Octávia

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   Acordei com a luz da manhã entrando pela janela, meu coração pulsando forte. Era dia de corrida. Depois de um rápido café da manhã, vesti meu macacão, cada zíper e costura me lembrando do que havia conquistado. No caminho até o circuito, minha mente estava focada, mas uma sensação familiar de ansiedade começou a se misturar à empolgação.

Chegando ao paddock, o barulho dos motores e o cheiro de combustível preenchiam o ar. Meus companheiros de equipe estavam por perto, ajustando os carros e checando os últimos detalhes. — "Você está pronta para a corrida, Octávia?" — perguntou Ed, meu engenheiro.

— "Mais do que nunca. Hoje é o dia," — respondi, tentando manter a confiança na voz.

Enquanto me preparava, ouvi alguns comentários atrás de mim. "Olha lá, mais uma garota tentando correr. Aposto que não aguenta o tranco," disse o engenheiro de uma equipe rival, rindo com os amigos.

Respirei fundo, ignorando as provocações. — "Se eu não aguentasse, não estaria aqui," murmurei para mim mesma.

Na pista, a adrenalina começou a fluir. Assim que a corrida começou, cada curva e reta eram uma dança. Eu me sentia viva. Nas primeiras voltas, consegui ultrapassar um dos pilotos que sempre falava mal de mim. Acho que ele não esperava por isso, pensei, um sorriso se formando em meus lábios.

Mas a cada ultrapassagem, a pressão aumentava. Na volta 15, quando passei por um ponto crítico, escutei uma voz ao rádio: "Cuidado, Octávia. Não é só por ser rica que você está aqui." Era a voz de um comentarista, e a raiva subiu como um incêndio.

— "Claro que sou boa, e não é por ser rica," respondi ao rádio, mantendo a calma. —  "Vou provar isso."

A corrida estava acirrada. Nos últimos minutos, estava em terceiro lugar, com um piloto à minha frente que constantemente minimizava meu talento. "Você não vai conseguir, garota!" gritou ele enquanto eu ia em direção ao meu carro antes da corrida.

A energia da competição queimava dentro de mim. — "Desculpe, mas eu vou passar!" — gritei para minha equipe no rádio, determinada. Com um movimento preciso, consegui a ultrapassagem.

Cruzei a linha de chegada em segundo lugar, o coração aos pulos. O pódio foi uma mistura de euforia e desafio. Assim que o troféu foi colocado em minhas mãos, levantei-o alto.

— "Isso não é só para mim, é para todas as garotas que querem correr," — Pensei, com a certeza de que, no final, o talento falaria mais alto do que qualquer crítica.

Após a corrida, ainda sentindo a adrenalina pulsar, decidi que não ia deixar os comentários machistas passarem em branco. Caminhei até a emissora onde a transmissão estava acontecendo, o troféu ainda brilhando em minhas mãos.

Chegando lá, encontrei a sala de transmissão cheia de repórteres e comentaristas. O ar estava carregado de celebração, mas eu não estava lá para festejar. Encontrei o comentarista que havia feito o comentário sobre minha habilidade. Ele estava cercado por colegas, rindo e conversando.

— "Oi, posso falar com você?" — disse, dirigindo-me diretamente a ele.

Surpreso, ele levantou a sobrancelha. — "Claro, Octávia! Parabéns pela corrida!"

— "Obrigada. Mas vamos falar sobre o que você disse durante a corrida. 'Não é só por ser rica que você está aqui'? O que você quis dizer com isso?"

Os risos se silenciaram e ele hesitou. — "Bem, eu só quis dizer que é um esporte difícil..."

— "Difícil para quem? Você acha que ser mulher diminui minha habilidade? Que eu não mereço estar no pódio?" — A raiva estava transparecendo em minha voz.

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