Volto para casa às dez da noite, sentindo o pescoço latejar de dor. A lanchonete fechou às nove e meia, após todos os alunos terem reunido seus pertencentes e se encaminhado para a biblioteca com seus cafés quentes. O dia foi cansativo, mas dessa vez chego em casa com a sensação de estar alimentado pela primeira vez.
Ao abrir a porta e acender a luz da sala, minha atenção é imediatamente capturada por uma carta caída aos meus pés.
Deixo minha mochila e meu casaco de lado, agachando-me para pegar a carta e observá-la com atenção. A mesma exibe um aspecto elegante, contendo um logotipo desconhecido juntamente com meu nome e endereço no verso e um selo vermelho com a palavra "importante". É provável que tenha sido colocada por debaixo da porta.
Franzindo a testa, sinto uma leve curiosidade ao abrir a carta e retirar seu conteúdo, um simples papel branco dobrado três vezes, com data e local no canto superior direito.
"NOTIFICAÇÃO DE DEMANDA.
Prezado senhor Kim Seungmin,
Por meio desta comunicação, gostaríamos de informá-lo a respeito das três visitas realizadas em sua residência, com o intuito de notificá-lo sobre um processo legal. Infelizmente, nenhuma das três ocasiões obteve sucesso. Foram feitas diversas tentativas de contato através de seu celular e telefone fixo residencial, contudo, não obtivemos resposta ou retorno às chamadas.
Diante da ausência de alternativas viáveis, somos obrigados a informá-lo por meio desta correspondência sobre a ação movida pela família Kim, que busca o despejo da propriedade anteriormente pertencente à falecida senhora Kim. Este processo foi levado ao tribunal e prosseguirá.
Lamentamos sermos forçados a apresentar esta reclamação imediatamente devido à falta de resposta por sua parte. Sendo assim, respeitosamente solicitamos que nos forneça uma resposta acerca deste assunto e suas consequências."
O silêncio solene da residência é interrompido pelo ritmo acelerado de minha respiração. As últimas informações fornecidas pelos advogados tornam-se apenas uma mancha de tinta que se misturam às lágrimas, turvando minha visão.
Com a mão trêmula, deixo escapar a folha, que cai no chão. Contudo, abaixo-me para recuperá-la e releio o texto inúmeras vezes.
Uma notificação de demanda...que exige o despejo da propriedade anteriormente pertencente à falecida senhora Kim.
Buscando obter algum controle, tento respirar profundamente e, então, caminho tão firme quanto possível em direção à cadeira.
Três visitas? Chamadas?
Com mãos trêmulas, busco o meu celular e consulto a lista telefônica.
Nenhuma.
O telefone fixo permanece sem linha.
Sinto a pressão familiar se instalando em meu peito, minha garganta apertando.
Eles vão despejar você. Eles vão tirar sua casa.
Não, eles não podem.
Eles vão, Seungmin. Sua tia ainda é casada com um advogado dessa empresa. Eles vão te despejar.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto absorvo as palavras. Desesperado, enrolo o papel em minhas mãos trêmulas e o atiro descuidadamente em algum canto da sala, não me importando se acaba caindo na lata de lixo ao lado ou não.
Vão tirar tudo de você.
Não podem.
O farão.
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𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchan
Fiksi PenggemarSeungmin, aos vinte e dois anos, com o coração partido, possui dois frascos de comprimidos como seus melhores amigos e faz terapia uma vez por semana. Está no terceiro semestre de Filosofia e Letras, ainda dorme na cama da mãe, e sua vida é permeada...