Zetsu caminhava calmo atrás deles, os olhos caramelos fixos nas costas do loiro – Naruto conseguia sentir, e estava incomodado com isso. Entraram no SUV. O amigo de Kakuzu abriu as portas da cafeteria, cantarolando. Não havia um mísero cliente e não parecia haver mais funcionários além do rapaz que estava no balcão quando entraram. Naruto continuou o encarando até que Zetsu não estivesse mais em seu campo de visão. Alguma coisa naquele homem o fazia se sentir estranho.
— E então? — Sasuke perguntou após alguns minutos em silêncio.
O carro entrou na via Mosumi, pegando o trânsito lento que os dois odiavam. O moreno suspirou irritado, mas não tinha o que ser feito, o Técnico Shisui chegaria às nove e ambos precisavam estar lá para a reunião com eles e os supervisores. Não conseguiriam chegar tão tarde no prédio e estar duas horas sem fazer nada estava fora de cogitação, a melhor saída então era iniciar o dia com um dos interrogatórios, Sasuke imaginou, ser produtivo.
O Uzumaki olhou surpreso para o parceiro.
— O quê?
As mãos do loiro estavam batucando na perna direita, mas não havia música tocando.
— Eu vi como você estava o observando. — Sasuke disse e avançou um pouco no engarrafamento. — Parecia que poderia ver a alma dele.
Um pouco desconcertado por não ter percebido que Sasuke prestou tanta atenção nele, Naruto soltou uma risada nervosa antes de responder.
— Algo naquele cara me incomodou no exato momento em que abriu a porta sem que nos desse tempo para nos identificar. — o loiro encarou a estrada à sua frente, evitando os olhos negros. — O seu comportamento foi estranho: Primeiro que um velho amigo dele morreu de forma brutal e o homem não tirava o sorriso do rosto, animado e tagarelando sobre interrogatórios. Segundo que ninguém poderia saber com certeza todos os carros da vizinhança, pois objetos podem ser vendidos, trocados ou roubados a qualquer momento. — passou a ficar agitado, seus pensamentos rápidos sobre o momento estranho com Zetsu. — Terceiro que a forma com que ele defendeu Kakuzu foi bastante sugestiva. Zetsu se incluiu, e pareceu que ambos fizeram uma coisa não muito boa no passado, e eu acho que ninguém além dele e da nossa vítima sabem o que foi.
Sasuke assentiu, concordando com suas palavras.
— Nós podemos chamar a Doutora Sabaku, pedir a ela que entre com um mandado oficial de comparecimento na delegacia para o Zetsu. Lá podemos pressioná-lo para que ele nos conte o que está escondendo.
— É uma boa ideia.
Sasuke esperou que ele disse mais alguma coisa, porém Naruto ficou calado, mesmo assim parecia inquieto. O Uchiha quase poderia visualizar as engrenagens na cabeça loira funcionando. Não demorou para que o rosto expressivos demonstrasse os milhares de pensamentos em sua mente. Os olhos negros do moreno viajavam entre o trânsito e o homem ao seu lado.
— Tem mais alguma coisa, não é? — questionou a fim de estimulá-lo a falar.
Demorou alguns segundos para ele responder.
— Antes eu pensei que eles não tinham, de fato, visto Kakuzu entrar no táxi, e por isso eu montei na minha mente um possível sequestro perto do bar, mas Zetsu garantiu que eles viram. Se não havia nada de incomum perto da residência deles, e nenhuma ocorrência de roubo de algum carro próximo da casa, fiquei refletindo em como o assassino o pegou. — Sasuke seguiu a mesma linha de raciocínio. Foi bom saber que ambos estavam em sintonia. — Contudo eu entendo agora. — disse surpreendendo o moreno. Olhou para ele. O cenho franzido e o olhar focado em algo muito além deles. — Ele estava esperando Kakuzu chegar. Não penso que o assassino entrou na casa, Yumi tem razão; é mais fácil sequestrar alguém fora de casa. Eu diria que depois que Hozuki desceu do táxi, bêbado e letárgico, ele o pegou e colocou no carro, provavelmente o dopou nesse momento, e o levou para algum lugar.
Ficaram em silêncio. Pensando dessa forma, realmente seria fácil sequestrar alguém bêbado antes deste entrar em casa. Não haveria testemunhas.
— De qualquer forma, teremos logo as gravações e poderei finalmente saber como ele fez e para onde foi em seguida. — Naruto conclui.


Posteriormente ao almoço, Naruto e Sasuke saíram do Hanzai a caminho dos residenciais abertos, rua 47, onde foram informados estar a casa de Dorei Hidan, o dito como melhor amigo da vítima.
Por os residenciais abertos estar logo após a pista Ikisaki, não demoraram a encontrar a casa dele. Mais uma vez Naruto precisou respirar fundo para aceitar o que seus olhos viam: Uma casa enorme totalmente preta, das janelas saiam luzes vermelhas, e na porta de entrada um símbolo desconhecido pintado com algo indistinto – que de forma bem irracional, o loiro achou ser sangue.
Sasuke não hesitou em tocar a campainha. O som mais grave, parecendo ser um grito de dor, assustou Naruto, que sentiu um tremor em suas pernas. Se pudesse, teria agarrado o braço do moreno, precisando se sentir mais protegido daquele lugar sombrio.
Um homem alto e magro, de pele pálida, cabelos tingido em um tom estranho de roxo e usando lentes vermelhas, saiu da casa. Ele tinha um sorriso sacana no rosto, seu olhar era malicioso, e os detetives puderam escutar a música ressoando, em suas letras muitas palavras pejorativas e xingamentos.
— Boa tarde senhor Dorei, somos os Detetives responsáveis pela investigação da morte de Hozuki Kakuzu. Eu sou Uchiha Sasuke e este ao meu lado é o meu parceiro, Uzumaki Naruto. — apresentaram o emblema.
A sobrancelha fina dele subiu, arqueando, como se ele indagasse “e o que eu tenho a ver com isso?”
— O idiota do Kakuzu morreu, alguém com quem ele fudeu resolveu dar o troco, e se quer saber, merecia mais. — ele se aproximou do portão, mas não o abriu. — Estão perdendo tempo, detetives.
A forma com que ele disse detetives, com sarcasmo puro pingando de sua boca, descredibilizando o trabalho deles, fez uma onda de raiva tomar o corpo de Sasuke, porém como o bom Uchiha que era, continuou impassível.
— Queremos fazer algumas perguntas, senhor Dorei. — Naruto tomou a frente, tentando ser cordial.
— Eu não vou dizer nada a vocês. Ele morreu a um mês, superem e vão fazer algo realmente útil. — respondeu altivo, como se estivessem brigando.
Naruto recorreu a toda sua paciência Namikaze herdada do seu admirável pai, para não agir de forma antiética e soltar palavras grosseiras, mesmo que Hidan as mereça.
— Devo insistir, senhor Dorei. — disse quase entre dentes, um sorriso forçado no rosto. — Caso o senhor continue a negar o interrogatório, iremos acionar a polícia e o senhor será encaminhado à delegacia. — então ele soltou um sorriso vitorioso. — De uma forma ou de outra, o senhor falará conosco, afinal, a lei o obriga.
— Mas podemos fazer de uma forma pacífica, bem aqui, no conforto da sua casa. — Sasuke concluiu pelo parceiro.
Ele fez uma careta, uma mistura de raiva e ódio.
— Porra. Esse merda fode a minha vida mesmo depois de morto, merda.
Naruto desceu sua mão com o emblema, o guardando. Em seguida pegou seu celular pronto para acionar a polícia. Não realmente herdou muito da paciência do seu pai – estava mais para um Uzumaki irritadiço, e sua cota de xingamentos também já havia sido preenchida em cinco minutos conversando com o homem desrespeitoso. Mas antes que fizesse isso, Sasuke tocou levemente em seu ombro, chamando sua atenção. O loiro não teve tempo de ficar surpreso pelo contato físico tão restrito do Uchiha, pois Hidan abriu o portão para que ambos entrassem, mesmo que ainda resmungando por tal coisa.
Ele o fechou assim que passaram e não disse nada ao entrar na casa. Dentro dela era ainda pior do que por fora, Naruto poderia acreditar piamente que antes deles chegarem, Hidan estava fazendo um sacrifício humano. O ambiente pesado sufocou o loiro assim que este colocou os pés no projeto de sala do homem. Não havia nada além de um tapete velho e uma cadeira quebrada. E um amplificador usado para guitarras de onda saia a música de gritos confusos e vários xingamentos.
Sasuke pegou o gravador e o ligou. Abriu a boca para fazer a orientação padrão exigida pela lei, mas Hidan não era paciente.
— Andem logo com isso. — disse ríspido.
Bom, ao que parecia, ficariam em pé.
— Kakuzu comentou com você que estava sendo seguido, ou disse alguma coisa estranha nas semanas antes da sua morte?
Hidan soltou uma risada debochada.
— O filho da puta só falava de dinheiro, me usava na porra dos jogos, enchendo a merda do saco, e mal me agradecia por deixar a poupança dele mais gorda. A vaca da Nora deveria me devolver tudo.
Um tique nervoso tomou o olho esquerdo do Naruto. Sasuke estava dividido entre segurar o provável soco que ele daria no amigo (?) do Kakuzu, ou rir da expressão medonha que ele fazia no momento. Poderia rir, se não fosse um homem maldito xingando uma senhora como a Iayama. Quis então ajudar Naruto a socá-lo.
— Preciso que mantenha o respeito com as pessoas, senhor Dorei. Não queremos que seja preso por injúria, não é mesmo? — Naruto alertou.
Ele bufou, fazendo pouco caso, porém não retrucou.
— A senhorita Iayama Yumi nos disse que Kakuzu fez uma ligação para você antes de sair. Nas palavras dela, ele te disse que se você não fizesse como Hozuki lhe foi dito e que se por sua causa ele perdesse dinheiro, você iria se arrepender. Como foi essa ligação? Do que se tratava? — Sasuke perguntou.
Hidan bocejou entediado.
— Na noite em que ele desapareceu era a vez do poker. A aposta estava acumulada desde a semana anterior aquela, então era muita grana. Ele estava entusiasmado porque eu sou um puta jogador, manjo pra caralho. Na ligação o desgraçado me ameaçou, como sempre, pra não perder o dinheiro dele, nada de novo. Ele sempre faz isso.
Naruto deduziu ser isso, mas era bom verificar.
— Você conhece alguém que poderia ser o assassino? Alguém que o queria morto?
Hidan riu. Ele gargalhou com vontade, chegou a dobrar o corpo e segurar a barriga diante da força da sua risada. Naruto e Sasuke trocaram olhares, o loiro fazendo uma careta impaciente e raivosa, o moreno com a sobrancelha arqueada e um brilho de desprazer nos olhos negros. Alguns minutos, exagerados e irritantes, depois, Dorei parou de rir.
— Kakuzu era uma peste, queria brigar com o que se movesse em sua frente, vivia com cara de cu, parecia não gozar a anos.
— Cuidado com o linguajar, senhor Dorei. — Naruto alertou novamente, seu tom perigoso sugerindo que não toleraria novamente.
Ele deu de ombros, não ligando para o aviso.
Sasuke segurou um suspiro, exausto pela presença desagradável e cansativa.
— Você viu Kakuzu entrar dentro do taxi?
— Eu estava bêbado pra caralho, mas lembro perfeitamente dele entrando no táxi, a gente... — ele parou abruptamente. Os olhos artificialmente vermelhos esquadrinharam a sala como se procurasse por algo. Sasuke olhou ao redor apenas para afirmar que não havia nada ali. O homem estava se esquivando. Naruto não tirou os olhos dele em nenhum momento, capturando todo o comportamento do mesmo. — ... se despediu e ele foi embora.
Não era aquilo que ele ia dizer, o Uzumaki tinha certeza. Mais uma vez um amigo da vítima escondendo algo. Não importa, eles veriam nas gravações o que Hidan deixou de dizer.
— Você tentou falar com ele depois que a senhora Iayama ligou para saber do marido? — Sasuke perguntou.
Eles ainda não tinham encontrado o celular da vítima. Olharam no local do crime, na casa dele, com os amigos e até mesmo com sua mãe. Ou ele esqueceu no bar ou o assassino o levou.
— Liguei pra ele, mas deu desligado imediatamente.
Provavelmente com o assassino, Naruto deduziu.
— O que você sabe sobre ele e Howaito Zetsu? — o loiro perguntou.
Sasuke olhou rapidamente para o parceiro, mas não se pronunciou.
Hidan franziu o cenho.
— O que isso tem a ver com qualquer coisa? Vocês acham que foi ele quem matou o babaca?
Naruto negou: — Apenas queremos saber como era a dinâmica de amizade de vocês.
Hidan bufou.
— A base dessa merda é a droga do interesse. Eu conseguia dinheiro pro Kakuzu e ele pagava a minha cachaça. O merda do Zetsu é um louco carente sem amigos, que dirigi pro Kakuzu sempre que ele quer, como um motorista particular, e em troca o Kakuzu chama ele pra sair com a gente. O Orochimaru tinha algum tipo de trato com o idiota, mas ninguém sabe qual é, e o Kabuto só aparecia por causa do Orochimaru. Não há nada de amizade ali, detetives.
— Mas nos disseram que você era o seu melhor amigo?
A fala do loiro o desestabilizou por alguns instantes, mas Hidan logo endireitou sua postura.
— Eles acham isso porque eu e ele nos conhecemos desde moleques. E é só. — respondeu com uma voz estranha.
Naruto semicerrou os olhos, encarando-o com suspeita. Hidan não olhava de volta, mas sim para o chão. Ele ainda estava tropeçando em sua fala e o Uzumaki queria muito saber o porquê daquele nervosismo. Observou a sala. Havia algumas esculturas estranhas ao redor, umas passagens que pareciam ser de um manuscrito, citavam o mesmo nome: Jashin. Seria um tipo de deus? Em Shinguru havia muitos, mas Naruto nunca ouviu falar desde antes de se mudar. Porém o esquisito era um homem como Hidan cultuar algo – o mais bonito que sairia da boca do homem era provavelmente “porra”, e alguém assim ser religioso era irônico, no mínimo.
Os ombros do Uzumaki caíram e, de repente, ele se sentiu imensamente cansado. Em um só dia precisou lidar com duas pessoas suspeitas, e ainda entrou em um tipo de trama que parecia envolver uma seita, pelo o que viu naquela casa. Precisava da sua banheira, com urgência.
— Obrigada pelas suas respostas, senhor Dorei. — Sasuke falou por ele.
— Tá, tá. Só vão logo embora, porra.
Ambos detetives praticamente correram para fora dali. Hidan bateu a porta atrás deles e a música foi aumentada em seguida. Naruto sentiu que, finalmente, poderia respirar ao se ver longe do lugar. Depois desse dia, o hospital abandonado do início da investigação não parecia tão ruim.
— O que foi isso? — Naruto murmurou para ninguém em específico.
Sasuke, no entanto, respondeu.
— Eu definitivamente não esperava pessoas... assim.
Naruto assentiu em entendimento: — Bizarros.
— Sim.
— Mas de uma coisa eu sei. — o loiro olhou intenso para o parceiro. — Todos os quatro estão escondendo alguma coisa, e algo me diz que essa informação nos apontará a direção ao assassino.
Sasuke ficou quieto por alguns segundos, pensando. Pelo o que percebeu, o quarteto de “amigos”, não pareciam interessados na prisão do responsável pela morte de um deles, nem mesmo estavam abalados com isso. Hidan foi sincero; eles não tinham uma real amizade, era apenas interesses mútuos e benéficos. Contudo, mesmo assim, escondiam algo. O que seria isso?
— Eu vou descobrir. — o loiro ao seu lado resmungou como se lesse seus pensamentos. Ou talvez ele estivesse pensando na mesma coisa. Sasuke não sabia.
No entanto, concordava com o Uzumaki. Se alguém poderia descobrir um jeito de descoser tal trama, esse alguém era Naruto.
— Sim, você vai. 
      


 


*O Zetsu não tem sobrenome no anime Naruto, por tanto, eu usei uma das traduções de branco do Japonês, já que um dos Zetsu é nomeado como Zetsu Branco.

*Hayato Hiroki é um personagem original*

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