ALICE
Mais uma vez aqui estava eu, de frente ao espelho, no dia do meu casamento. Hoje sem aquele deslumbramento inicial com que toda noiva passava. Hoje eu estava ciente do que me esperava, e com certeza, não seria o dia mais feliz da minha vida. Me levantei e fui até a janela. O casamento seria realizada aqui na casa da minha sogra, onde estávamos hospedados à dois dias, desde que chegamos., só iríamos para a casa do Jorge, ou melhor, nossa, somente hoje a noite. Mesmo estando um pouco frio, aconteceria ao ar livre. Já era novembro., um sol tímido iluminava o dia. Lá embaixo, na área dos fundos, já estava tudo organizado para a recepção. Duas mesas, grandes e compridas, de madeira, com um total de quarenta lugares cada uma. E entre elas, mais a frente, uma bem menor, de dois lugares, destinada aos noivos. A decoração, pratos que seriam servidos, tudo, mas tudo mesmo tinha ficado por conta de Júlia. Tipicamente um casamento italiano. A cerimônia aconteceria do outro lado, e ainda não tinha visto como ficou.
- Pronta? - me viro ao som da voz de Estela. Não a tinha visto entrar.
- Sim, eu estou. E papai?
- Já está lá embaixo., aguardando para subir. - ela falou sorrindo timidamente. Lídia estava do seu lado.
- Está linda cunhada.
- Obrigada.
Havia comprado um vestido azul claro, na altura dos joelhos., com um cinto largo na cintura., mangas abaixo dos cotovelos e um decote V chegando a altura dos seios. Meus cabelos estavam presos em uma trança frouxa. De joia, somente uns brincos de pérolas brancas., e uma leve maquiagem.
- Já está tudo pronto, só te aguardando. - Estela tentava me animar.
- Está tudo bem querida? - Lídia tocou delicadamente no meu rosto.
- Estou bem sim. Não se preocupe. Vamos.
Desci as escadas com as duas e meu pai se aproximou. Me olhou meio sem graça, envergonhado. Segurou minhas mãos me fazendo olhar para ele.
- Me perdoe filha.
- Para com isso papai. - o abracei - só quero que cumpra o que me prometeu.
- Eu juro filha, juro.
- É só disso que preciso. Vamos indo, já está na hora.
Saímos pela porta principal e a brisa fresca tocou meu rosto. Devagar fomos nos aproximando do local onde todos já nos aguardava. Cheguei ao pé do corredor de cadeiras brancas ocupadas por nossos parentes e amigos. A maioria dos rostos eram estranhos para mim. Avistei Gaby com seu namorado, Júlia e seu marido, Enzo e Kiara. Fui caminhando lentamente. Logo a frente, meus sogros, Nina com Miguel ao colo, que estendeu seus bracinhos para mim. Enfim, levantei os olhos e na minha frente estava Jorge. Alto, forte, os cabelos esvoaçando em terno de duas peças, cinza bem clarinho, com uma camisa branca por baixo. Apertou a mão do meu pai, pegou a minha e colocou no seu braço. E dali para frente tudo passou como um borrão. Disse sim quando o juiz perguntou se era de livre e espontânea vontade que eu estava ali me casando. A minha vontade naquele momento era completamente irrelevante, mal olhei para Jorge durante toda a cerimônia. Segurou forte minha mão quando deslizou a aliança pelo meu dedo, e fiz o mesmo com ele. Só queria que tudo acabasse logo. Quando fomos declarados casados, ele me puxou para seus braços e me beijou. Nossos lábios não ficaram unidos por muito tempo, pois logo me afastei. Agora não tinha mais volta. Estávamos casados.
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Altar da ilusão
RomansaSó podia ser uma brincadeira do destino., assim pensava Maria Alice ao se ver frente a frente com Jorge Aragão, o homem que a abandonou no dia do seu casamento., deixando-a só e despedaçada entregue a própria sorte, para se casar com outra mulher...