CAP. 9 - Entre Espelhos

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A arte... A dança... Sim, tudo voltou com apenas um toque daquele lugar.. Céus, eu ainda não havia percebido.. Que estava me tornando parte daquele purgatório, a cada pequeno segundo que se passava, algo ia mudando dentro de mim.

Não era algo ruim até então... Eu sentia a minha alma mais viva, com vontade de usufruir de cada parte daquele mundo.

Quando coloquei o vestido para a próxima cena, foi isso o que senti. Minha alma pertencia aquele lugar agora. E isso me deixava sem relutância alguma, apenas aceitando este fato e me apoderando de tudo o que me era dado pelo próprio mundo.

Era como se a terra e o céu daquele lugar estivessem ao meu favor, eu sentia essa ligação.

Encaro-me em um enorme espelho daquela sala oculta, observando cada detalhe em meu novo vestido, nunca havia visto algo tão belo.

Ele era inteiramente vermelho vinho, lembrando uma taça de sangue escuro, com detalhes brilhantes em seu busto, adornados e bordados cuidadosamente, com mangas caídas dos lados e um pequeno decote coberto ao meio. O resto do vestido estendia-se em uma enorme e volumosa calda vermelha, com detalhes nas pontas que subiam até a sua metade, lembrando grandes gotas de sangue escorrendo até o seu final. As sapatilhas prata avermelhado cromadas de bico fino não deixavam de ser uma excessão.

Eu não estava me importando em não poder fazer movimentos bruscos com o vestido, apenas iria dançar e deixar o ambiente me guiar. Iria usar o seu tamanho ao meu favor.

Novamente estou subindo no palco por uma de suas entradas laterais. As luzes estão apagadas ainda, mas agora já sei aonde fica o seu centro e posiciono-me nele.

Os meus olhos fecham-se, esperando pelo momento. Logo uma luz acima de mim aparece outra vez, agora vejo Jack no meio de todas as cadeiras vermelhas, apenas me encarando.

Me curvo diante a ele, cumprimentando-o ao longe. A música começa após um sinal que Jack faz com a mão. Era um pouco mais agitada, porém ainda assim suave com os sons de violino regendo-me.

Em alguns instantes consigo observar com o canto dos meus olhos o seu olhar vidrado em mim apenas, ele não ousava mover um músculo, parecia que nada mais importava. Apenas nós estávamos ali. E no momento era tudo o que tínhamos.

Meus pés me guiavam, não era como a primeira dança... Agora os meus movimentos eram controlados pela música, como se algo estivesse se conectando a mim... Meu olhos se fecham, apenas escuto a música, o meu corpo já não pertence mais a mim. Pareia um sonho...

Dance... Sinta... minha mente sussurrava.

Mal percebi quando a música cessou. Apenas escutava o meu coração.
Me curvo novamente, agradecendo por esse momento que nunca irei esquecer.

Vejo apenas sendo arremessado ao palco uma pequena rosa negra. Eu abaixo-me e a seguro gentilmente em minhas mãos. Vejo então Jack indo em minha direção, sem falar nada ou esboçar alguma expressão em seu rosto intimidador.

Ficamos frente a frente no palco, o silêncio logo é quebrado.

- Jack... Obrigado pela rosa..

Falo um pouco envergonhada.
Ele sorri largamente, o que me faz sorrir junto a ele.

- Faziam anos... Que eu não observava um espetáculo.

- Você gostou então?..

- Pensei que isso já fosse óbvio.

- Ah.. sim, perdão...

Ele segura o meu rosto cuidadosamente, como se não quisesse me machucar dessa vez, apenas para me olhar melhor. Ainda fico hipnotizada pelos seus olhos.

Jack Risonho - O SacrifícioOnde histórias criam vida. Descubra agora