ALICE
Saí do táxi correndo puxando minha mala. Estava encima da hora. Havia recebido orientações do voo e onde me encontrar com Jorge, mas acabei por me atrasar, me sentindo desorientada. Segui por entre a multidão de gente correndo pra cá e pra lá, uma só confusão. Era a segunda vez que vinha nesse aeroporto., e esse de Guarulhos, aqui em São Paulo, era imenso, parecia uma cidade, e essa correira toda devido ao atraso que tive em Vitória. Pedi informação e cheguei as salas vip"s. Conferi o nome e número e entrei. Logo vejo Jorge de costas para mim, com o celular no ouvido. Ele ainda não tinha notado minha presença. A sua figura era imponente, combinando com toda a riqueza ao seu redor. Usava um terno escuro, grafite, perfeitamente ajustado em seus músculos. Enquanto aguardava observei como era grande esse espaço, parecia mais um apartamento, era maior que minha loja. Sofás de couro preto, mesa de reunião, bar com uma infinidade de bebidas. Então ele se vira, ainda conversando ao telefone, e me olha dos pés a cabeça, seu olhar se tornando mais escuro., mas com um pouco de desdém. Dou de ombros., não me vesti para agradar ninguém, então o jeans e o suéter estavam ótimos para mim. Olha o relógio em seu pulso e encerra a ligação.
- Está atrasada. - diz seco.
- Não, eu não estou. - respondo no mesmo tom.
- Não te ensinaram que devemos chegar com antecedência a um compromisso? - parou a minha frente.
- Se tivesse atendido minhas ligações saberia o motivo do meu "atraso" - digo fazendo gesto com os dedos.
- Não quero saber. Onde estão suas bagagens?
- Aqui! - digo apontando para a mala. Ele balançou a cabeça.
- Me dá seu passaporte. Já estamos encima da hora. - ele o pegou de minha mão e saiu andando na minha frente. Precisei correr para alcançá-lo.
E a partir dali foi tudo muito rápido. Jorge falava comigo o mínimo possível. Já no avião, sentamos em poltronas individuais um de frente para o outro. Ele abriu seu notebook e não mais me olhou. E o silêncio continuou durante o jantar. Eu tinha muito o que conversar com ele, precisava saber o motivo dessa viagem repentina, mas sabia que não conseguiria tirar nada dele no momento. E ia ser assim. Ele já não significava mais nada para mim., o único sentimento que me despertava era ódio. Por enquanto não fazia diferença se ele falava comigo ou não. O que teríamos era somente um acordo., e nada mais. Peguei um livro na minha bolsa e tentei me concentrar na leitura. Mas afinal não consegui., minha mente não parava.
Depois que Jorge saiu da minha casa, eu desabei. E foi assim que Estela me encontrou, e logo chorávamos as duas. Mas enfim., isso não ia adiantar de nada., lágrimas não resolveriam meus problemas. Eu estava na chuva e sabia que teria que iria me molhar no meio do caminho. Teria que enfrentar com lucidez toda essa situação, pelo meu bem e de minha família. Não sabia o que viria pela frente, então me entreguei de cabeça ao trabalho. Adiantei toda a produção e o resto deixei nas mãos de Gaby e das costureiras. Conversei bastante com meu pai, junto com mamãe e Estela. Fiz ele prometer que ia procurar ajuda., como sempre tentou se justificar, mas não conseguiu nos dobrar, e ainda levou uma dura da esposa. Não mais tinha falado com Jorge, tudo foi tratado pela sua secretária, Milena, via e-mail. Portanto resolvi encarar de forma "prática", como ele mesmo havia dito, tudo que estava por vir. Afinal adormeci sem nem mesmo ter lido uma só página do livro.
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Altar da ilusão
RomanceSó podia ser uma brincadeira do destino., assim pensava Maria Alice ao se ver frente a frente com Jorge Aragão, o homem que a abandonou no dia do seu casamento., deixando-a só e despedaçada entregue a própria sorte, para se casar com outra mulher...