ׁ ׅ ≀Déka⭒

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O encontro com Chan na sexta-feira termina por volta das duas da manhã de sábado, onde ele me deixou em frente à minha porta com a promessa de me enviar uma mensagem.

Sábado, como de costume, é dia de arrumar a casa durante a manhã toda. À noite, me dedico à leitura dos Textos Filosóficos III, muitas vezes perdurando até às quatro da manhã. Quando disse a Chan que minha parte favorita da minha carreira era criticar, não acredito que estivesse mentindo. A filosofia é uma ciência que apesar de frequentemente me causar dores de cabeça, me proporciona a liberdade de pensar sobre qualquer coisa sem ser julgado, além de me garantir que está tudo bem, que todas as ideias são corretas no contexto em que foram forjadas.

Na noite de sábado, enquanto lia o complexo texto de Immanuel Kant com sua interminável "Crítica da Razão" que quase me leva ao coma de tédio, cheguei a uma grande revelação entre palavras complexas e neologismos.

Todo o livro se resume em podermos separar a razão da experiência, o que podemos chamar de conhecimento a priori, um conhecimento universal em contraposição ao conhecimento condicionado pela aquisição de experiência: a posteriori. Resumindo, li um livro com páginas intermináveis, letra tamanho oito em fonte Times New Roman e espaçamento entre linhas apenas para chegar à conclusão de que seria melhor ter lido um resumo e uma resenha, o que normalmente faço depois.

Quando se entra no campo da Filosofia com um sorriso no primeiro dia de aula, já no segundo você pensa em desistir, pois aparentemente todos os grandes filósofos se contradizem e não chegamos a lugar nenhum. E Schopenhauer - como qualquer outro filósofo - se destaca afirmando que "O mundo se baseia na minha vontade e em minha representação", e então seus argumentos desaparecem e são jogados no ralo enquanto você recebe uma nota baixa como consolo.

A verdade é que o meu ensaio de domingo foi escrito por um Seungmin mal-humorado e com um certo ressentimento em relação a Kant e ao seu culto às palavras, no qual passo contradizendo todas as teorias possíveis que ele propôs. Se essa matéria estivesse relacionada à Gramática e Sintaxe, eu teria reservado um tempo para ler o livro de trás para frente apenas para marcar todos os erros que cometi, pois qualquer ser humano - até mesmo Kant - comete pelo menos um erro ortográfico e eu estaria pronto para sublinhá-lo em vermelho e escrevê-lo três vezes depois de ter dormido às quatro da manhã por sua culpa.

Em negrito, escrevo que não existe razão sem experiência ou crenças (os três conceitos unidos pela lógica) e que essa razão a priori não passa de um acordo universal em que todos concordam em chamar a cor verde de "verde" e depois nomear as árvores como verdes e não roxas. O ser humano nasce sem razão alguma e a adquire mais tarde. Se Kant quiser refutar isso então ele que me espere no meu leito de morte.

Lendo diversos outros livros, decretos, ensaios e quase manifestos na manhã de domingo, chego à seguinte conclusão:

A única coisa que os grandes filósofos têm em comum, entre suas teorias e questões, é a ansiedade, sendo formados com sucesso no departamento de pensamento excessivo. Se meu professor considerar minha afirmação incorreta, jogarei a carta do O mundo se baseia na minha vontade e na minha representação e devolverei minha redação onde escrevi essa frase junto com meus cinco em vermelho. O Seungmin pós-Kant de domingo não é alguém com quem eles gostariam de discutir.

Na segunda-feira com poucas horas de sono entrego minhas redações e espero pelo pior. Descobri que quando alguém está otimista em relação à sua carreira é porque não se ama o suficiente. Depois de sair sem mais pendências na lista me sinto um pouco melhor, menos ressentido. Chan me conta por mensagem que aparentemente está passando por momentos piores esta semana, com provas e projetos do primeiro semestre.

Bang Chan 🏃‍♂️☕️

Entregou o ensaio do seu novo autor favorito, vulgo kant?

𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchanOnde histórias criam vida. Descubra agora