ALICE
Dei os últimos retoques em um vestido de casamento que seria usado somente no civil. Era de cor creme, reto, sobreposto de um casaquinho de renda em um tom um pouco mais fechado. A cliente era uma amiga de minha mãe que depois de uma união de trinta anos seria formalizado. Sempre que eu estava trabalhando conseguia me desligar de tudo e qualquer coisa, mas estranhamente hoje não estava conseguindo.
- Precisa de ajuda, amiga? - Gaby entrou segurando uns portas alianças.
- Já estou finalizando.
- Sentir você um pouco tensa hoje. Aconteceu alguma coisa? - perguntou se sentando ao meu lado.
- Pronto! acabei.
- Então.,
- Realmente hoje estou um pouco inquieta. - tomei um gole de água.
- Jorge? - me fitou intensamente.
Sempre fomos assim. Uma sabia o que a outra estava sentindo. Gaby era muito sensível, atenta ao que acontecia a sua volta. E com ela, eu me sentia muito a vontade.
- Esse silêncio dele está tirando minha paz. Hoje faz dez dias que voltei da Itália e ele não me ligou uma única vez. Entende? - impaciente, me levantei e comecei a arrumar minha bagunça.
- Mas o que exatamente te preocupa?
- Ele não é assim. Com ele tudo é pra ontem, tudo tem que sair como ele quer, do seu jeito. Essa falta de atitude é contra tudo o que conheço dele. - digo desanimada.
- Mas não é bom que ele não te procure? não estou te entendendo. - se levantou também e retirou os tecidos de minhas mãos.
- Na atual situação não sei se isso é bom.
- Deixa isso aí., depois te ajudo. Vamos na copa tomar um café e comer alguma coisa. Não vi você almoçando hoje. - disse enquanto já caminhava na minha frente.
- Vamos, vamos sim. Estou com fome mesmo.
A cozinha ficava no andar de cima. Gaby fez um café, pegou uns sanduíches e alguns biscoitos e nos serviu. Não sabia o tamanho da minha fome até que comecei a comer.
- Agora me fala realmente o que tanto está te atormentando. - Gaby já estava em seu terceiro café.
- É um conjunto de tudo que te falei. Eu não estou conseguindo lê o Jorge. Esse morde e assopra está me confundindo. Não te contei, mas no dia em vim embora, foi entregue para mim um vestido de festa. Não procurei saber, mas sei que foi ele quem mandou. Sem contar que ele me ligava a toda hora.
- Estou te entendo. Para quem estava se mostrando tão insistente, esse afastamento não está fazendo sentido. É isso?
- Exatamente. É isso. Tipo, essa calmaria toda é sinal que um furacão está se aproximando. E devo te confessar que estou um pouco assustada. - digo desanimada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Altar da ilusão
RomanceSó podia ser uma brincadeira do destino., assim pensava Maria Alice ao se ver frente a frente com Jorge Aragão, o homem que a abandonou no dia do seu casamento., deixando-a só e despedaçada entregue a própria sorte, para se casar com outra mulher...