Como era de se esperar acabo chegando atrasado e entre balbucios incoerentes e sorrisos constrangidos peço ao garoto que está sentado na primeira fila suas anotações. Ele me encara com um olhar de desconfiança enquanto tiro uma foto de seu caderno.
- Qual é o seu nome? - pergunta, me olhando da sua mesa enquanto devolvo o caderno. - Acho que nunca te vi antes.
É claro que não, penso com obviedade, ninguém me conhece.
- Seungmin - respondo, agradecendo pelo caderno com um sorriso meio tímido diante de sua indiferença.
- Por nada, cara.
O resto das minhas manhãs são gastas em aulas de Metafísica, Filosofia Política, Estética e História da Filosofia III. Uma rotina monótona e repetitiva.
Por volta de uma da tarde eu escapo da faculdade e corro até a lanchonete do campus para vestir um avental marrom fosco e atender aos alunos com perfeita cortesia. É comum vê-los em crise emocional estampada no rosto cansado e olheiras fazendo parte do seu uniforme diário. Felix, o confeiteiro, me cumprimenta com um aceno e um sorriso antes de se apressar em direção aos fornos; Jeongin apenas acena com a cabeça antes de continuar trabalhando no caixa. Eu sou o responsável pelas bebidas.
É um trabalho que ocupo até as oito da noite, exceto às segundas-feiras, quando chego no meio do turno e saio assim que o relógio acima da porta de vidro marca quatro horas.
Hoje é segunda-feira. Me despeço de Felix e Jeongin antes de sair correndo novamente.
Segunda-feira é, de longe, o dia da semana que menos gosto, mas ainda assim anseio por esse momento da tarde. Tenho que correr da lanchonete até a estação de metrô mais próxima e esperar para caber em um espaço mínimo, onde não há leis de privacidade ou consentimento; depois, contar cinco estações, fazer duas transferências e percorrer mais quinze estações para chegar ao prédio azulado com janelas simétricas e quadradas com as letras cinzas na porta que lhe dão o nome: Iki.
Nunca consigo lembrar o nome do lugar, só sei que sempre acabo batendo em uma das portas internas com o número um em azul.
Com o sorriso mais simpático que consigo (o famoso "sorriso profissional", algo que aprendi quando era jovem), vou até a recepção e me inclino diante do balcão familiar onde me vejo todas as segundas-feiras às cinco e meia. A senhora sorri para mim.
- Kim Seungmin, certo?
- Sim - respondo, sorrindo de volta.
Deslizo meu cartão de débito sobre a madeira e ela me faz digitar minha senha em um pequeno teclado antes de passá-lo pelo leitor.
Após alguns segundos, ela balança a cabeça e me devolve o cartão.
- Pode ir direto, hoje você será o último.
Murmuro um agradecimento antes de seguir em direção às escadas.
É emocionante e assustador pisar nesses corredores todas as segundas-feiras. É esperar o inesperado sentado com as pernas cruzadas, porque o inesperado já aconteceu e não consegue se encaixar em uma mente quebrada até que alguém o diga em palavras simples.
Caminhando para a esquerda e contando os mesmos vinte passos de sempre encontro a porta branca aberta, o número um em azul e seu cabelo loiro escuro preso em um coque.
A doutora Yoon analisa meus papéis antes de olhar para cima e me brindar com um sorriso brilhante, inclinando a cabeça em direção à cadeira em frente à sua mesa.
- Entre, Seungmin.
Assentindo, fecho a porta atrás de mim e caminho até a cadeira, sentando-me. Deixo minha mochila no chão entre os pés.
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𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchan
FanficSeungmin, aos vinte e dois anos, com o coração partido, possui dois frascos de comprimidos como seus melhores amigos e faz terapia uma vez por semana. Está no terceiro semestre de Filosofia e Letras, ainda dorme na cama da mãe, e sua vida é permeada...