Octavia

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    Eu teria aula hoje mas fui suspensa, não foi minha culpa. Soltaram os parafusos da minha mesa e então eu cortei o cabelo da garota que comandou.

   São exatamente 4:35h da manhã, ainda está escuro quando coloco um casaco preto com capuz e desço as escadas da casa. Mikhail está dormindo no quarto de Gunnar hoje e isso me dá um passe livre para dar uma escapada sem chamar a atenção.

   Quando chego na porta uma sombra enorme para ao meu lado.

— "Fugindo novamente?" — Fane diz com uma caneca de chá, não julgo seus costumes mas ele parece com um velho.

— "O que está fazendo acordado?" — Tiro o capuz e a mão da maçaneta.

— "Acordo todos os dias essa hora, mas você não, né?" — Ele diz em um tom irônico.

— "Eu preciso desacelerar" — Falo em um resmungo.

— "Já conversamos sobre isso, Tavi." — Ele encosta a cabeça na parede me encarando.

— "Eu tentei na terapia mas isso me deixava mais apática ainda, ok? Eu vou ter cuidado, prometo!" — Levanto um dedinho esperando ele enrolar o seu no meu e finalizar minha promessa.

   Ele enrola seu dedo no meu e me da um abraço, — "Moto ou carro?" — Ele pergunta.

— "Carro, mas não está aqui e então vou de moto até ele." — Sua sobrancelha franze em um ar de questionamento mas ele não diz nada é apenas me entrega a chave.

— "Volte antes das 10h, eu não consigo segurar mais do que isso." — Ele me da um beijo na cabeça e volta para a cozinha onde pega o seu livro.

  Saio da casa e vou até a parte de trás da casa onde fica a garagem das motos. Pego o capacete e a moto mas a levo como uma bicicleta até o portão principal.

    Do lado de fora, subo na moto, coloco o capuz e o capacete por cima. Inclino meu corpo para frente trocando de marcha e acelero o ritmo.

  Acelero o mais rápido que posso, estou em uma reta e sei que menos de 20 centímetros terá uma curva à esquerda, respiro e acelero virando ao ponto de achar que iria cair.

  Assim que viro à esquerda, acelero mais ainda e grito durante a reta. Tudo em mim está aquecido. Quente. Meu sangue corre e pareço que em qualquer momento eu posso carregar o mundo em minhas mãos.

  Estou descendo uma ladeira em uma rua com casas que habitam ricos nojentos. Por um momento penso em fechar meus olhos e sentir a adrenalina tomar conta do meu corpo mas antes de eu fazer isso uma pessoa surge na minha frente.

     Freio rápido demais e a moto derrapa no chão, quando ela está em menor velocidade caio no chão.

   Sinto meu corpo reclamar mas não sinto dor, sinto um prazer que nunca senti antes. Me sinto viva.

— "Você está bem? Você é louco de andar em um bairro familiar desse jeito? Existem crianças aqui, Porra." — Não escuto a primeira frase mas aos poucos minha cabeça vai entendendo e sentindo familiaridade na voz presente.

— "Só pode estar de sacanagem." — Falo tirando o capacete e vejo Dean ajoelhado na minha frente. Sua cara de espanto ao ver que sou eu é hilária.

— "Louca, Hein?" — Rio tombando a minha cabeça para trás, eu estou o que parece ser felicidade, eu quero viver muito mais depois disso.

— "Puta merda, Sparrow" — Ele passa a mão em seu rosto. — "Você podia estar morta e ainda teria morrido na minha frente."

— "Eu não morro, lendas não morrem" — Coloco meu capacete ao meu lado e me encosto na moto caída no chão.

— "Você é impossível!" — Ele ofega, afunda os dedos na minha pele através do moletom.

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