ׁ ׅ ≀Triánta tría⭒

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Abro os olhos e percebo um formigamento na bochecha que está adormecida. Sinto a brisa fria acariciando meu nariz e tento me aconchegar melhor no cobertor leve.

Pisco duas vezes até que a visão embaçada se dissipe e eu consiga enxergar com clareza.

O sofá de dois lugares em que estou é pequeno demais para mim. O cobertor hospitalar azul é muito fino para me proteger do vento. Tenho que dobrar as pernas para caber nele e meus sapatos foram deixados esquecidos no chão.

As paredes ainda são brancas, o cheiro continua forte e desagradável e os sons são os mesmos de sempre.

Começo a pensar que talvez nunca conseguirei sair desse lugar.

Chan está sentado ao lado da maca, estendendo a mão da cadeira até tocar suavemente minha bochecha. Seus olhos cansados sorriem para mim e ele não para de me acariciar, de me observar.

Na noite passada, enquanto Chan estava dormindo, aproximei a cadeira da maca para segurar sua mão que estava enfaixada.

– Você deveria ter dormido ao meu lado – é a primeira coisa que ele diz, apertando minha bochecha e tocando a ponta do meu nariz.

Suspirando cansado, ajeito minhas costas no encosto tentando aliviar a dor.

– Eu não queria te acordar – digo enquanto me espreguiço.

Chan me encara por alguns momentos, como se estivesse tentando entender algo.

– Você deveria voltar a dormir em casa, esse sofá está horrível – depois de ponderar sobre o assunto, ele comenta.

– Não sugira nada, Chan, eu não vou voltar – pego uma garrafa de água que comprei em uma máquina de venda automática nos corredores do hospital, enquanto procurava um banheiro.

Nenhum de nós voltou a falar, o que me deixou incomodado.

Costumava adorar esses momentos com Chan, pois sua presença tranquila e silenciosa era um refúgio para mim onde eu poderia ir a qualquer hora do dia. Agora não era assim.

Se tratava de um silêncio pesado, cheio de pensamentos profundos, onde ambos estavam tão imersos em suas próprias bolhas que se tornava desconfortável.

– Desculpe – ele sussurra após um tempo, enquanto observa eu colocar a garrafa de plástico vazia em uma mesa lateral.

– Tudo bem.

Ele aperta os lábios.

Seus olhos nunca foram tão brilhantes de culpa, sua expressão de angústia quase imperceptível, seus lábios tensos e avermelhados de tanto serem mordidos e puxados.

Enquanto isso, eu carregava vestígios de traição e tristeza em meu rosto, pois pela primeira vez Chan não disse palavras cuidadosas e corretas para tentar amenizar a situação.

Nós dois estávamos perdidos.

Esticando minha mão, eu puxo a dele novamente, entrelaçando nossos dedos. Me inclino sobre a maca, apoiando minha cabeça nos lençóis brancos e observando-o de lá.

– Não vamos complicar as coisas – digo, juntando nossas mãos e deixando um beijo na parte de trás da mão dele.

Chan continua olhando para mim, como se não pudesse desviar o olhar. Em seguida, com sua outra mão, ele tenta ajeitar meu cabelo.

– Se eu tivesse me apaixonado por você antes de suspeitar, talvez eu tivesse feito, sabe?

Mordendo minha bochecha com força até sentir o gosto metálico, eu me preparo.

𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchanOnde histórias criam vida. Descubra agora