XIII - Garotos só querem se divertir

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 XIII

Garotos só querem se divertir



Clube de Striptease Oppai. Kyoki. 06 de Março. 02 a.m.

Escondido na penumbra do beco entre dois pequenos edifícios, situados à alguns metros do clube, observava o pouco que conseguia ver da entrada – para aqueles que estavam na frente do estabelecimento, o vão não era visível. O celular em sua mão enluvada estava quase sem bateria, mas não iria se preocupar com esse fato, pois o que restava seria o suficiente para que continuasse a mandar as mensagens.

Dez minutos de espera depois, se dirigiu para a esquina do beco procurando por sua presa. Praticamente colado na parede do prédio do lado esquerdo, espiou o lado contrário ao seu, onde sabia que estava a saída do clube. Nesse mesmo instante, o alvo saiu pela porta lateral, com passos vacilantes e incertos, vindo em sua direção sem perceber sua presença por estar concentrado no celular; o homem mandou uma mensagem em retorno às suas, o celular vibrando em sua palma com a resposta da sua presa que não fazia ideia que, na verdade, respondia para o seu predador. Voltou a se esconder mais profundo no beco, evitando que o homem o visse, e aguardou que os passos parassem por completo. Escutou atentamente os movimentos do velho, o farfalhar da sua roupa, o barulho dos clics na tela do celular em suas mãos. Felizmente parecia que a distância entre eles era mínima.

Pé ante pé, andou silenciosamente até a esquina do beco, onde partes do corpo do seu alvo estavam perceptíveis; havia se apoiado na parede do prédio direito para se concentrar na tarefa em mãos – sua eficiência dependendo do máximo que a sua mente nublada por álcool e drogas conseguia fazer, o que não era muito. Ao ficar centímetros dele, ainda escondido na escuridão e na mesma parede que o homem, guardou o celular agora desligado no bolso interno da sua capa preta e preparou-se para o ataque. Virou-se, agarrando o colarinho da jaqueta dele com a mão esquerda, e o puxou para o beco, tampando sua boca com a mão direita.

Os olhos castanhos encararam arregalados o homem desconhecido que o abordou. Atordoado com a súbita ação, seu cérebro alcoolizado agitado. Ele mal pode reagir antes de ser puxado pelo beco, do qual não havia percebido a existência até que estivesse nele, e acabou por ser levado com facilidade para o carro estacionado do outro lado dos dois edifícios. Mostrando força o suficiente para ter domínio nas ações do seu corpo entorpecido, o homem de preto o manejou com facilidade para poder abrir a porta atrás do passageiro com rapidez, o jogando com violência no banco e fechando a porta com um baque. Dentro do automóvel, ele se esticou e tateou a porta em procura da maçaneta interna, uma tentativa desesperada para escapar do seu destino, mas quando a encontrou, ela estava travada. Não poderia destrancá-la de onde estava, percebeu. O carro então passou a andar e o terror o dominou, o pouco de consciência que tinha alertando seu corpo da situação preocupante em que se encontrava.

Seu corpo foi sacudido de um lado para o outro no assento com as curvas e as viradas do automóvel. Procurou se sentar, tendo dificuldades para tal; quando o conseguiu, avançou contra o seu sequestrador, suas mão em direção a sua garganta, mas não planejou direito – assim que se aproximou, o seu sequestrador respondeu ao ataque com uma cotovelada em seu rosto, seu nariz quebrando com o duro impacto. O velho homem ficou assombrado pelo golpe ter sido tão certeiro sem que ao menos o outro homem olhasse em sua duração, com a desenvoltura que sugere aulas de luta praticadas a um bom tempo. E o que se seguiu a agressão gelou a espinha da vítima: uma gargalhada que nasceu do fundo da garganta do homem obscuro que se espalhou pelo ar opressivo dentro do carro. O fato do quão espontâneo e contente era o som fez com que esquecesse do seu nariz jorrando sangue e praticamente se jogasse contra a porta, violando a maçaneta travada, tentando a abrir de qualquer jeito. Aquilo era doente. Aquele homem era doente.

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