ׁ ׅ ≀Tría ⭒

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Esta manhã é um pouco menos caótica. Na verdade, ainda há resquícios da minha rotina desorganizada e alguns obstáculos que a impedem de ser perfeita, mas pelo menos consegui acordar a tempo para tomar um café – com mais cafeína do que deveria – e comer uma fatia de panqueca que peguei no refeitório. Suponho que isso marque um bom começo.

Desta vez não estou com pressa e chego à faculdade relaxado o suficiente para caminhar enquanto olho meu celular, passando o polegar pelas fotos de gatos que estranhos postam no Twitter.

A esplanada em frente ao prédio está cheia de grupos de amigos esperando pela próxima aula, e tento evitar qualquer pessoa que possa cruzar meu caminho e atrapalhar as próximas duas horas de aula de Estética que me esperam.

Pelo menos esse era o planejado até meu nome ser mencionado em palavras incoerentes à minha esquerda.

– Com licença, você conhece Kim Seungmin?

Minha cabeça se vira automaticamente e lá está ele:

Bang Chan, vestido todo de preto e segurando um moletom rosa pastel no antebraço, causando um contraste ridículo.

Sinto minhas bochechas tensionarem e sei que estou sorrindo de forma boba.

O garoto questionado balança a cabeça e encolhe os ombros, mas Chan já não o olha mais depois de virar a cabeça e encontrar meu olhar. Quero que a gravidade me leve para o mais profundo, para o centro da Terra. Seu sorriso torto está direcionado para mim e seus olhos percorrem todo o meu ser. Graças a qualquer divindade que exista deixei a mancha de pasta de dente na camiseta preta de ontem e não no moletom cor de menta que estou usando hoje.

Com passos determinados ele caminha até mim depois de agradecer por cima do ombro ao garoto que lhe respondeu. Sua caminhada é descontraída e nada no mundo deveria fazer meus joelhos tremerem tão facilmente. Uma voz grita estridente e aguda em minha cabeça: "Ele está vindo em sua direção!" e uma voz mais cínica responde, cansada: "Nós sabemos, idiota". Tento não parecer tão em pânico quanto estou por dentro.

– Você nunca me encontraria assim – digo, meu cérebro supera a luta interna e solta aquele comentário com um sorriso, enquanto tento sufocar meu coração pulando em meu peito. – Não falo com ninguém daqui.

– Mas eu te encontrei, é isso importa – rebate, os cantos dos lábios curvados e os olhos estreitos. Droga, ele não precisava ser tão atraente.

– Por sorte – ergo uma sobrancelha desafiadora e minha língua se apressa em umedecer meus lábios ressecados, mais um gesto de nervosismo.

Chan segue o movimento com os olhos por um milésimo de segundo.

Eu vou morrer, eu vou morrer, droga.

– Chame do que quiser, talvez seja destino, quem sabe? – diz, parando em minha frente a uma distância insegura.

Vou engasgar com minha própria língua se você continuar me olhando assim.

Ele estende o braço e coloca o moletom lavado em minhas mãos, o cheiro completamente distindo de antes invade minhas narinas.

– Obrigado, e também sinto muito pelo que aconteceu ontem – digo, tentando guardar a roupa na mochila.

Quando finalmente guardo e o olho, ele ainda está me observando, suas órbitas fixas nas minhas, e juro por tudo que é sagrado que minhas bochechas devem estar ficando vermelhas como um tomate.

– Você ainda me deve um café – constata, como se eu não soubesse.

Reviro os olhos. O charme definitivamente sumiu.

– E quanto custou? Só para você saber, ainda não recebi meu pagamento da semana de trabalho, então vai ter que esperar até eu ter dinheiro e...

– Você é adorável, acho que sua falta de jeito encantadora – ele me interrompe suavemente.

Meu olhar, que estava vagando de cima a baixo tentando calcular o custo daquele café, volta a cair sobre ele e meu coração retoma um ritmo descomunal. Se eu não estivesse de pé, pensaria que estou tendo uma arritmia cardíaca. Seus olhos suavizam quando se encontram com os meus novamente.

– O quê? – pergunto com uma pitada de descrença no tom, tentando parecer firme embora a tentativa seja patética.

– Estou te convidando para um encontro, Seungmin – ele ri.

E agora, definitivamente, estou tendo um ataque cardíaco.

"Ah" é a única coisa que consigo vocalizar quase num sussurro imperceptível. As conversas ao nosso redor se tornam inaudíveis enquanto meu cérebro entra em curto-circuito, minha língua fica pesada e minhas orelhas parecem prestes a explodir.

Ele está te convidando para sair, seu idiota.

E como você responde a isso? Minha vida amorosa se reduz às novelas que eu assistia às três da tarde quando estava na primeira série do ensino fundamental e aos clássicos que lia no ensino médio, tão desatualizados que não me dão dicas de como responder com algo além de "o prazer é meu" droga, Seungmin, "o prazer é meu"? Ele nem mencionou que seria um prazer sair comigo, então como devo responder? Jane Austen não é exatamente contemporânea.

Sua expressão vai do relaxado e sorridente para o pânico e o desespero quando meu silêncio se estende.

– Tudo bem se você não quiser – ele me interrompe, cortando meus pensamentos com um tom triste, rápido e apressado – Também nem sei se você se interessa por meninos, me desculpe se assumi isso tão rapidamente, sinto muito. Só não queria desperdiçar essa oportunidade que eu...

– Sim – digo antes de pensar, e quando ele fica em silêncio é a minha vez de entrar em desespero – Quero dizer, eu, hum, eu nunca saí com alguém antes, mas eu gosto de você...não! Quero dizer, ah! – corrijo com a língua entre os dentes. – Eu...gostaria de um encontro – sussurro a última parte.

Foi a conversa mais ridícula que já tive até agora porque a falta de jeito, aparentemente, é o nosso charme.

Chan solta um suspiro como se tivesse segurado a respiração durante todo esse tempo. Seus ombros relaxam novamente.

– Tudo bem se eu te buscar? Você poderia me dar seu número e me enviar seu endereço. Apenas se quiser, é claro.

Uma careta divertida se forma em meu rosto porque, minha nossa! Somos tão ridículos.

Entrego meu celular e ele prontamente o pega, digitando seu número e depois ligando para que o meu fique gravado no dele. Quando me devolve não consigo deixar de ver como ele salvou o seu contato e uma risadinha escapa do meu peito.

"Bang Chan" e ao lado do nome há dois emojis: uma pessoa correndo e uma xícara de café. É visualmente explicativo o suficiente.

Eu o encaro e ele me observa alegremente, atento à minha reação.

– O que acha de quinta à noite? Eu sei que é meio incomum, mas quando estivermos lá você entenderá.

Inconscientemente penso que tenho trabalho até as oito, mas imediatamente diminuo a importância disso porque posso pedir a Jeongin ou Felix para cobrirem metade do meu turno. Muitas vezes cobri os seus em momentos passados.

Sorrindo, eu aceno com a cabeça. Chan imita meu gesto.

– Kim Seungmin, nós temos um encontro marcado! –  diz, guardando o celular no bolso após salvar o número – Te vejo daqui a dois dias.

Rapidamente, sem deixar espaço para o próximo passo: ele me dá um beijo casto em minha bochecha rosada em despedida antes de se virar e ir embora de maneira casual.

Eu sufoco um grito que fica preso na minha garganta.

Acho que nem preciso dizer que cheguei atrasado na aula de Estética e passei as duas horas sonhando acordado.

𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchanOnde histórias criam vida. Descubra agora