ׁ ׅ ≀Pénte⭒

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Uma virtude gigantesca é a paciência.

E é justamente o que me falta para ser sincero.

Na quarta-feira roí as unhas inteiras, e caso conseguisse chegar nas cutículas teria o feito também. Meu pé se agitava freneticamente o tempo todo, como se seu único propósito fosse cavar um buraco no chão. Mordi meus lábios até ficarem vermelhos como cereja e senti o gosto metálico característico do sangue inúmeras vezes. Dormir da quarta-feira até hoje foi quase impossível para mim.

Hoje de manhã pratiquei técnicas de respiração, à tarde troquei dois pedidos na lanchonete e estive perto de derramar três cafés nos clientes. Às quatro horas, com um sorriso bobo, agradeço a Felix por cobrir meu turno, tiro o avental e saio correndo.

Chego em casa às quatro e meia e o verdadeiro tormento começa.

O que devo vestir? Todo o meu guarda-roupa é composto por camisetas pretas, camisetas brancas, moletons em tons pastel, calças e jeans. Nada comprado com a intenção de sair em encontros.

Esvazio o armário em cima da cama e experimento pelo menos dez looks diferentes: camiseta branca e jeans preto é muito chato, calça e camiseta preta são deprimentes, jeans azul e camiseta branca com estampa do Radiohead é muito básico...

Evito olhar para o moletom rosa em cima da mesa por pelo menos uma hora inteira e sequer reparo na outra peça de cor menta.

Decido tomar um banho rápido, e ao sair, faço exatamente o que prometi a mim mesmo que não faria com antecedência. Visto o moletom rosa pastel.

"Está fazendo isso de propósito" me diz a vozinha irritante na minha cabeça.

Não.

Claro que não.

Obviamente não.

"Talvez" digo para mim mesmo, deixando de lado as mentiras que considero terríveis.

Será uma boa hora para comer? É o que penso enquanto arrumo meu cabelo e passo um pouco de gloss nos lábios.

Droga, estou me maquiando. Não faço isso há anos.

É apenas gloss.

E um pouco de sombra nos olhos, nada demais.

Decido deixar de lado a comida, meu estômago está agitado demais pelas emoções para tolerar qualquer grama de alimento.

Então, às cinco em ponto sento na cadeira de balanço da minha mãe, de frente para a porta, com os pés balançando e a unha do polegar implorando por misericórdia.

Sinto-me extasiado.

Uma risada escapa por meus lábios. Estou eufórico, prestes a vomitar.

Estou à beira de um colapso combinado com um pouco de agitação e sorrindo como um idiota.

Não posso culpar minhas emoções nem tentar suprimi-las em uma mala onde não cabem. Estou animado porque é o meu primeiro encontro, meu primeiro momento de pequena felicidade depois de tanto tempo esperando por algo assim. Um garoto com um sorriso encantador me convidou para sair de uma maneira charmosa apesar de eu ter derramado café nele e o insultado de várias maneiras. É o meu primeiro momento de expectativa, de anseio por alguma emoção diferente do sono silencioso e deprimente que se tornou minha vida.

E então eu o ouço.

Uma leve batida na porta que ressoa nas paredes brancas e ocas desta casa, um som agridoce aos meus ouvidos e uma injeção de adrenalina em meu coração.

Caminhando em direção à porta, conto meus passos e ouço as batidas ecoando por todo o meu corpo, com o peito pronto para explodir e os lábios tensos nas laterais. Com a mão trêmula, agarro a maçaneta e destranco, respirando fundo e tentando me acalmar.

𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchanOnde histórias criam vida. Descubra agora