Altar da ilusão

Capítulo - 29

JORGE

Já tinha um bom tempo que eu estava dentro desse carro esperando Mércia chegar em sua casa. Com certeza ela sabia que eu iria atrás dela. Quem ela pensava que era para afrontar minha mulher? Eu fiquei louco quando Ítalo me ligou informando o que tinha acontecido no ateliê. Essa puta ia entender de uma vez por todas o que era se meter no meu casamento. Eu já havia deixado bem claro para ela que não haveria mais nada entre a gente e nem com qualquer outra. Alice é única mulher que eu quero ao meu lado. Só ela importava para mim e que essa insistência não ia acabar bem. Não ia mesmo!

Um tempo depois vejo seu carro entrando na garagem subterrânea do seu prédio. Aguardei mais alguns minutos e saí do carro batendo a porta e me dirigindo a recepção. Subir sem precisar me identificar, pois já me conheciam. Porém hoje setia última vez que isso iria acontecer, que eu iria em sua casa. O elevador abriu e bati na porta. Ela a abriu lentamente como se não estivesse surpresa da minha presença ali. 

- Agora você resolve aparecer. Muito bem! - ela comenta com certo desgosto em sua voz.

- O que eu tenho que fazer para você entender que quero que suma da minha vida e da minha esposa de uma vez por todas? - perguntei parando a sua frente. Notei que seu rosto ainda tinha as marcas dos dedos de Alice.

- Sabe o que é mais engraçado? Esses meses todos você não atendeu uma só ligação minha. Foi impossível falar com o todo poderoso. As ligações não passam de sua secretária, e mesmo naquele dia que o vi no almoço, você agiu como se não pudesse nem chegar perto de mim. Claro, porque  com certeza estava proibido pela sua querida esposa. A mesma que até pouco tempo não queria você por perto. Agora com certeza veio defendê-la. Aquela louca que me agrediu! - ela gritou perdendo pose.

Olhei para ela e ficou claro que ela pensava que eu vivia uma relação platônica com Alice., só podia ser. Ela não fazia ideia de como era minha relação com minha mulher, do nosso passado e nem precisava saber, só dizia respeito a nós dois. Na sua cabeça eu era um prisioneiro da minha esposa, sem saber que na verdade era exatamente isso o que eu queria ser.

- Mas foi só eu irritar um pouquinho a sua esposa mimada, que ela foi correndo contar para você que veio logo dá um jeito. Isso é ridículo! Você é tão previsível quanto ela. Eu só fui atrás dela porque sabia que só assim você apareceria. - só fiquei observando, escutando e vendo até onde ela ia chegar - Que tipo de ameça ela te fez agora? - ela abriu a mão e começou a enumerar - Ignorá-lo, deixá-lo, esnobá-lo, virar uma pedra de gelo e... Ah! Não trepar mais com você. Mas isso ela já faz. Então, com o que ela te ameaçou agora?

Fiquei olhando-a e percebendo como ela leu a verdade, em parte, de forma tão incorreta. Eu sabia muito bem dos meus problemas e eu era inteligente demais para a essa altura deixar alguém me jogar contra Alice. Ainda mais nesse momento.

- Eu quero você longe dela. - disse depois dela expressar sua revolta - E quero agora. Da próxima vez não vou aparecer aqui. Vou tomar outras providências. Se eu tiver que resolver mais alguma de suas armações, você não vai gostar.

- O que vai fazer? Vai me processar? Você é um idiota. Ser um idiota apaixonado não combina com um homem como você, Jorge. E ela fica por aí como se nada a atingisse e você se contentando com migalhas.

Cruzei os braços e fiquei esperando que falasse mais. Ela estava revoltada pelo que havia acontecido e foi bem feito o que Alice fez com ela. 

- Você é cruel, Jorge. Você me fez sentir de um jeito que nem outro homem fez. - disse de uma forma suave, saindo do modo ataque - Mas quem o faz sentir assim? Ninguém. Ela não liga pra você.

Ela e mais ninguém não imaginava que Alice me fazia sentir todos os tipos de emoções. Não sabia que toda vez que ela baixava a guarda e me deixava me aproximar, eu queria qualquer coisa que ela pudesse me dá, quando me olhava com aqueles olhos incríveis, quando sorria, quando me beijava, eu literalmente me tornava seu servo. Sempre foi assim. Mais de uma coisa eu tinha que concordar com Mércia, eu realmente aceitaria mesmo qualquer coisa dela, até mesmo como ela disse, suas migalhas, até isso era melhor do que nada. Ela sempre foi tudo para mim e continuava sendo. Meu sentimento por ela era forte demais para tentar explicar.

- Se você diz que eu fui tão importante para você, então também sabe que eu sou loucamente apaixonado pela minha esposa. Eu respiro aquela mulher. O que sinto por ela não chega nem  perto de ser saudável. É um sentimento que me domina de um jeito que não conseguiria lidar com a falta dela. Eu nunca seria seu. Eu nunca seria de mulher nenhuma que não fosse ela. No momento que ela estalasse os dedos, eu largaria tudo e correria para ela. Eu dedicaria a minha vida toda a tê-la do meu lado. - fiz uma pausa e mantive o olhar nela, fazendo com que me escutasse - Mesmo se eu tivesse disposto a trair a minha esposa, coisa que nunca farei, você não iria querer um homem assim. Nenhuma mulher merece passar por tal humilhação. Encontre alguém que a queira com ao menos metade da intensidade que quero minha mulher. Do contrário não vale a pena. - ela piscou e se afastou, mas acabou se virando.

- E como é sentir tudo isso sozinho?

Há pouco tempo eu teria me machucado ao pensar nisso, mas agora eu sabia que no fundo ela ainda era aquela garota alegre por quem me apaixonei. Só estava escondida por baixo de uma camada de raiva, mágoa e desconfiança. Quando a ferida sarasse, e eu faria de tudo para que isso acontecesse, ela voltaria de vez para mim. Eu tinha certeza dos seus sentimentos. Os nossos sentimentos eram os mesmos.

- Você acha que fazendo isso, ofendendo minha mulher, ficando atrás de mim, estaria me salvando? Muito pelo contrário, me separar dela iria me destruir. Por mais que pense que sou idiota e precise de resgate, faça o que lhe disse. Procure alguém que diria a outra pessoa o que estou lhe dizendo agora. Só que sobre você.

- Quando você pirar e precisar fugir da sua triste realidade ao lado de uma mulher que não te corresponde, eu posso já está ocupada fazendo o que você me aconselhou! Quando você vai enxergar que ela não vale nada?

- Nunca! Pois ela é tudo que nenhuma mulher vai ser nessa vida ou em outra. Então Mércia, suma da minha vida. Esqueça que eu existo, pois para mim você não significa nada.

- Não era isso que dizia tempos atrás, seu desgraçado! - ela gritou descontrolada. 

- Você só era mais uma e sempre soube disso. Nunca dei a entender algo a mais, então não venha se fazer de inocente. - me aproximei dela - E deixe Alice em paz. É meu último aviso.

- Aquela coisinha insignificante. - disse com desdém.

- Mas que deu conta de você. - caminhei em direção a porta e a abrir - O recado está dado.

Ao fechar a porta pude escutar seus vários xingamentos. Não fui ali com a intenção de machucá-la, só queria acabar com isso de vez e me concentrar em reconquistar minha ruiva.

- Escapar de uma mulher insistente é mais difícil do que sair de uma gravata em um treinamento de judô. - falei para o senhor dentro do elevador que não entendeu nada.

Agora eu só queria mesmo era voltar para casa e me resolver com minha esposa. Fiquei com muita raiva ao descobrir que ela havia queimado o vestido e as fotos. Mas agora eu a entendia e agradecia o esforço que ela está se propondo a fazer pela gente., e eu não ia perder essa oportunidade em hipótese alguma.