Leonardo narrando
Sentado em minha cadeira de couro bufo frustrado.
O dia estava péssimo, recebi a notícia de que estava faltando dinheiro na empresa e a tarde a bomba maior aparece.
Um maldito professor pedófilo, que além de abusar de uma criança com deficiência ainda bate no meu filho.
Respiro fundo para manter a calma e não quebrar nada no escritório.
Meu pequeno estava passando por muitas coisas sem eu saber, isso me fez sentir o pior pai do mundo. Alessandro se disponibilizou para ficar com Lorenzo essa noite, afinal, nem eu e nem Elisa tínhamos psicológico para tal responsabilidade.
A babá das crianças se demonstrou muito preocupada com eles, mesmo eu a tratando tão mal no começo. Elisa já está envolvida emocionalmente com os meus filhos, vi seu olhar de revolta e pura tristeza quando Lorenzo contou o ocorrido, ao mesmo tempo que isso é bom, também é ruim.
Mas isso é preocupação para outro dia, o dia de hoje foi muito estressante. Primeiro lido com esse pedófilo e depois com a babá e as crianças.
Me levanto da cadeira, desligo as luzes e subo as escadas em direção ao meu quarto.
Entro em meu cômodo e tiro as roupas para entrar no banho. Ligo na água quente e deixo a mesma cair sobre meu ombros tensos.
Em meio às lembranças de Lorenzo contando o ocorrido, acabo chorando. Chorando pelo que o meu filho de apenas três anos teve que enfrentar, chorando por ser um péssimo pai e chorando por imaginar o que aquela garotinha passou.
Passo tempo demais no banho, quando saio vejo minha pele um pouco avermelhada.
Me troco e coloco uma calça de moletom, me sento na cama e puxo um livro abandonado da mesa de cabeceira.
Não conseguindo me concentrar na leitura, acabo pensando em como seria amanhã e uma ideia me surge. Levar Elisa para avaliar a Chiara e conversar com os pais.
Elisa é Psicóloga infantil e pode ter uma ideia de como a garotinha está, fora que ela parece ser a mais hábil para dizer tal notícia aos pais. Se ela concordar, óbvio.
Saio do meu quarto e sigo o corredor até a porta da babá. Antes de bater na mesma escuto soluços baixos.
Meu estômago se revirar em preocupação e quando me dei conta já tinha aberto a porta do cômodo.
Procuro Elisa com os olhos pelo quarto escuro e a encontro encolhida debaixo das cobertas.
Me aproximo com cautela e seus soluços ficam mais claros.
Está chorando
Fico sem saber o que fazer, penso em todas as possibilidades.
- Elisa, está bem?- Pergunto me aproximando da mesma.
A mesma se encolhi mais e começa a sussurrar coisas sem sentido.
- Io non vou contar a ninguém...- Diz entre soluços.
- Contar o que?- Pergunto alarmado.
Me aproximo o suficiente de seu rosto para notar com a pequena claridade que vem da porta, que a mesma estava vermelha de tanto chorar.
Não sei o que me deu, apenas me abaixei do tamanho da cama e acariciei seu rosto molhado.
- O que posso fazer para te ajudar Elisa? Non gosto de vê-la assim- Confesso preocupado.
- Ele vai me punir- Resmunga desesperada.
Sem pensar muito eu retiro a coberta de cima da mesma e me coloco ao seu lado abraçando seu corpo trêmulo.
- Non se preocupe, non vou deixar ninguém machucá-la - Sussurro fazendo carinho em suas costas para acalmar a mesma.
Ela ainda chora forte com soluços altos e dolorosos. Ver Elisa daquele jeito estava mexendo com a minha cabeça.
Estava a ponto de perder a noção e fazê-la falar o que está acontecendo e matar quem a ameaçou puni-lá.
Mas não sou um bastardo tão idiota assim, ainda tenho senso.
- Ele me puniu- Fala derrepente.
A encaro sem entender o que diz.
Ela me olha tristemente com os olhos vermelhos.
- Io fui uma Chiara, mas non tive um Lorenzo-
Aquela frase destruiu meu coração.
Sem me importar de estar sem blusa ou com o fato de sermos chefe e funcionária, eu trago seu corpo mais para perto e abraço a mesma.
Ela não recua, muito pelo contrário, Elisa coloca sua cabeça na curvatura do meu pescoço e fica nessa posição.
Eu já sabia que Elisa viveu em um orfanato até ser adotada, mas não sabia sobre esse trauma e agora que eu sei vou fazer de tudo para quem fez isso com ela pague.
Um sentimento protetor toma meu coração, e sinceramente eu não me importo com o mesmo, tudo que me interessa nesse momento é deixar Elisa segura e fazer justiça tanto para ela quanto para Chiara.
Elisa começa a chorar novamente e me sinto totalmente impotente, não posso fazer nada para tirar sua dor ou o trauma do meu filho ou da Chiara.
Só de imaginar a força que ela teve para encarar a situação de hoje e todos os anos suportando as lembranças, me faz ter uma enorme admiração pela babá.
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Mais que uma babá
RomanceElisa Rossi é uma jovem órfã de pai e mãe, que nasceu em Roma na Itália, e viveu em um orfanato até seus 16 anos, quando foi adotada por uma das monitoras do orfanato "Angeli di Santa Lucia" . A mulher de 26 anos é Psicóloga infantil. Se formou a p...