Dean

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  Eu estava quase chegando na casa de Ivarsen para o jantar de casamento dele e de Finn, parado no sinal meu celular toca.

    A voz ansiosa da minha mãe do outro lado revelando preocupação por onde eu estava é que estava há caminho de casa. Em poucos instantes, a celebração se transforma em um turbilhão de emoções, enquanto sou confrontado com a urgência de uma situação familiar. O coração aperta diante da revelação: meu pai está a caminho da nossa casa, e não é para celebrar, mas para causar estragos.

    O jantar de noivado ainda ecoava na minha mente quando me vi naquela encruzilhada sombria. Minha mãe, com a voz trêmula ao telefone, revelou a presença iminente do meu pai, trazendo consigo a tempestade que eu conhecia muito bem.

  Conseguia ouvir ela pedindo para pessoa que estava com ela acelerar mais rápido o carro.

      Sem hesitar, meu coração bateu mais rápido, não de medo, mas de determinação. Uma lição difícil havia se entranhado em mim ao longo dos anos: eu podia suportar a dor, mas testemunhar a dor dela era insuportável.

    Fiz o retorno mais rápido para casa, os passos apressados até a porta foram impulsionados por algo mais forte do que o medo. Era o instinto de proteger, de enfrentar o que quer que viesse, para que minha mãe não sofresse novamente. Apanhei, não como sinal de fraqueza, mas como um escudo contra a violência que se aproximava.

Caminhei em direção a ele, consciente de que a luta não seria apenas física, mas uma batalha pela segurança, pela paz que tanto merecíamos. O nó na garganta era o eco de uma promessa silenciosa: nunca mais permitiria que ela enfrentasse a escuridão sozinha.

     Assim, no limiar daquele capítulo indesejado, eu abracei a coragem que vinha de um amor inabalável e me preparei para enfrentar o vendaval que se aproximava. Afinal, a força que surge da dor pode moldar-nos em defensores resilientes dos que amamos.

   A sala estava envolta em uma tensão palpável quando meu pai entrou, seus olhos encontrando os meus em um misto de desafio e ressentimento. Não demorou para que a discussão se instalasse como uma tempestade iminente.

— "Você acha que pode simplesmente substituir o seu pai por outro homem?" — Ele grita apontando o dedo para mim.

Eu falo firme. — "Não é sobre substituir, é sobre ela encontrar a felicidade."

  A respiração tornou-se um campo de batalha enquanto trocávamos palavras cortantes, cada sílaba uma centelha alimentando a fogueira do desacordo. Ele se recusava a aceitar que a minha mãe pudesse encontrar alegria em outro abraço que não fosse o dele.

— "Ela me pertence, e você deveria entender isso."

— "Não é sobre posse, é sobre amor. Você teve sua chance, agora é hora de seguir em frente."

   A disputa continuou, palavras se chocando como ondas furiosas. Eu tentava argumentar que a felicidade dela não era uma afronta, mas uma necessidade. Ele persistia, envolto em um orgulho doentio que o impedia de enxergar a realidade.

— "O que é esse circo? Não vou aceitar que sua mãe esteja se envolvendo com outro idiota."

— "Não tem o direito de controlar a vida dela. Ela merece ser feliz, longe de você."

As palavras eram uma barricada contra a agressividade dele, uma tentativa de resistir ao vendaval que se aproximava. A raiva, tóxica e palpável, envolvia a sala, como se o próprio ar estivesse contaminado.

Meu pai gritava, — "Você não tem ideia do que está falando. Ela é minha, e eu não vou permitir que outro cara a toque."

— "Isso não é amor, é posse. E você não vai mais machucá-la."

    A troca de palavras se tornou um campo de batalha, onde cada sílaba era uma flecha lançada na tentativa de romper as correntes da opressão. Mas as sombras de um passado abusivo não cediam facilmente.

       A sala se tornou uma arena de conflito, mas, desta vez, eu estava determinado a desafiar a escuridão que se manifestava. A luta não era apenas pela felicidade da minha mãe, mas pela quebra dos grilhões que mantinham todos nós reféns do passado violento e tóxico.

         A atmosfera explosiva da discussão atingiu seu ápice quando as palavras cederam lugar à violência. A fúria no rosto de meu pai, como uma tempestade descontrolada, manifestou-se em um soco rápido e brutal. O impacto reverberou na sala, e eu senti meu corpo ceder sob o peso da agressão.

Rosnando, — "Você nunca entenderá, seu ingrato!"

A dor pulsante, tanto física quanto emocional, era um eco ensurdecedor da luta que se desenrolava naquele momento. Ele, enraivecido e desesperado, recuou alguns passos, os olhos chamejando de raiva e ressentimento.

   Respirando pesadamente o encaro.
— "Isso não vai mudar nada. Você precisa enfrentar a realidade."

Ele lançou um olhar cheio de rancor, uma mistura de desespero e ira, antes de se afastar abruptamente, deixando para trás a marca física de seu descontrole.

O silêncio na sala era denso, interrompido apenas pelo eco do que acabara de acontecer. Enquanto eu tentava me reerguer, a dor física era uma lembrança constante de uma batalha perdida, mas a determinação de mudar a narrativa permanecia inabalável. A sombra do passado fora encarada, e agora restava lidar com as cicatrizes, tanto visíveis quanto invisíveis.

   No rescaldo do confronto, a porta se abre para revelar uma presença reconfortante. Minha mãe, com olhos cheios de preocupação, entra seguida pelo Senador Grayson, cuja expressão séria denuncia a gravidade do que aconteceu.

Ela se ajoelha ao meu lado passando a mão por meu rosto. — "Meu amor, o que ele fez com você?"

Seu namorado diz firme sentando ao meu lado, — "Vamos cuidar disso, querida. Ele não vai sair impune."

     Minha mãe se aproxima, preocupação estampada em seu rosto, enquanto o Senador Grayson oferece um apoio sólido. Juntos, eles iniciam o processo de cura, não apenas das feridas físicas, mas das cicatrizes emocionais que ameaçam perdurar.

— "Não invente de enfrentar ele sozinho novamente, garoto. Agora, deixe-nos cuidar de você." — O homem que acho que vou chamá-lo de padrasto diz.

    A vulnerabilidade do momento é amenizada pela presença protetora do Senador Grayson. Enquanto minha mãe trata das feridas visíveis, ele se posiciona como um escudo contra as sombras que tentam persistir.

Minha mãe diz gentil, — "Vai ficar tudo bem, meu amor. Estamos aqui para você."

Senador Grayson diz determinado, — "Ninguém mais vai te machucar. Você está seguro agora."

   Enquanto recebo os cuidados compassivos da minha mãe e do Senador Grayson, o meu celular toca no chão e ele pega olhando o visor soltando uma risada.

— "Não é só eu que parece gostar de mulher braba." — Ele me entrega o celular e vejo as mensagens de Octávia me xingando por não ter ido ao jantar e ter deixado ela tendo que lidar com uma pré adolescente tagarela.

— "É a filha dos Torrance, Dean?" — Minha mãe pergunta com um sorriso, — "Eu acho ela tão linda, uma bonequinha de porcelana! Quero conhecê-la no casamento."

— "Mãe, por favor!" — Encosto minha cabeça na parede fechando os olhos.

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