XXV - Degradação

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XXV

Degradação



O processo de amadurecimento dói. Na benção da ignorância, a tenra idade que não alerta a mente da ruptura que está a caminho do coração. A decepção desavisada então pode ser comparada à uma queda na bicicleta, sua brincadeira preferida; a quebra de confiança, no ápice da dor, parece que você jamais irá se curar.

As fases da vida pelas quais você passa se fixam no polo de desilusões para que você as evite, porém, evitando aquela que você já conhece, você acaba por passar por outra inesperada. A ignorância sai pela janela e ao abrir a porta procurando-a, você abre para os sentimentos que aguardavam ali seu reconhecimento sem pressa: tristeza, alegria, admiração e paixão.

Então vem a fase de transitar entre o amor platônico e a adoração absoluta pelo irmão, misturando um prazer inocente pelas mais efêmeras das coisas, e culpa pelo erro de quem eles são e o que eles representam um para o outro.

Em momentos de plena lucidez, ele sabia que aquela pessoa, cuja presença era o suficiente para seu estado de espírito atingir a euforia, existia somente para protegê-lo, um amor sem qualquer corrupção ou desvio que o tornasse feio. Seu irmão era puro em suas atitudes, nada tinha em comum com a sujidade e degradação que consumia sua alma.

Em sua inexperiência, ele não entendia como evitar confundir gratidão com paixão. E na verdade, não importa. Primeiro porque se fosse amor não poderiam viver nele, segundo que se for admiração, ele estaria ali sendo ainda mais protetor e forte, sua eterna inspiração.

Cabelo opaco e rosto triangular portando olhos azulados gentis. Sorriso com dentes faltosos e pele sem brilho, roupas maltrapilho e calos nas mãos. Mas ninguém nesse mundo era mais belo que ele, seu irmão.

Ele não queria acreditar nos sinais. Ignorou a sombra sob os olhos, o tremor na ponta dos lábios de um sorriso forçado, e, principalmente, as marcas constantes em toda a extensão de pele visível. Talvez se ele não tivesse sido omisso, não ignorante a degradação escancarada a sua frente, talvez as coisas não terminariam assim.

Agora, desde Kakuzu, seu tempo escorre como uma ampulheta. Cada grão de areia é um movimento a mais seguindo em direção do desfecho. Ele não está ansioso para acabar, e, ao mesmo tempo, sente que é difícil esperar por ter deixado o melhor para o final.

Suas ações quase são interligadas ao famigerado "o último, porém não menos importante" o dito popular entre pobres mentes sem imaginação.

A razão do seu maior alvo ser o último é calma provocação contra ele mesmo, jogo psicológico entre o querer e precisar, um teste de paciência e disciplina, um exercício mental de autocontrole em detrimento aos seus maiores anseios.

E, com certeza, a degradação completa daquele filho da puta é seu maior anseio.




Ferrovia Makau. Terceira Linha. Antiga Estação Mônaco. Cidade Satsui.

Satsui é uma pequena cidade no sul de Shinguru, próxima de Satsujin, cidade Natal de Sasuke, estando na primeira entrada depois de Koneky, quando se vem da direção de Kyoki. Está há quatro horas de viagem, podendo ser reduzido a três, dependendo do horário de partida.

Prevendo uma viagem tão longa pela frente, Sasuke não precisou pensar antes de ligar para Naruto e avisá-lo que estaria no apartamento dele para buscá-lo em vinte minutos. Sem perceber, Sasuke não comunicou o porquê de estar ligando ou para qual finalidade. Seu tom certamente exigente brincou com a imaginação de Naruto, apesar dos seus melhores esforços para não deixar sua mente vagar.

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