ׁ ׅ ≀Íkosi éna⭒

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É sábado de manhã quando acordo e o relógio ao meu lado marca nove horas.

Fico enrolado nos lençóis até as duas da tarde, apenas olhando para o vazio. Não faço nada além de ficar na cama, olhando para a parede, cochilando brevemente em alguns momentos e ocasionalmente pensando naquele pedaço de papel no canto da sala. À medida que a dor de cabeça se intensifica, minhas pálpebras se fecham novamente e volto a dormir por alguns minutos ou talvez horas, não tenho certeza.

Respirando fundo, mesmo que a vontade seja mínima, finalmente saio da cama quando sei que é hora de fazer a limpeza.

Limpar é uma tarefa cansativa para mim, especialmente quando os mínimos detalhes são o que me impedem de seguir em frente. Limpar significa mover coisas fora do lugar para tirar o pó e levar alguns minutos para voltar a organizá-las perfeitamente.

Quando o sol não brilha tão intensamente no céu, por volta das cinco da tarde, saio para regar o meu pequeno jardim, a última das minhas tarefas domésticas.

Embora regar todas as plantas leve quase uma hora, parece que o tempo para quando estou fazendo isso. É fácil focar na cor das rosas e como ela se intensifica quando borrifadas com água. Minha mente deixa de pensar em assuntos mais sérios e passa a ponderar sobre que fertilizante ou nova planta posso adquirir no futuro. Há momentos em que, saindo da minha névoa de ignorância, me pego cantarolando uma música aleatória e, em outros momentos, me pego analisando frases ou leituras que fiz durante o dia ou na semana. Há algo na jardinagem - talvez seja mágico, não consigo explicar exatamente -, que absorve todas as preocupações e, em troca, me envolve em um limbo de emoções difusas e menos sufocantes. Em alguns dias, as preocupações são eliminadas; em outros, apenas se tornam menos significativas.

Mas é claro que esse efeito nunca dura muito em mim.

Da cozinha, consigo ouvir o toque do meu celular. Desligo a água e, com uma sensação de peso no estômago, vou até onde deixei o aparelho.

Chegando à cozinha e pegando o celular no balcão, reconheço o número. A sensação de peso faz sentido.

Não é um número que eu tenha salvo, na verdade, é um número que deletei há muito tempo, mas que de vez em quando aparece na minha lista de chamadas recebidas ou rejeitadas, nunca com boas intenções.

Você precisa fazer isso, digo a mim mesmo. Meu estômago se revira e minha mão começa a tremer levemente, com vontade de coçar as cutículas ou roer as unhas.

Sem mais delongas, deslizo o dedo pela tela e atendo a chamada.

Respiro fundo antes de levar o celular até o meu ouvido.

- Pensei que não fosse atender - a voz profunda, com um tom zombeteiro, soa do outro lado da linha.

- Acho que não tenho outra opção - respondo, esperando não parecer tão desesperado quanto estou começando a sentir por dentro.

Minha tia solta uma risada cínica. Consigo imaginar sua imagem diante de mim: seu batom vermelho brilhante, seus olhos escuros acentuados com sombras pretas, seu cabelo negro contrastando com a pele pálida e doente. Ela ainda parece a mesma, mesmo depois de todos esses anos sem nos vermos pessoalmente. Sua voz é a única coisa que flutua através do abuso do tabaco.

- Você recebeu meu presente, não foi?

Ela parece tão petulante como sempre, sabendo o poder que suas palavras têm sobre mim.

Um silêncio se instala, minha respiração fica pesada e a dor se mistura com a raiva, turvando minha visão.

- Por quê? - murmuro, uma pergunta que não planejava deixar escapar com um tom de voz miserável, mas estou tão cansado, tão farto.

𝐂𝐎𝐒𝐌!¡𝐂 | chanmin/seungchanOnde histórias criam vida. Descubra agora