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O fogo consumia o que havia sobrado, enquanto pingos finos de uma chuva tímida continuam a cair. Finalmente Ji-Hye poderia chorar em quietude sem que lhe afagassem.

Se sentiu como naquela noite, no fim do mês de dezembro, onde a beleza da velha Vegas fica em oculto pelas chuvas que esvaziavam a velha strip.

Por alguns minutos retornou ao sentimento da velha Ji-Hye, com o rosto ferido, e o lábio rasgado, as feridas ardendo pelo rolar de lagrimas.

Um sonho consumido pelo fogo ardente da vingança por algo que não viera dela, um equívoco não esclarecido.

Chamas alaranjadas ainda sobreviviam fracamente em meio a fumaça, o ar que se respirava era denso, causando ardência no fundo da garganta, ao passo que inspirar aquele ar se tornava cada vez mais penoso.

Sentiu o abraço do qual precisou a cinco anos atrás, agora não mais necessário. Hyeon estava ali, mas não quando precisou!

Seguiu pelas ruas, mal conseguindo andar, seus pés descalços e lesionados por uma tortura longa, relembrando em sua mente o rosto de Orazio, aquele jovem que lhe libertou por desencargo de consciência.

Os olhos críticos de quem não lhe queria ajudar, abrindo espaço apavorados com o que seria aquele resto de mulher, vagando de baixo de chuva enquanto seus pés cansados deixavam sua marca ensanguentada na calçada do cassino luxuoso.

Respirando fundo teimando em persistir em buscar Hyeon, alguns minutos de caminhada lhe pareciam longos horas, tão insuportáveis a ponto de fazê-la gritar, a agonia corria por suas veias, diluída em seu sangue, assim como a raiva, que lhe fazia continuar a procurá-lo.

Suspirou recebendo o forte aperto de aflição, não conseguindo assimilar o que Hyeon lhe dizia, presa naquele retrospecto intrusivo.

Ergueu o rosto ao céus, clamando a Deus que lhe lavasse a dor e rancor do peito, recebendo em sua pele a chuva que aumentava gradativamente.

O homem toma o rosto de Ji-Hye entre as mãos, vendo sua angústia, chorando entre soluços, presa em suas memórias.

— Ji-Hye! Olhe para mim.. — pediu tocando seu rosto erguido ao seus céus.

Abriu os olhos após um clamor aflito a Deus, enxergando com clareza Hyeon que a olhava preocupado com o rosto abatido e molhado.

— Tudo ficará bem. Vou me certificar de que nunca mais sinta essa dor, que finalmente seja curada de sua melancolia e que as trevas abandonem seu íntimo! — continua a olhando nos olhos.

O que antes era uma garoa, se trasnformou em uma forte chuva, molhando completamente suas roupas secas. Hyeon não retirou suas mãos esguias de suas bochechas, enquanto Ji-Hye continua encarando os cabelos macios do homem sobre seu rosto arrependido.

Suas mão afastam os cabelos de Hyeon do rosto, fazendo o homem lhe abrir um sorriso torto entristecido. Imaginando o quanto se sentiria destruída em perdê-lo.

— Odeio o quanto tem tentado cuidar de mim, eu odeio tudo em você, em como quer me fazer ficar bem, quando tudo que quero é odiá-lo em solitude. — desabou enquanto era acariciada.

— Eu também te amo — sorriu para ele que retribuiu o sorriso, puxando-o para um abraço apertado e altruístico.

Woozie se sentiu tão enlouquecido que deixou o local, obrigando Yu-mi e Lee-Yeon a adentrar para casa.

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Entrelaçam as mãos enquanto sua roupa encharcada pingava freneticamente sobre o piso do elevador.

— Como se sente? — fitou seu rosto pelo espelho do elevador.

— Sabe.. as vezes eu penso o quão libertador seria perder a memoria, esquecer quem sou, de onde vim, esquecer do que fiz e viver em paz. Sem todos esses demônios rodeando minha existência, sem vingança e sem ter que viver em alerta o tempo todo!

— Suas memórias são valiosas não as despreze assim, la estão sua mãe e seu irmão, seus amigos, Woozie, e os outros.

— Tudo que fiz foi por minha mãe, e no final, perdi ela, por querer lhe dar uma vida digna, algo que era a obrigação daquele velho idiota.

— Velho idiota? — um ponto de interrogação decorou seu rosto avermelhado.

— É! Na verdade não sei a idade dele, me lembro de quando tentei vê-lo escondido de minha mãe, ele tirou do paletó uma cédula de alto valor, e disse a esposa dele que eu era só um pedinte, bagunçou meus cabelos e desejou que Deus me abençoasse.

— Desculpa te dizer mas seu pai era um cretino! — olhou para o homem que deu uma risada nasal.

— Não se preocupe, não falou nenhuma inverdade! — a encarou através do espelho.

— Pensei que ele talvez não soubesse que tinha um filho, mas mudei de ideia quando ouvi a palavra esposa.

— A vida é uma piada de mal gosto, um filme ruim que somos obrigados a participar. A esposa dele era infértil e o único filho que ele teve, abandonou como um saco de lixo. Homens de alto poder aquisitivos usam os pobres, e se casam com mulheres do seu nivel social! Fui consumido em provar a ele de que não precisariamos dele, mas acabei os matando.

— Não foi sua culpa! — apertou sua mão a dele.

— Foi sim! Optei pelo mais fácil, esqueci da regra de sobrevivência, e acabei aprendendo da forma mais difícil.

A porta do elevador se abre, Hyeon encosta seu braço sobre a porta para que a mais nova seguisse para fora, igulando seus passos em seguida.

— E qual seria essa regra? — perguntou com desinteresse.

— Você em primeiro, trabalho depois, e por ultimo seus sentimentos. Se sentimentos podem dominá-lo, significa que é um tolo e merece perder tudo!

— Aprendeu isso depois de ver sua mãe afogada no próprio sangue? — lançou um olhar bravo para o homem que destranca a porta de seu apartamento, mostrando total indiferença.

— Sim. Eu tentei ajudar outros a manterem suas famílias bem, e esqueci de cuidar da minha, e por isso mereci perdê-los, fui um fracote deixando a bondade falar mais alto, quanto mais rápido aprender isso, menos sofrerá!
— cedeu passagem.

— Então continuará sendo o mesmo, aquele Hyeon frio, falso e calculista do cassino Caligula's. — acendeu a luz. — Me deixaria em apuros novamente se necessário, porque está preocupado em salvar seu próprio rabo!

"Corre" pela casa, na busca de uma toalha, enquanto Ji-Hye o seguia.

— Eu o fiz porque se negou a ir comigo para a cidade do México. Tudo que fiz para agradá-la naquele tempo foi verdadeiro. Eu não vou deixá-la, é minha família, assim como Woozie. Eu não vou abandoná-los nem que custe minha vida.

— Em teoria suas palavras são lindas, mas nós dois sabemos que todos aqui estão preocupados em se salvar primeiro! — observou o homem voltar com uma toalha, com ternura envolveu a mulher.

— Vamos mudar o rumo da conversa, não to legal pra conversar agora, na verdade sou uma péssima companhia! — deu um sorriso fraco secando os cabelos molhados da mulher.

Não continuaram o assunto, apenas trocaram "favores", e um silêncio confortável, digerindo com dificuldade tal situação.

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𝐑𝐄𝐃 𝐕𝐄𝐋𝐕𝐄𝐓 (Hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora