A entrada do parque é imensa, a porta possui esculturas de querubins e o portão é forjado em ferro com decorações góticas extravagantes e supérfluas.
Meus pés agarram o chão, impedindo-me de dar mais passos.
Já faz bastante tempo desde a última vez que atravessei o portão. A culpa parece estar de guarda na entrada, esperando pacientemente pela minha presença.
Essa situação já dura quatro anos.
Passaram-se quatro anos e ainda assim ele continua esperando por mim.
Ele continua vagando por aí usando uma armadura e carregando o chicote que vai estalar nas minhas costas, um sorriso prazeroso estende em seus olhos ao me ver novamente.
A culpa parece nunca desaparecer.
Quando finalmente cruzo o portão, parece que o barulho da cidade fica para trás. É um lugar isolado, onde o vento forte sopra junto à estrada de cascalho a cada passo que dou.
Enquanto passeio, as esculturas de anjos parecem me acompanhar, seus olhos tristes e cansados seguindo cada um dos meus movimentos. Parecem olhar para mim sem acreditar que voltei.
Sinto como se todos soubessem que sou um covarde, como se todos estivessem me julgando e sussurrando uns aos outros que estou de volta por mais inacreditável que isso possa parecer.
Apesar de estar afastado por um tempo, o caminho ainda está claro na minha mente nebulosa. Meus sapatos pretos me distraem de olhar ao redor. Não há tanto espaço como antes. As pessoas estão morrendo rapidamente.
A minha jaqueta não me protege da brisa gelada de dezembro, nem faz qualquer tentativa de me abrigar da neve que cai em pequenos flocos nos meus ombros, derretendo e deixando um beijo na minha pele trêmula.
Eu tento não apressar o passo, nem olhar para cima, desejando que o caminho da vergonha se prolongue por mais alguns minutos evitando o encontro inevitável. Mas quando finalmente chego depois de quinze minutos de caminhada no cascalho, percebo que não estou preparado, que a culpa pairando na entrada enquanto me esperava era uma sensação melhor do que esse peso avassalador.
Não estava pronto para ver minha mãe novamente.
A lápide me encara com um epitáfio zombeteiro, lembrando-me de que, apesar de eu nunca ter retornado, ela permanece ali.
"Neste local jaz Kim Yejin, seu amor reside em nossos corações."
A lápide está danificada e o vaso de flores contém rosas murchas colocadas durante o funeral. As datas são difíceis de ler, obscurecidas pela terra acumulada sobre a pedra.
Apesar da sujeira, o mármore preto brilha em alguns pontos limpos pelo vento.
- ...quer falar sobre isso também? Como você é covarde e nunca a visita? Ou a culpa te corrói por dentro? - minha tia gritou.
E a verdade é que sim, a culpa continua me corroendo.
- ...e lembre-se sempre de que você é livre, Seungmin, e que nada pelo que eles te culpam é realmente culpa sua - a doutora Yoon repetiu em cada sessão, tentando consertar as rachaduras em minha mente antes que eu quebrasse completamente.
A cada consulta eu tentava acreditar nela, fingindo que suas palavras realmente ressoavam em mim.
A verdade é que elas não fizeram isso. Durante as sessões anteriores, ela costumava me perguntar se eu estava pronto para visitar minha mãe novamente, mas eu continuava negando ou ficando em silêncio. A doutora Yoon parou de insistir e decidiu seguir por um caminho menos complicado para ambos.
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𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchan
FanficSeungmin, aos vinte e dois anos, com o coração partido, possui dois frascos de comprimidos como seus melhores amigos e faz terapia uma vez por semana. Está no terceiro semestre de Filosofia e Letras, ainda dorme na cama da mãe, e sua vida é permeada...