CAPÍTULO - 01
ALICE
Olhava meu reflexo no espelho e me custava a acreditar que hoje eu iria me unir para sempre ao grande amor da minha vida. Sorri como uma boba para mim mesma, me achando linda, maravilhosa. Dentro de alguns minutos me casaria. Pedi esse momento para mim. Já estava pronta. Na verdade sempre estive pronta, desde o momento que conheci o Jorge. Queria estar deslumbrante para ele. Meu cabelo estava todo preso em um penteado elegante. De joia, usava somente um par de brincos que Jorge havia me dado logo que nos conhecemos. Meu vestido era divino. Tinha corrido como louca para fazê-lo em tão pouco tempo. Era todo branco, ombros nus em decote canoa, o corpete, como a linda saia rodada e esvoaçante, eram cheios de pequenos cristais. Minha melhor obra. Sorrio feliz.
Minha família no início, acharam que eu estava fora do meu juízo ao aceitar me casar com um homem que eu tinha acabado de conhecer. Acredita em amor a primeira vista? Pois foi assim. Quando vi aquele moreno alto, olhos e cabelos negros, entrar na loja em que eu trabalhava, ali eu perdi meu coração.
Jorge acompanhava a irmã, que tinha ido a procura de um vestido para formatura. Ele se apresentou para mim e depois daquele dia não nos desgrudamos mais. E desde então se passaram quatro meses. Eu tinha apenas me formado em moda e trabalhava em uma casa de noivas. Coisa do destino. Com trinta dias de namoro, ele já me pediu em casamento. E eu aceitei. Não podia acreditar que um homem tão lindo como aquele, poderia estar interessado em uma garota tão sem graça como eu. Através dos olhos dele, eu me via de outra forma. Linda. Era assim que eu me sentia. Já não era mais a tímida e ingênua Alice. Em seus braços me tornei mulher. Eu não sabia mensurar o tamanho do meu amor por ele. Era tudo para mim., e eu para ele. Nos completávamos. Nem a nossa diferença de idade era empecilho para o nosso amor. Após o casamento, iríamos passar uns dias em Recife e seguir para a Itália, onde era sua residência oficial, e seria a minha também. Conheceria os seus pais, e por motivo de saúde não viriam para o casamento. Somente Júlia, que viria junto com ele Júlia. Ela passaria uns dias no Brasil e depois nos encontraríamos em seu país, onde seria realizada outra cerimônia para que todos seus parentes pudessem estar presentes.
Jorge era empresário do ramo de hotelaria. Tinha vários hotéis por todo o mundo., e estava ampliando sua rede para o mercado brasileiro.
Me levantei indo até a janela. A cerimônia seria realizada na igreja que sempre frequentamos, aqui na Praia do Morro, em Guarapari. Minha cidade. Deus me presenteava com um dia lindo., com um final de tarde esplendoroso. Tudo seria maravilhoso.
- Alice, - ouço a voz da minha irmã.
- Eu sei, Estela. Já está na hora. Estou pronta! - me viro sorrindo, mas ele logo morre quando vejo sua expressão carregada - O que foi Estela?
- Eu não sei como te dizer isso. - ela torcia as mãos nervosa.
- Jorge! Aconteceu alguma coisa com ele? - perguntei aflita, com o coração apertado.
- Querida...
- Diz logo! - seguro forte suas mãos.
- Ele não vai vir.
- O quê? Como assim?! Ele sofreu algum acidente e você não quer me dizer? É isso? - pergunte já pegando meu celular.
- Se acalme e sente. - ela tira o aparelho da minha mão.
- Eu não quero me sentar., droga! E devolva meu celular. Preciso falar com ele. - digo sentindo meu coração apertado.
- Ele não vai se casar com você. - Nesse momento minha mãe e minha avó entram no quarto.
- Alice querida,
- Ele não vai ser casar com você. - ela repete.
- O que você está falando Estela? Tá louca? - grito histérica.
Eu não podia acreditar. Estela só podia está brincando comigo. Só podia ser isso. Tínhamos nos falado na noite anterior. Essa hora ele já tinha chegado ao Brasil. Não, isso não podia está acontecendo.
- Saiam as duas! Me deixe sozinha com ela. - elas saíram, minha vó trancou a porta e se aproximou.
- Vó, me diga que isso não é verdade... - ela segurou minha mão e nos sentamos na cama. Só então vejo um envelope em sua mão.
- Apenas me ouça. - ela se sentou também.
- Vó, - choramingo, o desespero já me tomando.
- Não chore! Aquele maldito não merece uma só lágrima sua. Infeliz ou felizmente, não sei, seu noivo não virá. Como sua irmã disse, não irá se casar com você.
- Por que? Ele me ama. - falo em um fio de voz.
- Não, não ama! - ela me estendeu o envelope - ele acabou de ligar para seu pai. Disse que se precipitou, estava confuso. Não teve nem a ombridade de vir falar com você pessoalmente. Covarde desgraçado!
- Vou ligar pra ele, deve ter alguma explicação. - ainda me resta a esperança de que tudo isso é um grande engano.
- Não faça isso! Até porque tenho certeza que ele não vai te atender. - ela disse firme - Só aceite que ele não te quer. Te iludiu.
- Mas por quê?
- Porque é um safado. Não leia essa carta se não quiser. Seu pai já deve está conversando com os convidados. Daqui a pouco voltamos para te buscar. - deu um beijo em minha testa e saiu.
Fiquei vários minutos com aquele envelope na mão olhando para o nada, não podendo aceitar essa situação. Enfim abri.
Alice,
Não tenho muito o que dizer. Simplesmente não era para ser.
J.A.
Então era verdade. Era só isso. Eu não merecia nenhuma explicação. Aquele papel parecia queimar minhas mãos, como as lágrimas faziam com meu rosto. Não, isso não estava acontecendo... Depois de muito chorar, respirei fundo e me levantei, entendendo que nunca signifiquei nada para ele. Era somente uma novidade. Virgem e idiota. Amassei o papel e joguei no lixo junto com minhas ilusões. Estela bate na porta e entra.
- Maria Alice, meu amor,
- Não se preocupe comigo. Eu estou bem! Me ajude a tirar essa fantasia de palhaça. - dou as costas para ela e levo minhas mãos as orelhas tirando os brincos.
- O que você vai fazer?
- Vou jogar fora junto com esse vestido ridículo. - ela os toma de minha mão.
- Não quero ver isso pela minha frente.
Um bolo de tecido se forma aos meus pés. Junto com ele, eu me despia também dos meus sonhos. E daquele momento em diante eu jurei para mim mesma, que nunca entregaria meu coração a homem nenhum. Nunca mais!
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Altar da ilusão
RomanceSó podia ser uma brincadeira do destino., assim pensava Maria Alice ao se ver frente a frente com Jorge Aragão, o homem que a abandonou no dia do seu casamento., deixando-a só e despedaçada entregue a própria sorte, para se casar com outra mulher...